Travessia
De Dicionrio de Potica e Pensamento
(Diferença entre revisões)
(→6) |
(→2) |
||
Linha 14: | Linha 14: | ||
== 2 == | == 2 == | ||
:Toda escuta do que se é, é travessia. | :Toda escuta do que se é, é travessia. | ||
- | :"Atravessar o aberto do horizonte não deixa de ser o perigo de perder-se no canto do infinito, no [[canto]] e divino do aberto, do indeterminado, no | + | :"Atravessar o aberto do horizonte não deixa de ser o perigo de perder-se no canto do infinito, no [[canto]] doce e divino do aberto, do indeterminado, no aoristo da pura possibilidade" (1). |
:A [[música]] é o mar aberto do tempo onde a travessia é [[escuta]] do que nos atrai, mas que o doce canto e o encanto não nos matém, pois destruiria a travessia. A escuta é a própria travessia: a possibilidade de fazer da [[fala]] do silêncio a eclosão do [[sentido]] do que se é. A travessia é fazer eclodir no cotidiano o extraordinário. Para que não surja o trágico – fim da travessia – é necessário ter bem patente que a travessia é um movimento ambíguo: da fala para o [[silêncio]] e do silêncio para a fala. A palavra cantada é a palavra encantada: a plenificação do sentido do que somos. | :A [[música]] é o mar aberto do tempo onde a travessia é [[escuta]] do que nos atrai, mas que o doce canto e o encanto não nos matém, pois destruiria a travessia. A escuta é a própria travessia: a possibilidade de fazer da [[fala]] do silêncio a eclosão do [[sentido]] do que se é. A travessia é fazer eclodir no cotidiano o extraordinário. Para que não surja o trágico – fim da travessia – é necessário ter bem patente que a travessia é um movimento ambíguo: da fala para o [[silêncio]] e do silêncio para a fala. A palavra cantada é a palavra encantada: a plenificação do sentido do que somos. | ||
Linha 24: | Linha 24: | ||
:(1) SCHUBACK, Márcia Sá C. ''Ensaios de filosofia''. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 173. | :(1) SCHUBACK, Márcia Sá C. ''Ensaios de filosofia''. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 173. | ||
- | |||
== 3 == | == 3 == |
Edição de 00h38min de 25 de Setembro de 2009
1
- Pensei a travessia através da sua etimologia, o que está certo, mas é necessário pensá-la também na tensão lugar X espaço, porque daí surge a questão da coisa e da quadratura. Heidegger trata disto quando diz: "Os espaços abrem-se pelo fato de serem admitidos no habitar do homem. Os mortais são, isso significa: em habitando têm sobre si espaços em razão de sua de-mora junto às coisas e aos lugares... Sempre atravessamos espaços de maneira que já os temos sobre nós ao longo de toda travessia, uma vez que sempre de-moramos junto a lugares próximos e distantes, junto às coisas" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "Construir, habitar, pensar". In: Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 136.
2
- Toda escuta do que se é, é travessia.
- "Atravessar o aberto do horizonte não deixa de ser o perigo de perder-se no canto do infinito, no canto doce e divino do aberto, do indeterminado, no aoristo da pura possibilidade" (1).
- A música é o mar aberto do tempo onde a travessia é escuta do que nos atrai, mas que o doce canto e o encanto não nos matém, pois destruiria a travessia. A escuta é a própria travessia: a possibilidade de fazer da fala do silêncio a eclosão do sentido do que se é. A travessia é fazer eclodir no cotidiano o extraordinário. Para que não surja o trágico – fim da travessia – é necessário ter bem patente que a travessia é um movimento ambíguo: da fala para o silêncio e do silêncio para a fala. A palavra cantada é a palavra encantada: a plenificação do sentido do que somos.
- Referência:
- (1) SCHUBACK, Márcia Sá C. Ensaios de filosofia. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 173.
3
- Na obra de Rosa, o estar em viagem mostra o homem transiente. É uma experienciação poética do tempo e não a viagem-tempo como banal trasitoriedade. A viagem, lida na sequência do enredo, parece algo circuntancial e externo. Mas não é. è sempre uma viagem ao "não-sabido", à interioridade pela qual se dá a reunião de exterior e interior. Isto acontece porque é uma viagem-travessia. Nela, não acontece só a realização transiente do homem, mas também o manifestar-se do real/mundo. A viagem-travessia é propriamente a viagem da viagem, ou seja, acontece na e à terceira margem. Nisso, a obra de arte se dá em Rosa como ironia pela qual a própria obra/linguagem se torna o caminho, a questão, isto é, o questionar.
4
- "No discurso mora sempre uma esperança, a esperança de ser uma ponte entre dois mundos. Toda ponte realiza em seu ser um convite de travessia... Assim não é para chegar que se caminha pelos caminhos do silêncio nas falas. É simplesmente pela alegria de saber o sabor da diferença entre o ser e o nada na aventura criadora do sem-fim" (1).
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O silêncio da fala". In: ______. Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 28.
5
- Trans-verto se articula com caminho e sentido, nisso consistindo a poíesis/ação/sentido. Ora, nesse caminho/travessia se dá e nos é doado, Da-sein. Ser-entre como Hermes/verbo/entre. Por isso, a travessia se dá em três sentidos:
- a) Entre vida-morte;
- b) No entre de vida e morte;
- c) O entre é o entre tanto de vida como de morte.
6
- Toda travessia implica uma transformação ambígua. Assim sendo, os ritos iniciáticos são uma travessia onde o iniciar implica um introduzir não numa outra realidade que se oporia à primeira, mas no dimensionar a realidade na qual já se está lançado pelo que lhe está oculto. E o que sempre se oculta é a morte.
- Iniciar é fazer morrer. Toda travessia se dá na tensão vida-morte, dimensionada na e como experienciação.