Narrativa
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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Edição de 20h30min de 28 de Abril de 2017
1
- Narrativa: muitas e muitas são as teorias do que seja a narrativa. Porém, ela se funda em algo tão simples quanto complexo, e até diria misterioso: a condição humana e suas vicissitudes. E o grande pensador e narrador que é Guimarães Rosa sintetizou isso de uma maneira genial: travessia. Dizer o que somos enquanto uma travessia de realização é narrar sempre narrativas originais. Narrativa é travessia. A cada ser humano corresponde uma travessia entre o nada criativo e o tudo da plenitude: nisso corresponde a sua narrativa de vida, que só se dá acontecendo, realizando-se concretamente em defrontar-se com tudo o que nos foi dado para ser. Toda narrativa é narrativa de vidas defrontando-se com suas questões, que se tornam o cerne, a essência de todo enredo verdadeiro. Nenhuma narrativa é autêntica se não se fundar no experienciar as questões com as quais temos de nos defrontar em nossas vidas. Se travessia é narrativa, toda narrativa é narrativa de questões.
2
- No poético, as línguas são o rito da linguagem. O mito narrado não é o mito, mas o rito e a língua da linguagem. Também podemos pensar a narrativa como o ritmo de sentido da voz da música. O rito está para o mito, assim como a língua está para a linguagem e a sonoridade para a música. Por isso o poético, toda arte, tem origem mítica. E tanto o mito como a arte radicam no sagrado. Martin Heidegger afirma: "O pensador diz o ser, o poeta nomeia o sagrado" (1) (2).
- (1) HEIDEGGER, Martin. "Que é metafísica? - Posfácio (1943)". In: Heidegger - Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 51.
- (2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do canto das Sereias". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 155.
3
- "A questão narrativa deve ser referenciada às questões e não e jamais às formas, porque estas não passam do que no vigorar da presença implica a instável linha do limite. A forma é uma linha instável porque a realidade, em seu vigorar incessante, em seu mudar irrefutável, não pode jamais ser reduzida a um conceito e/ ou a uma essência abstrata, generalizante. A forma se baseia na concepção da obra como um organismo, um objeto, cuja ação se determina pelo funcionar do sistema ou pela teoria em que se estabelece o que é organismo" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 226.