Lógos

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 02h22min de 1 de Novembro de 2013 por Profmanuel (Discussão | contribs)

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"Pois ho lógos nomeia o ser de todo sendo, isto é, de tudo que é e está sendo, mas não aconteceu. Em parte alguma encontramos um vestígio de os gregos terem pensado a essência da linguagem diretamente pela essência do ser. Ao invés, representaram a linguagem foneticamente - e foram os primeiros a fazê-lo - pela fonação, como phoné, como voz e som vocal. A palavra grega que corresponde à palavra 'linguagem' é glossa, língua, em sentido anatômico. Linguagem é phoné semantiké, a fonação que designa alguma coisa. Isto significa: a linguagem tem o caráter fundamental de 'expressão'. Ora, esta representação correta da linguagem, linguagem enquanto expressão, vem de fora mas se tornou, desde então, decisiva. Gostamos de representar todo tipo de expressão como uma espécie de linguagem. A história da arte fala de linguagem das formas. Outrora, porém, no início do pensamento ocidental, a essência da linguagem explodiu, como um relâmpago, na luz do ser; outrora, quanto Heráclito pensou o lógos, como palavra-chave, a fim de, nela, pensar o ser do sendo" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Lógos". In: Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 202.


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"De legein formou-se lógos, cujo sentido originário é linguagem. Somente no vigorar da linguagem é que podem surgir as diferentes línguas. Por isso, podemos dizer que a linguagem é a mãe de todas as línguas" (1). Por ser linguagem, isto é, sentido do ser, logos foi sendo interpretado e traduzido, ao longo de todo percurso ocidental, de muitas maneiras, de acordo com o próprio acontecer da realidade em suas épocas. São significados inclusivos e jamais excludentes. Isso é possível, entre outros motivos, por ser eminentemente um substantivo verbal. A relevância e prioridade do logos acabou deixando esquecido a questão de todas as questões: o sentido e vigorar do ser, em sua verdade e mundo. De alguma maneira, houve um logocentrismo. Mas este pode ser pensado dialeticamente, desde que se retorne ao vigorar do sentido do ser, presente ainda nos denominados pensadores originários.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Revista TB, Rio de Janeiro, 192, jan.-mar., 2013, p. 14.


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Muitos são as traduções de logos na tradição ocidental, todas elas implicando teorias e paradigmas da physis ou realidade, sentido mais usual no português (mas insuficiente). Podemos enumerar alguns: Verbo, Linguagem, Filho de Deus, discurso, razão, língua, causa, fundamento, palavra, sentido, significado, lógica etc. Porém, atendendo a sua ligação substantiva com o verbo legein, podemos dizer que uma das traduções mais completas seja unidade. De alguma maneira esta engloba a maioria das traduções já citadas. É que o verbo legein diz o vigorar do ser em seu pôr, depor, dispor e propor. E a aparente oposição de tais sentidos fica compreensível e necessária porque em todos eles já vigora o dar unidade, na própria tensão necessária, ontológica e dialética com as diferenças.


- Manuel Antônio de Castro
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