Palavra cantada

De Dicionrio de Potica e Pensamento

(Diferença entre revisões)
(1)
(2)
Linha 14: Linha 14:
== 2 ==
== 2 ==
-
: "Diz [[Ulisses]]: “Somente [[eu]] posso [[escutar]]” (verso 160). Por que somente ele pode [[escutar]]? Esta [[escolha]] o [[mito]] narra, mas não explica. E nem precisa. Basta atentar para as [[ações]] de [[Ulisses]]. E uma [[coisa]] fica clara: Não é uma decisão [[pessoal]]. O apelo vem de uma força que radica no que há de mais profundo e [[interior]] a [[nós]], e que pede uma abertura: a [[Escuta]]. Há uma [[disposição]] constitutiva do [[ser humano]] para [[ser]], mas temos que [[realizar]] essa [[disponibilidade]]. Certamente cada um de [[nós]] deve [[esperar]] o seu dia de [[ser]] [[Ulisses]] e [[escutar]] a [[palavra cantada]] que encanta, brotando de nosso âmago. Em algum [[momento]], [[sempre]] [[diferente]] para cada um de [[nós]], haverá o [[apelo]] para que nos disponhamos para a [[Escuta]] da [[fala]] da [[palavra cantada]]. Porque, embora os [[mitos]] vivam hoje ausentes, ainda assim temos sempre vivo o [[mítico]], que é um apelo para a [[Escuta]] do [[canto das Sereias]]" (1).
+
: "Diz [[Ulisses]]: “Somente [[eu]] posso [[escutar]]” (verso 160). Por que somente ele pode [[escutar]]? Esta [[escolha]] o [[mito]] narra, mas não explica. E nem precisa. Basta atentar para as [[ações]] de [[Ulisses]]. E uma [[coisa]] fica clara: Não é uma decisão [[pessoal]]. O apelo vem de uma força que radica no que há de mais profundo e [[interior]] a [[nós]], e que pede uma [[abertura]]: a [[Escuta]]. Há uma [[disposição]] constitutiva do [[ser humano]] para [[ser]], mas temos que [[realizar]] essa [[disponibilidade]]. Certamente cada um de [[nós]] deve [[esperar]] o seu dia de [[ser]] [[Ulisses]] e [[escutar]] a [[palavra cantada]] que encanta, brotando de nosso âmago. Em algum [[momento]], [[sempre]] [[diferente]] para cada um de [[nós]], haverá o [[apelo]] para que nos disponhamos para a [[Escuta]] da [[fala]] da [[palavra cantada]]. Porque, embora os [[mitos]] vivam hoje ausentes, ainda assim temos sempre vivo o [[mítico]], que é um apelo para a [[Escuta]] do [[canto das Sereias]]" (1).

Edição de 20h42min de 21 de Setembro de 2020

1

"Ulisses se dimensiona pelo destino, porque ao mesmo tempo em que pode afirmar o seu querer, deve igualmente negá-lo, pois tem que ficar amarrado, preso, limitado. É nessa duplicidade ambígua de ações que Ulisses pode realizar a Escuta. E ele obedece à orientação de Circe.
Obedecer não é cumprir ordens. É ob-audire, ser todo escuta de vigor desta liberdade (1).
Só por obedecer é que Ulisses se pode libertar para a Escuta. Aparentemente, o importante não são as Sereias, mas a palavra cantada. Na realidade não há separação, as Sereias são a própria palavra cantada. O perigo está na Escuta. É nela que o destino se destina" (2).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar I. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 239.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 173.

2

"Diz Ulisses: “Somente eu posso escutar” (verso 160). Por que somente ele pode escutar? Esta escolha o mito narra, mas não explica. E nem precisa. Basta atentar para as ações de Ulisses. E uma coisa fica clara: Não é uma decisão pessoal. O apelo vem de uma força que radica no que há de mais profundo e interior a nós, e que pede uma abertura: a Escuta. Há uma disposição constitutiva do ser humano para ser, mas temos que realizar essa disponibilidade. Certamente cada um de nós deve esperar o seu dia de ser Ulisses e escutar a palavra cantada que encanta, brotando de nosso âmago. Em algum momento, sempre diferente para cada um de nós, haverá o apelo para que nos disponhamos para a Escuta da fala da palavra cantada. Porque, embora os mitos vivam hoje ausentes, ainda assim temos sempre vivo o mítico, que é um apelo para a Escuta do canto das Sereias" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 174.
Ferramentas pessoais