Época

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:Época é um [[conceito]] e uma [[questão]]. Como conceito reduz a [[obra]] aos seus aspectos formais, seja sob o ponto de vista de [[estilo]], seja sob o ponto de vista do conteúdo. Na sucessão de estilos, a obra é vista enquanto um produto do [[tempo]] [[cronologia|cronológico]] e historiográfico. Porém, a obra, sendo uma questão, se dá como época a partir do que esta palavra significa: retenção, o que se dando se guarda, suspensão. Do quê? Do que na obra opera enquanto no desvelar-se se [[velamento|vela]]. Por isso, a melhor atitude em relação à obra é considerá-la como [[lugar]], onde este diz a abertura do ser humano, como [[entre]], para o ser. A tal abertura ou lugar se dá o nome de [[clareira]]. Época diz sempre clareira. A esse respeito, cabe consultar o que Heidegger diz no ensaio: "A sentença de Anaximandro" (1) para ver como a época se relaciona à [[História]].
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:Época é um [[conceito]] e uma [[questão]]. Como conceito reduz a [[obra]] aos seus aspectos formais, seja sob o ponto de vista de [[estilo]], seja sob o ponto de vista do conteúdo. Na sucessão de estilos, a obra é vista enquanto um produto do [[tempo]] [[cronologia|cronológico]] e historiográfico. Porém, a obra, sendo uma questão, se dá como época a partir do que esta palavra significa: retenção, o que se dando se guarda, suspensão. Do quê? Do que na obra opera enquanto no desvelar-se se [[velamento|vela]]. Por isso, a melhor atitude em relação à obra é considerá-la como [[lugar]], onde este diz a abertura do ser humano, como [[entre]], para o ser. A tal abertura ou lugar se dá o nome de [[clareira]]. Época diz sempre clareira. A esse respeito, cabe consultar o que Heidegger diz no ensaio "A sentença de Anaximandro" (1) para ver como a época se relaciona à [[História]].
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:(1) HEIDEGGER, Martin. "A sentença de Anaximandro". In: ''Pré-socráticos. Col. Os pensadores.'' São Paulo, Abril Cultural, 1978, p. 28.
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:(1) HEIDEGGER, Martin. "A sentença de Anaximandro". In: ''Pré-socráticos'' – Coleção Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 28.
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:"[[História]] do ser significa [[destino]] do [[ser]]. Nessas destinações, tanto o destinar quanto o ser que se destina retêm-se com a manifestação de si mesmos. Em grego, reter-se equivale a ''epoché''. Por isso se fala da época do destino do ser." (1)  Fica bem claro que época, o reter-se, se refere ao que se dando se guarda, isto é, retém-se como o [[velamento|velado]] de [[desvelamento|desvelado]]. Ao se atentar só para a forma dos estilos ou temas, na caracterização e estudo das [[obra|obras]] de [[arte]], o que lhes é essencial não se pensa. Época, em sentido essencial, é sempre destino do ser. Nesse sentido, as obras de arte, como vigência do destino, são sempre [[inaugural|inaugurais]] e só podem ser inaugurais porque justamente elas são epocais, isto é, como destino, não cessam de revelar a [[realidade]] dizendo-a de muitas maneiras. Estas maneiras é que são propriamente os estilos, mas que não têm sua [[fonte]] em si, mas no poder das obras. Nos estilos só enquanto o manifesto nas formas, não se pensa propriamente a ''epoché'', daí a dificuldade de pensar a ''epoché'' sem o dar-se. Por isso afirma Ronaldes de Melo e Souza: "Este acontecimento propriamente histórico-ontológico de um dar que somente dá seu dom e a si mesmo se subtrai é o destinar (''das Schicken'') do evento criptofânico (''das Ereignis''), a que Heidegger reporta o evento epifânico da [[Presença]] (''das Sein'')" (2).
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:"[[História]] do ser significa [[destino]] do [[ser]]. Nessas destinações, tanto o destinar quanto o ser que se destina retêm-se com a manifestação de si mesmos. Em grego, reter-se equivale a ''epoché''. Por isso se fala da época do destino do ser" (1). Fica bem claro que época, o reter-se, se refere ao que se dando se guarda, isto é, retém-se como o [[velamento|velado]] de [[desvelamento|desvelado]]. Ao se atentar só para a forma dos estilos ou temas, na caracterização e estudo das [[obra|obras]] de [[arte]], o que lhes é essencial não se pensa. Época, em sentido essencial, é sempre destino do ser. Nesse sentido, as obras de arte, como vigência do destino, são sempre [[inaugural|inaugurais]] e só podem ser inaugurais porque justamente elas são epocais, isto é, como destino, não cessam de revelar a [[realidade]] dizendo-a de muitas maneiras. Estas maneiras é que são propriamente os estilos, mas que não têm sua [[fonte]] em si, mas no poder das obras. Nos estilos só enquanto o manifesto nas formas, não se pensa propriamente a ''epoché'', daí a dificuldade de pensar a ''epoché'' sem o dar-se. Por isso afirma Ronaldes de Melo e Souza: "Este acontecimento propriamente histórico-ontológico de um dar que somente dá seu dom e a si mesmo se subtrai é o destinar (''das Schicken'') do evento criptofânico (''das Ereignis''), a que Heidegger reporta o evento epifânico da [[Presença]] (''das Sein'')" (2).
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:(1) HEIDEGGER, Martin apud SOUZA, Ronaldes de Melo e. "O saber em memória do ser". In: ''Revista Tempo Brasileiro'', Rio de Janeiro: 95, out.-dez., 1988, p. 14.
:(1) HEIDEGGER, Martin apud SOUZA, Ronaldes de Melo e. "O saber em memória do ser". In: ''Revista Tempo Brasileiro'', Rio de Janeiro: 95, out.-dez., 1988, p. 14.
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:(2) SOUZA, Ronaldes de Melo e. "O saber em memória do ser". In: ''Revista Tempo Brasileiro'', Rio de Janeiro: 95, out.-dez., 1988, p. 14.
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:(2) SOUZA, Ronaldes de Melo e. "O saber em memória do ser". In: ''Revista Tempo Brasileiro'', nº 95. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1988, p. 14.
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:"O [[Ser]] se vela, como [[destino]], ao destinar-se no [[homem]], pois é essencialmente destino. O velamento é o vigor do destinar-se. A época, para Heidegger, expressa o movimento dialético de desvelar-se e velar-se. A compreensão, portanto, das diferentes épocas só é possível através da [[dialética]] que o próprio Ser instaura." (1) "É no destino epocal do Ser que se essencializa a [[história]] dos homens." (2)
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:"O [[Ser]] se vela, como [[destino]], ao destinar-se no [[homem]], pois é essencialmente destino. O velamento é o vigor do destinar-se. A época, para Heidegger, expressa o movimento dialético de desvelar-se e velar-se. A compreensão, portanto, das diferentes épocas só é possível através da [[dialética]] que o próprio Ser instaura" (1). "É no destino epocal do Ser que se essencializa a [[história]] dos homens" (2).
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:"A época é o [[ilimitado]] instituindo [[limite|limites]] e o humano emergindo em sua [[historicidade]]. Por isso, a verdade do [[literário]], o que vale dizer do humano, radica no ser da historicidade." (1)
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:"A época é o [[ilimitado]] instituindo [[limite|limites]] e o humano emergindo em sua [[historicidade]]. Por isso, a verdade do [[literário]], o que vale dizer do humano, radica no ser da historicidade" (1).

Edição de 23h38min de 2 de Novembro de 2009

1

Época é um conceito e uma questão. Como conceito reduz a obra aos seus aspectos formais, seja sob o ponto de vista de estilo, seja sob o ponto de vista do conteúdo. Na sucessão de estilos, a obra é vista enquanto um produto do tempo cronológico e historiográfico. Porém, a obra, sendo uma questão, se dá como época a partir do que esta palavra significa: retenção, o que se dando se guarda, suspensão. Do quê? Do que na obra opera enquanto no desvelar-se se vela. Por isso, a melhor atitude em relação à obra é considerá-la como lugar, onde este diz a abertura do ser humano, como entre, para o ser. A tal abertura ou lugar se dá o nome de clareira. Época diz sempre clareira. A esse respeito, cabe consultar o que Heidegger diz no ensaio "A sentença de Anaximandro" (1) para ver como a época se relaciona à História.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A sentença de Anaximandro". In: Pré-socráticos – Coleção Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 28.


2

"História do ser significa destino do ser. Nessas destinações, tanto o destinar quanto o ser que se destina retêm-se com a manifestação de si mesmos. Em grego, reter-se equivale a epoché. Por isso se fala da época do destino do ser" (1). Fica bem claro que época, o reter-se, se refere ao que se dando se guarda, isto é, retém-se como o velado de desvelado. Ao se atentar só para a forma dos estilos ou temas, na caracterização e estudo das obras de arte, o que lhes é essencial não se pensa. Época, em sentido essencial, é sempre destino do ser. Nesse sentido, as obras de arte, como vigência do destino, são sempre inaugurais e só podem ser inaugurais porque justamente elas são epocais, isto é, como destino, não cessam de revelar a realidade dizendo-a de muitas maneiras. Estas maneiras é que são propriamente os estilos, mas que não têm sua fonte em si, mas no poder das obras. Nos estilos só enquanto o manifesto nas formas, não se pensa propriamente a epoché, daí a dificuldade de pensar a epoché sem o dar-se. Por isso afirma Ronaldes de Melo e Souza: "Este acontecimento propriamente histórico-ontológico de um dar que somente dá seu dom e a si mesmo se subtrai é o destinar (das Schicken) do evento criptofânico (das Ereignis), a que Heidegger reporta o evento epifânico da Presença (das Sein)" (2).


- Manuel Antônio de Castro


Referências:
(1) HEIDEGGER, Martin apud SOUZA, Ronaldes de Melo e. "O saber em memória do ser". In: Revista Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro: 95, out.-dez., 1988, p. 14.
(2) SOUZA, Ronaldes de Melo e. "O saber em memória do ser". In: Revista Tempo Brasileiro, nº 95. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1988, p. 14.


3

"O Ser se vela, como destino, ao destinar-se no homem, pois é essencialmente destino. O velamento é o vigor do destinar-se. A época, para Heidegger, expressa o movimento dialético de desvelar-se e velar-se. A compreensão, portanto, das diferentes épocas só é possível através da dialética que o próprio Ser instaura" (1). "É no destino epocal do Ser que se essencializa a história dos homens" (2).


Referências:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. O acontecer poético - a história literária. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 59.
(2) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 131.


4

"A época é o ilimitado instituindo limites e o humano emergindo em sua historicidade. Por isso, a verdade do literário, o que vale dizer do humano, radica no ser da historicidade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. O acontecer poético - a história literária. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 63.
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