Mudar
De Dicionário de Poética e Pensamento
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: Embora muitas vezes nos pareça que está [[tudo]] parado, que há somente repetições, o [[autor]] vai justamente afirmar o contrário: há [[sempre]] [[algo]] [[acontecendo]] como [[milagre]]. Que [[milagre]] é esse? O [[milagre]] do [[mudar]] e [[permanecer]]. Estes constituem uma [[dobra]] e não e jamais uma [[dicotomia]]. | : Embora muitas vezes nos pareça que está [[tudo]] parado, que há somente repetições, o [[autor]] vai justamente afirmar o contrário: há [[sempre]] [[algo]] [[acontecendo]] como [[milagre]]. Que [[milagre]] é esse? O [[milagre]] do [[mudar]] e [[permanecer]]. Estes constituem uma [[dobra]] e não e jamais uma [[dicotomia]]. | ||
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]. | : - [[Manuel Antônio de Castro]]. | ||
- | : (1) [[ROSA]], João Guimarães. "O [[espelho]]". In:-----. | + | : (1) [[ROSA]], João Guimarães.''' "O [[espelho]]". In:-----. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1967, p. 71.''' |
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- | : "O [[permanecer]] da [[noite]] é a [[possibilidade]] do [[mudar]] do [[dia]]. O [[mudar]] do [[dia]] é a [[possibilidade]] do [[permanecer]] da [[noite]], porque esta não pode [[permanecer]] sem o [[dia]] [[ser]] [[mudança]]. A [[mudança]] do [[dia]] é a [[permanência]] da [[noite]]. A [[permanência]] da [[noite]] é a [[mudança]] do [[dia]]. Não podemos nunca [[apreender]] e [[aprender]] a [[permanência]] como o que se tornou | + | : "O [[permanecer]] da [[noite]] é a [[possibilidade]] do [[mudar]] do [[dia]]. O [[mudar]] do [[dia]] é a [[possibilidade]] do [[permanecer]] da [[noite]], porque esta não pode [[permanecer]] sem o [[dia]] [[ser]] [[mudança]]. A [[mudança]] do [[dia]] é a [[permanência]] da [[noite]]. A [[permanência]] da [[noite]] é a [[mudança]] do [[dia]]. Não podemos nunca [[apreender]] e [[aprender]] a [[permanência]] como o que se tornou estático. A [[permanência]] não é estática nem [[dinâmica]], porque não é. [[Vigora]]. [[Acontece]]. O [[acontecer]] é o [[vigorar]] que se presenteou em [[sentido]]. O [[sentido]] é a [[vigência]] da [[linguagem]] do [[ser]]. O [[vigorar]] jamais pode tornar-se apenas [[devir]]. [[Ser]] [[devir]] é [[estar]] sendo. O [[ser]] nunca está sendo, só sendo no [[estar]]. Apenas o [[sendo]] pode e deve [[estar]] sendo. O [[sendo]] é o [[estar]] que [[vigora]] no [[permanecer]] e [[mudar]]. Só o [[sendo]] permanece e muda, torna-se, [[é]] [[devir]], [[aparecer]] e desaparecer, parecendo no [[estar]]" (1). |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Passado". In: ------. | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Passado]]". In: ------. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 259.''' |
Edição atual tal como 22h19min de 23 de Dezembro de 2024
1
- O ser humano e a realidade movem-se numa dobra misteriosa: mudam e permanecem. Rosa no maravilhoso conto “O espelho†afirma: “Tudo, aliás, é a ponta de um mistério. Inclusive, os fatos. Ou a ausência deles. Duvida? Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo†(1).
- Embora muitas vezes nos pareça que está tudo parado, que há somente repetições, o autor vai justamente afirmar o contrário: há sempre algo acontecendo como milagre. Que milagre é esse? O milagre do mudar e permanecer. Estes constituem uma dobra e não e jamais uma dicotomia.
- (1) ROSA, João Guimarães. "O espelho". In:-----. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1967, p. 71.
2
- "O permanecer da noite é a possibilidade do mudar do dia. O mudar do dia é a possibilidade do permanecer da noite, porque esta não pode permanecer sem o dia ser mudança. A mudança do dia é a permanência da noite. A permanência da noite é a mudança do dia. Não podemos nunca apreender e aprender a permanência como o que se tornou estático. A permanência não é estática nem dinâmica, porque não é. Vigora. Acontece. O acontecer é o vigorar que se presenteou em sentido. O sentido é a vigência da linguagem do ser. O vigorar jamais pode tornar-se apenas devir. Ser devir é estar sendo. O ser nunca está sendo, só sendo no estar. Apenas o sendo pode e deve estar sendo. O sendo é o estar que vigora no permanecer e mudar. Só o sendo permanece e muda, torna-se, é devir, aparecer e desaparecer, parecendo no estar" (1).
- Referência: