Aitia

De Dicionário de Poética e Pensamento

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Podemos distinguir no ente dois modos de o compreender perguntando por sua proveniência. Se o olhamos do ponto de vista da phýsis, e não há, no fundo, outro modo, podemos constatar que a própria phýsis age de uma maneira (e é isto a "causa", o agir, a aítia) dupla: no primeiro momento, todo sendo (ente) chega ao seu telos (realização) a partir de sua essência originária. Esta é a coisidade da coisa. O outro modo de agir da phýsis é aquele que produz um efeito sobre algo. Por exemplo, quando o Sol aquece a semente na Terra e a faz eclodir, quando o frio queima as folhas tenras da planta, quando o vento causa estragos nas casas. A causalidade como efeito de uma ação é apenas um modo derivado do causar originário, do causar enquanto essência do sendo (ente). Então a palavra grega aítia diz causa em sentido próprio e em sentido derivado. A palavra em grego, enquanto adjetivo aitios ou aition na função acusativo, diz como tal o ser devido a , o responsável por, ou seja, o culpável. A tradição retórico-sofística, porém, reduziu-a às relações causais pelas quais a toda causa corresponde um efeito. Para negar esta redução diz-se então que nem todo sendo depende de uma causa, isto é, não depende de uma relação causal dentro de um sistema de representação e de funcionalidade. Por exemplo, a obra de arte é sem funcionalidade, porque não está construída em cima de relações causais. Nesse sentido, o artista não é a causa da obra, porque não é devida a ele, mas à arte, ou seja, esta é a aitia da obra em sentido próprio. O artista só é a causa da obra em sentido derivado.


- Manuel Antônio de Castro
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