Não-poder

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: (1) ANSELMO, Santo. ''Proslógio''. In: ''Os Pensadores''. ''Santo Anselmo'' - ''Abelardo''. São Paulo: Abril Cultural, 2. e., 1979, p. 106.
: (1) ANSELMO, Santo. ''Proslógio''. In: ''Os Pensadores''. ''Santo Anselmo'' - ''Abelardo''. São Paulo: Abril Cultural, 2. e., 1979, p. 106.
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: Quando [[compreendemos]] a [[essência]] do [[não-poder]], a nossa [[compreensão]] da [[figura]] do [[diabo]] nos aparece no que ele [[é]], de fato, ele [[não-é]]. Desse modo, a [[tentação]] tem, no fundo, a [[dúvida]] do [[ser humano]] em resistir ao que se lhe oferece e aparece como [[bom]] e um [[bem]]. Ceder à [[tentação]] é deixar-se [[atrair]] pelo [[não-poder]]. Resistir-lhe é [[afirmar]] o [[ser]] e o seu [[poder]]. Fica [[evidente]] que o [[horizonte]] de todas as [[tentações]], ou seja, do [[diabo]], para o [[ser humano]] se constitui no [[fato]] de sermos [[limitados]] e estarmos sempre querendo ir além dos [[limites]]. Se bem observarmos, o [[limite]] tem para o [[ser humano]] um [[sentido]] [[ambíguo]]: de um lado, temos sempre de [[estar]] ultrapassando nossos [[limites]], pois isso [[é]] [[existir]]; de outro lado, se não [[compreendemos]] [[essencialmente]] o [[sentido]] do [[limite]], podemos cair no [[não-poder]], isto é, no [[não-ser]]. Daí a [[importância]] do [[pensar]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]

Edição atual tal como 22h44min de 21 de Outubro de 2019

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"Mas como poderás ser onipotente se tu não podes tudo? Como poderás ser onipotente desde que não é possível a ti nem morrer, nem mentir, nem fazer com que o verdadeiro se transforme em falso? Salvo se poder fazer coisas desta espécie não é potência, mas verdadeira impotência, pois quem pode fazer coisas assim, tem a possibilidade de fazer, evidentemente, coisas funestas e contrárias ao dever e, quanto mais tiver poder para fazê-las, tanto mais o mal e a perversidade adquirem força sobre ele e tanto menos ele consegue resistir-lhes. Quem tem, portanto, semelhante faculdade não possui o poder, mas o não-poder" (1).
Fica claro que nesta passagem, Santo Anselmo está discutindo os atributos de Deus, horizonte da sua existência, que é a questão central da sua obra Proslógio. Note-se bem que, no fundo, ele está pensando aqui a essência do mal. E torna-se essencial pensar esta questão. O pensamento de Santo Anselmo traz uma grande contribuição para apreendermos a essência do mal. Compreendamos que Deus é Ser e o mal não é. Portanto, fica evidente que o não-poder é o não-ser, é a falta de ser.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) ANSELMO, Santo. Proslógio. In: Os Pensadores. Santo Anselmo - Abelardo. São Paulo: Abril Cultural, 2. e., 1979, p. 106.


2

Quando compreendemos a essência do não-poder, a nossa compreensão da figura do diabo nos aparece no que ele é, de fato, ele não-é. Desse modo, a tentação tem, no fundo, a dúvida do ser humano em resistir ao que se lhe oferece e aparece como bom e um bem. Ceder à tentação é deixar-se atrair pelo não-poder. Resistir-lhe é afirmar o ser e o seu poder. Fica evidente que o horizonte de todas as tentações, ou seja, do diabo, para o ser humano se constitui no fato de sermos limitados e estarmos sempre querendo ir além dos limites. Se bem observarmos, o limite tem para o ser humano um sentido ambíguo: de um lado, temos sempre de estar ultrapassando nossos limites, pois isso é existir; de outro lado, se não compreendemos essencialmente o sentido do limite, podemos cair no não-poder, isto é, no não-ser. Daí a importância do pensar.


- Manuel Antônio de Castro
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