Narcisismo
De Dicionário de Poética e Pensamento
Edição feita às 06h58min de 16 de Outubro de 2017 por Profmanuel (Discussão | contribs)
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- "Pareceu-lhe então, meditativa, que não havia homem ou mulher que por acaso não se tivesse olhado ao espelho e não se surpreendesse consigo próprio. Por uma fração de segundo a pessoa se via como um objeto a ser olhado, o que poderiam chamar de narcisismo mas, já influenciada por Ulisses, ela chamaria de: gosto de ser. Encontrar na figura exterior os ecos da figura interna: ah, então é verdade que eu não imaginei: eu existo" (1). A referência a Narciso nos remete para o mito de Narciso. Vemos por esta referência que mito não diz respeito nem a algo simbólico nem falso e muito menos irreal. É que não podemos nos limitar a considerar meramente o nosso exterior, mas desde o antiquÃssimo mito de Narciso se descobre aquela nossa dimensão muito viva e real do interior e seu abismo sem fundo. Tentar sondá-lo, especulá-lo, como relata o mito é se defrontar com a questão da morte, a triste sorte de Narciso. Descobrir-se existindo é se defrontar com a presença certa da morte, mas agora lida na dimensão do existir. Só morre quem existe. A morte nos projeta, como o mito narra, para além do narcisismo como auto-adoração do eu pelo eu e nos faz mergulhar no mais insondável de nós: o sou do eu.
- Referência:
- (1) LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. 4. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974, p. 1.