Paradigma

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: "A [[questão]] é constituída de uma [[pergunta]] e de uma [[resposta]], a partir de e sobre a [[realidade]] (sem adjetivos). As diferentes respostas – [[teorias]] - tornam-se paradigmas da [[realidade]]. A [[questão]] diz sempre respeito à [[realidade]] e o paradigma diz sempre respeito a uma determinada [[teoria]] ou [[visão]] da [[realidade]] como [[resposta]] à [[questão]]. É deste complexo que surgiram e surgem ainda as [[correntes críticas]]. E também surgem as [[épocas]]. Cada [[época]] é sempre um certo [[paradigma]] de [[ler]] e [[apreender]] o [[acontecer] da [[realidade]], ou seja, a [[realidade]] enquanto [[tempo]] se dá a [[conhecer]] e este [[conhecer]] se configura numa [[época]], ou seja, num [[paradigma]]. Como o [[acontecer]] da [[realidade]] nunca para, devemos [[distinguir]] cada [[época]], enquanto [[acontecer]], do [[acontecer poético]]. Este é aquele que, de alguma maneira, participa também de um [[paradigma]], mas vai além dele porque apreende não só o que se manifesta, mas igualmente a [[realidade]] em sua [[dinâmica]] ([[acontecer]]) de [[velar-se]], matriz de novos [[acontecimentos]]. A verdadeira [[obra de arte]] é aquela que jamais se deixa reduzir a um [[paradigma]]. Ela nos  remete para o [[enigma]] do [[tempo]] desdobrando-se em [[linguagem]] e [[sentido]]d, incessantemente. Heráclito diz isto na sentença 123, quando nos provoca a pensar: "O [[nascer]] incessante ama [[desvelar-se]], velando-se" (''[[Physis]] kryptestai philei'' ").  
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: "A [[questão]] é constituída de uma [[pergunta]] e de uma [[resposta]], a partir de e sobre a [[realidade]] (sem adjetivos). As diferentes respostas – [[teorias]] - tornam-se paradigmas da [[realidade]]. A [[questão]] diz sempre respeito à [[realidade]] e o paradigma diz sempre respeito a uma determinada [[teoria]] ou [[visão]] da [[realidade]] como [[resposta]] à [[questão]]. É deste complexo que surgiram e surgem ainda as [[correntes críticas]]. E também surgem as [[épocas]]. Cada [[época]] é sempre um certo [[paradigma]] de [[ler]] e [[apreender]] o [[acontecer]] da [[realidade]], ou seja, a [[realidade]] enquanto [[tempo]] se dá a [[conhecer]] e este [[conhecer]] se configura numa [[época]], ou seja, num [[paradigma]]. Como o [[acontecer]] da [[realidade]] nunca para, devemos [[distinguir]] cada [[época]], enquanto [[acontecer]], do [[acontecer poético]]. Este é aquele que, de alguma maneira, participa também de um [[paradigma]], mas vai além dele porque apreende não só o que se manifesta, mas igualmente a [[realidade]] em sua [[dinâmica]] ([[acontecer]]) de [[velar-se]], matriz de novos [[acontecimentos]]. A verdadeira [[obra de arte]] é aquela que jamais se deixa reduzir a um [[paradigma]]. Ela nos  remete para o [[enigma]] do [[tempo]] desdobrando-se em [[linguagem]] e [[sentido]]d, incessantemente. Heráclito diz isto na sentença 123, quando nos provoca a pensar: "O [[nascer]] incessante ama [[desvelar-se]], velando-se" (''[[Physis]] kryptestai philei'' ").  
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
: - [[Manuel Antônio de Castro]]

Edição de 14h32min de 11 de Agosto de 2017

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A palavra paradigma se forma do grego: pará: de parte de; entre; durante, por causa de, e do verbo deiknymi: mostrar, fazer ver; produzir; fazer conhecer; revelar; pôr sob os olhos de alguém. O paradigma conjuga então duas dimensões: é um fazer ver, conhecer, mostrar, mas enquanto: de parte de, por causa de, num entre. Previamente, algo se dá a ver e a conhecer, e se cria um conhecimento através do qual se desvela ou representa o que se mostra. Sem algo se mostrar não pode ser visto e, portanto, serem criados os paradigmas. Não há paradigma sem o que se dá a ver. E o que se dá a ver é que possibilita ultrapassar e criar novos paradigmas. Quando o paradigma se autonomiza como representação, ele se torna modelo de compreensão da realidade, contrariando a própria dinâmica da realidade em sua verdade, pois tanto mais se dá a ver quanto mais se vela. O que se dá a ver e se vela é, para os gregos, a physis; para nós, a realidade. Para mostrar o que se dá a ver (a realidade, a physis), o ser humano recebe da própria physis duas dimensões que o constituem, circunscrevem e determinam: o conhecimento (nous, em grego) e a linguagem (logos, em grego). O nous é um conhecimento pré-compreensivo, que permite ver o não visto (teoria). E ele pode ser dito porque somos constituídos pelo logos, a linguagem (daí ser próprio do ser-humano formular teo-rias, ou seja, paradigmas).


- Manuel Antônio de Castro


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"A questão é constituída de uma pergunta e de uma resposta, a partir de e sobre a realidade (sem adjetivos). As diferentes respostas – teorias - tornam-se paradigmas da realidade. A questão diz sempre respeito à realidade e o paradigma diz sempre respeito a uma determinada teoria ou visão da realidade como resposta à questão. É deste complexo que surgiram e surgem ainda as correntes críticas. E também surgem as épocas. Cada época é sempre um certo paradigma de ler e apreender o acontecer da realidade, ou seja, a realidade enquanto tempo se dá a conhecer e este conhecer se configura numa época, ou seja, num paradigma. Como o acontecer da realidade nunca para, devemos distinguir cada época, enquanto acontecer, do acontecer poético. Este é aquele que, de alguma maneira, participa também de um paradigma, mas vai além dele porque apreende não só o que se manifesta, mas igualmente a realidade em sua dinâmica (acontecer) de velar-se, matriz de novos acontecimentos. A verdadeira obra de arte é aquela que jamais se deixa reduzir a um paradigma. Ela nos remete para o enigma do tempo desdobrando-se em linguagem e sentidod, incessantemente. Heráclito diz isto na sentença 123, quando nos provoca a pensar: "O nascer incessante ama desvelar-se, velando-se" (Physis kryptestai philei ").


- Manuel Antônio de Castro
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