Dizer

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: O [[Ser]] se diz no [[dizer]] que dita ao [[homem]] o [[humano]]. Só pelo ditar do [[sagrado]] é que o [[homem]] em verdade fala, pois então fala a fala da [[linguagem]]. Quando se compreendeu o [[homem]] como "animal racional", ou seja, "animal que fala", já não se ouviu na [[tradução]] da [[sentença]] grega para o latim: "[[dzoion logon echon]]", dentro de um [[paradigma]] da [[lógica]] classificativa, o seu [[sentido originário]]. "Dzoion" não é "animal" nem "logon" é "racional" ou "que fala", como algo predicativo de um [[corpo]] animal, isto é, como uma faculdade entre outras do organismo animal/homem/corpo. O seu [[sentido]] [[originário]] diz: "O [[homem]] é o vigente no [[vigor]] [[originário]] da fala do [[sagrado]]". Uma outra [[tradução]] possível nos diz: "O [[homem]] é o [[vigente]] no ditar [[poético]] do [[sagrado]] da [[vida]]". [[Ditar]] é o [[dizer]] do [[Ser]], ou seja, o [[dizer]] do [[Ser]] no [[ditar]] [[poético]] que funda os [[poetas]] e [[pensadores]]. Por isso, diz Heidegger em ''O que é metafísica?'': "O [[pensador]] diz o [[Ser]], os [[poetas]] nomeiam o [[sagrado]]" (1).
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: O [[Ser]] se diz no [[dizer]] que dita ao [[homem]] o [[humano]]. Só pelo ditar do [[sagrado]] é que o [[homem]] em verdade fala, pois então fala a [[fala]] da [[linguagem]]. Quando se compreendeu o [[homem]] como "animal racional", ou seja, "animal que fala", já não se ouviu na [[tradução]] da [[sentença]] [[grega]] para o [[latim]]: "[[dzoion logon echon]]", dentro de um [[paradigma]] da [[lógica]] classificativa, o seu [[sentido]] [[originário]]. "Dzoion" não é "animal" nem "logon" é "racional" ou "que fala", como algo predicativo de um [[corpo]] animal, isto é, como uma faculdade entre outras do [[organismo]] [[animal]]/[[homem]]/[[corpo]]. O seu [[sentido]] [[originário]] diz: "O [[homem]] é o [[vigente]] no [[vigor]] [[originário]] da [[fala]] do [[sagrado]]". Uma outra [[tradução]] possível nos diz: "O [[homem]] é o [[vigente]] no ditar [[poético]] do [[sagrado]] da [[vida]]". [[Ditar]] é o [[dizer]] do [[Ser]], ou seja, o [[dizer]] do [[Ser]] no [[ditar]] [[poético]] que funda os [[poetas]] e [[pensadores]]. Por isso, diz [[Heidegger]] em '''O que é metafísica?''': "O [[pensador]] diz o [[Ser]], os [[poetas]] nomeiam o [[sagrado]]" (1).
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: (1) HEIDEGGER, Martin. ''O que é metafísica?''.  
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: LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Leitura órfica de uma sentença grega". In: ---. ''Aprendendo a pensar II''. Petrópolis: Vozes, 1972.
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: LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Leitura órfica de uma sentença grega". In: ---. '''Aprendendo a pensar II'''. Petrópolis: Vozes, 1972.
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:Dizer e [[voz]] têm sempre a mesma [[origem]]: a fala do [[sagrado]]. Dizer é o doar-se do sagrado em [[sentido]] e [[mundo]] no vigorar da [[linguagem]]. Neste sentido todo dizer é [[poético]] e [[ético]].
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: [[Dizer]] e [[voz]] têm sempre a mesma [[origem]]: a [[fala]] do [[sagrado]]. [[Dizer]] é o [[doar-se]] do [[sagrado]] em [[sentido]] e [[mundo]] no [[vigorar]] da [[linguagem]]. Neste [[sentido]] todo [[dizer]] é [[poético]] e [[ético]].
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: (1) Cf. ERNOUT E MEILLET. ''Dictionnaire etymologique de la langue latine''. Paris: Éditions Klincksieck, 1979, p. 754.
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: (1) Cf. ERNOUT E MEILLET. '''Dictionnaire etymologique de la langue latine'''. Paris: Éditions Klincksieck, 1979, p. 754.
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "A palavra". In: ----. ''A caminho da Linguagem''. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes. Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 173.
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "A palavra". In: ----. '''A caminho da Linguagem'''. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes. Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 173.
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "A palavra". In: ----. '''A caminho da Linguagem'''. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes. Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 189.

Edição atual tal como 21h44min de 5 de janeiro de 2024

1

O Ser se diz no dizer que dita ao homem o humano. Só pelo ditar do sagrado é que o homem em verdade fala, pois então fala a fala da linguagem. Quando se compreendeu o homem como "animal racional", ou seja, "animal que fala", já não se ouviu na tradução da sentença grega para o latim: "dzoion logon echon", dentro de um paradigma da lógica classificativa, o seu sentido originário. "Dzoion" não é "animal" nem "logon" é "racional" ou "que fala", como algo predicativo de um corpo animal, isto é, como uma faculdade entre outras do organismo animal/homem/corpo. O seu sentido originário diz: "O homem é o vigente no vigor originário da fala do sagrado". Uma outra tradução possível nos diz: "O homem é o vigente no ditar poético do sagrado da vida". Ditar é o dizer do Ser, ou seja, o dizer do Ser no ditar poético que funda os poetas e pensadores. Por isso, diz Heidegger em O que é metafísica?: "O pensador diz o Ser, os poetas nomeiam o sagrado" (1).


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. O que é metafísica?.
Ver também:
LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Leitura órfica de uma sentença grega". In: ---. Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1972.

2

Dizer e voz têm sempre a mesma origem: a fala do sagrado. Dizer é o doar-se do sagrado em sentido e mundo no vigorar da linguagem. Neste sentido todo dizer é poético e ético.


- Manuel Antônio de Castro

3

O que é isto – o dizer? O que é isto – a voz? A palavra latina voz liga-se à raiz indo-européia *wek.*, que indica a emissão de voz com todas as forças religiosas e jurídicas (no sentido do “jus dicere” divino) (1). Daí vem o sentido poético e originário do que é denso, consistente, que perdura, porque provém do sagrado. Sem esta voz não há fala humana, pois não há linguagem nem sentido, não há mundo, não há, enfim, o humano. A voz do poeta, do aedo, é a voz do sagrado. Claro que se entende aí por “forças” o que é portador de sentido, de verdade, de acontecer, de ético, de mundo. São a dynamis e enérgeia aristotélicas.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) Cf. ERNOUT E MEILLET. Dictionnaire etymologique de la langue latine. Paris: Éditions Klincksieck, 1979, p. 754.

4

"A palavra, no modo em que já foi palavra, perdeu-se do antigo lugar em que deuses apareciam. Como já foi a palavra? A proximidade de um deus acontecia na própria saga de um dizer. O dizer era em si mesmo o deixar aparecer do que havia sido contemplado por aqueles que dizem, porque isso já os havia contemplado. Esse olhar trouxe os que dizem e os que escutam para a intimidade infinita da luta entre homens e deuses" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A palavra". In: ----. A caminho da Linguagem. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes. Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 173.

5

"Todo dizer vigoroso remonta a esse mútuo pertencer de dizer e ser, de palavra e coisa. Ambos, poesia e pensamento, são uma extraordinária saga do dizer, quando se responsabilizam pelo mistério da palavra, enquanto o que há de mais digno a se pensar, permanecendo assim articulados na sua afinidade" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A palavra". In: ----. A caminho da Linguagem. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes. Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 189.
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