Palavra cantada

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 20h42min de 21 de Setembro de 2020 por Profmanuel (Discussão | contribs)

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"Ulisses se dimensiona pelo destino, porque ao mesmo tempo em que pode afirmar o seu querer, deve igualmente negá-lo, pois tem que ficar amarrado, preso, limitado. É nessa duplicidade ambígua de ações que Ulisses pode realizar a Escuta. E ele obedece à orientação de Circe.
Obedecer não é cumprir ordens. É ob-audire, ser todo escuta de vigor desta liberdade (1).
Só por obedecer é que Ulisses se pode libertar para a Escuta. Aparentemente, o importante não são as Sereias, mas a palavra cantada. Na realidade não há separação, as Sereias são a própria palavra cantada. O perigo está na Escuta. É nela que o destino se destina" (2).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar I. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 239.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 173.

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"Diz Ulisses: “Somente eu posso escutar” (verso 160). Por que somente ele pode escutar? Esta escolha o mito narra, mas não explica. E nem precisa. Basta atentar para as ações de Ulisses. E uma coisa fica clara: Não é uma decisão pessoal. O apelo vem de uma força que radica no que há de mais profundo e interior a nós, e que pede uma abertura: a Escuta. Há uma disposição constitutiva do ser humano para ser, mas temos que realizar essa disponibilidade. Certamente cada um de nós deve esperar o seu dia de ser Ulisses e escutar a palavra cantada que encanta, brotando de nosso âmago. Em algum momento, sempre diferente para cada um de nós, haverá o apelo para que nos disponhamos para a Escuta da fala da palavra cantada. Porque, embora os mitos vivam hoje ausentes, ainda assim temos sempre vivo o mítico, que é um apelo para a Escuta do canto das Sereias" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 174.
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