Tradição

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:A palavra tradição vem do verbo latino: ''tra-do / trans-do'', entregar, narrar, transmitir, ou seja, ensinar aquilo que permanece no decorrer do [[tempo]], o assim estabelecido como [[manifestação]] e [[sentido]] da [[realidade]]. A tradição poderia ser pensada em contraposição ao [[circunstancial]], mas, por outro lado, ela não pode ser comfundida com o [[passado]]. Este, cronologicamente, é o que já não é mais [[presente]] nem [[futuro]] (embora vigore na [[unidade]] do [[tempo]]). A tradição que não se confunde com o passado é aquela que tem o vigor do produzir o [[futuro]]. Quando a tradição não tem mais [[vigência]] de futuro é que ela perdeu a força geradora mítica, quando este se transforma em meros [[rito|ritos]] formais. Mas os ritos são importantes como tradição porque na vigência desta constituem a [[identidade]] de uma [[cultura]], de uma [[época]], de um povo, uma [[nação]], enfim, de uma [[pessoa]]. Portanto, na tradição está também sempre presente a [[dialética]] pela qual o [[tempo]] se torna a fonte de toda e qualquer [[diferença]], tomando sempre como [[referência]] a tradição.
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: A [[palavra]] [[tradição]] vem do [[verbo]] [[latino]]: ''tra-do / trans-do'', entregar, [[narrar]], transmitir, ou seja, [[ensinar]] aquilo que permanece no decorrer do [[tempo]], o assim estabelecido como [[manifestação]] e [[sentido]] da [[realidade]]. A [[tradição]] poderia ser pensada em contraposição ao [[circunstancial]], mas, por outro lado, ela não pode ser confundida com o [[passado]]. Este, cronologicamente, é o que já não é mais [[presente]] nem [[futuro]] (embora vigore na [[unidade]] do [[tempo]]). A [[tradição]], que não se confunde com o [[passado]], é aquela que tem o [[vigor]] de [[produzir]] o [[futuro]]. Quando a [[tradição]] não tem mais [[vigência]] de [[futuro]] é que ela perdeu a força geradora [[mítica]], quando este se transforma em meros [[rito|ritos]] [[formais]]. Mas os [[ritos]] são importantes como [[tradição]] porque na [[vigência]] desta constituem a [[identidade]] de uma [[cultura]], de uma [[época]], de um [[povo]], de uma [[nação]], enfim, de uma [[pessoa]]. Portanto, na [[tradição]] está também [[sempre]] presente a [[dialética]] pela qual o [[tempo]] se torna a [[fonte]] de toda e qualquer [[diferença]], tomando [[sempre]] como [[referência]] a [[tradição]].
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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:"... tradição não é [[substância]] de [[conhecimentos]] ou de relatos, mas é o caráter mais intrínseco da nossa [[historicidade]]. Através dela, a nossa própria determinação é levada sobre nós e, através dela, somos lançados no [[futuro]]. Neste lance aquilo que está sendo vem ao nosso encontro a partir do futuro. Por isso, nós designamos este acontecer como o "futuro". Ele não vem ao nosso encontro sem mais nem menos, mas só quando nós estamos em condições de seguir a tradição, de assumi-la, em vez de nos perdermos e desperdiçarmos nas ocupações do atual" (1).
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: "... [[tradição]] não é [[substância]] de [[conhecimentos]] ou de relatos, mas é o caráter mais intrínseco da nossa [[historicidade]]. Através dela, a nossa própria determinação é levada sobre nós e, através dela, somos lançados no [[futuro]]. Neste lance, aquilo que está sendo vem ao nosso encontro a partir do [[futuro]]. Por isso, nós designamos este [[acontecer]] como o "[[futuro]]". Ele não vem ao nosso encontro sem mais nem menos, mas só quando nós estamos em condições de seguir a [[tradição]], de assumi-la, em vez de nos perdermos e desperdiçarmos nas ocupações do atual" (1).
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:HEIDEGGER, Martin. ''Lógica''. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2008, p. 186.
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: HEIDEGGER, Martin. '''Lógica'''. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2008, p. 186.
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: "Para [[Heidegger]], a [[língua]] é, em primeira e última instância, [[memória]] e, portanto, [[tradição]]" (1).
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:“[...] significado daquilo que se diz sempre [[inaugural|inauguralmente]], rompendo o [[conceito]] de fato do [[passado]] transmitido a uma possível próxima geração, uma vez que na própria palavra 'tradição' encontramos aromas de travessia: ''trans-dicere''” (1).
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:(1) PESSANHA, Fábio Santana. ''A hermenêutica do mar – Um estudo sobre a poética de Virgílio de Lemos''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2013, p. 132.
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: (1) SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante. "Para que língua se traduz o Ocidente". In: '''O que nos faz pensar'''. Cadernos do Departamento de Filosofia da PUC-RIO, out. de 1996, p. 97, p. 65.
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: "Para Heidegger, a [[língua]] é, em primeira e última instância, [[memória]] e, portanto, tradição" (1).
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: "[[Traduzir]] a [[tradição]] significa conduzir a [[tradição]] para além de seus dados e retorná-la à sua [[fonte]], ao movimento de sua constituição. Não se trata de destruir a [[tradição]], no sentido de uma Revolução Cultural. Trata-se de desfazer as suas construções, de remover as suas pedras e alcançar as suas fundações" (1).
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: (1) SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante. "Para que língua se traduz o Ocidente". In: ''O que nos faz pensar''.Cadernos do Departamento de Filosofia da PUC-RIO, out. de 1996, p. 97, p. 65.
 
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: (1) SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante. "Para que língua se traduz o Ocidente". In: '''O que nos faz pensar'''. Cadernos do Departamento de Filosofia da PUC-RIO, out. de 1996, p. 97, 66.
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:"[[Traduzir]] a tradição significa conduzir a tradição para além de seus dados e retorná-la à sua [[fonte]], ao movimento de sua constituição. Não se trata de destruir a tradição, no sentido de uma Revolução Cultural. Trata-se de desfazer as suas construções, de remover as suas pedras e alcançar as suas fundações" (1).
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: "Que quer que [[pensemos]] e qualquer que seja a maneira como procuramos [[pensar]], [[sempre]] nos movimentamos no âmbito da [[tradição]]. Ela impera quando nos liberta do [[pensamento]] que olha para trás e nos libera para um [[pensamento]] do [[futuro]], que não é mais planificação. Mas somente se nos voltamos [[pensando]] para o já [[pensado]], seremos convocados para o que ainda está para [[ser]] [[pensado]]" (1).
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: (1) SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante. "Para que língua se traduz o Ocidente". In: ''O que nos faz pensar''.Cadernos do Departamento de Filosofia da PUC-RIO, out. de 1996, p. 97, 66.
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "O princípio da identidade". In: _____. '''Identidade e diferença'''. Tradução Ernildo Stein. Vozes / Petrópolis / RJ, em co-edição com Livraria Duas Cidades, São Paulo, 2006, p. 52.

Edição atual tal como 22h28min de 7 de Setembro de 2021

1

A palavra tradição vem do verbo latino: tra-do / trans-do, entregar, narrar, transmitir, ou seja, ensinar aquilo que permanece no decorrer do tempo, o assim estabelecido como manifestação e sentido da realidade. A tradição poderia ser pensada em contraposição ao circunstancial, mas, por outro lado, ela não pode ser confundida com o passado. Este, cronologicamente, é o que já não é mais presente nem futuro (embora vigore na unidade do tempo). A tradição, que não se confunde com o passado, é aquela que tem o vigor de produzir o futuro. Quando a tradição não tem mais vigência de futuro é que ela perdeu a força geradora mítica, quando este se transforma em meros ritos formais. Mas os ritos são importantes como tradição porque na vigência desta constituem a identidade de uma cultura, de uma época, de um povo, de uma nação, enfim, de uma pessoa. Portanto, na tradição está também sempre presente a dialética pela qual o tempo se torna a fonte de toda e qualquer diferença, tomando sempre como referência a tradição.


- Manuel Antônio de Castro.

2

"... tradição não é substância de conhecimentos ou de relatos, mas é o caráter mais intrínseco da nossa historicidade. Através dela, a nossa própria determinação é levada sobre nós e, através dela, somos lançados no futuro. Neste lance, aquilo que está sendo vem ao nosso encontro a partir do futuro. Por isso, nós designamos este acontecer como o "futuro". Ele não vem ao nosso encontro sem mais nem menos, mas só quando nós estamos em condições de seguir a tradição, de assumi-la, em vez de nos perdermos e desperdiçarmos nas ocupações do atual" (1).


Referência:
HEIDEGGER, Martin. Lógica. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2008, p. 186.

3

"Para Heidegger, a língua é, em primeira e última instância, memória e, portanto, tradição" (1).


Referência:
(1) SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante. "Para que língua se traduz o Ocidente". In: O que nos faz pensar. Cadernos do Departamento de Filosofia da PUC-RIO, out. de 1996, p. 97, p. 65.

4

"Traduzir a tradição significa conduzir a tradição para além de seus dados e retorná-la à sua fonte, ao movimento de sua constituição. Não se trata de destruir a tradição, no sentido de uma Revolução Cultural. Trata-se de desfazer as suas construções, de remover as suas pedras e alcançar as suas fundações" (1).


Referência:
(1) SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante. "Para que língua se traduz o Ocidente". In: O que nos faz pensar. Cadernos do Departamento de Filosofia da PUC-RIO, out. de 1996, p. 97, 66.

5

"Que quer que pensemos e qualquer que seja a maneira como procuramos pensar, sempre nos movimentamos no âmbito da tradição. Ela impera quando nos liberta do pensamento que olha para trás e nos libera para um pensamento do futuro, que não é mais planificação. Mas somente se nos voltamos pensando para o já pensado, seremos convocados para o que ainda está para ser pensado" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "O princípio da identidade". In: _____. Identidade e diferença. Tradução Ernildo Stein. Vozes / Petrópolis / RJ, em co-edição com Livraria Duas Cidades, São Paulo, 2006, p. 52.
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