Interpretação

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 21h32min de 29 de março de 2009 por Andre (Discussão | contribs)

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Através da etimologia da palavra interpretação, chega-se ao valor. Mas pode-se ampliar essa compreensão, partindo da inter-subjetividade e da realidade social. Para aprofundar a discussão, confira Bárbara Freitag (1) quando trata da teoria da ação comunicativa de Habermas.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) FREITAG, Bárbara. Teoria Crítica: ontem e hoje. São Paulo: Brasiliense, 1985, pp. 58-59.


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Na questão da interpretação, em que se pensa a diferença da análise, da explicação e do diá-logo, é essencial ter em mente a exegese e, nesta, os três passos fundamentais: intelligendi, aprehendi e applicandi. Ora, este processo tem alguns passos que julga o texto/obra como algo “objetivo”. Aqui está a questão: como dar esses três passos sem questionar o que se apresenta sem a tensão com o que se vela? Mas, constatando que toda obra de arte opera a partir da linguagem, como ler radicalmente se não for como diálogo, onde o que é comum e o mesmo é o lógos? Para aprofundar esta questão, confira o ensaio "A questão da hermenêutica" (1).


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A questão hermenêutica". In: Tempos de metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994. Acessível em Travessia Poética.


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O que ocorre na leitura de cada um como ente singular? Certamente ela se dá em cada um como interpretação e diá-logo. Contudo, duas dimensões também aí se fazem presentes: ser e linguagem. Martin Heidegger no ensaio "De uma conversa sobre a linguagem entre um japonês e um pensador" (1), diz que as duas grandes questões que o freqüentam são: ser e linguagem. Surge a questão: cada leitor é um ente absolutamente original. Na medida em que o ser se dá em cada ente, certamente também a linguagem. E o mesmo acontece com a leitura, ou seja, cada leitor é único, não como subjetividade, mas como ente do ser. Então a interpretação/diá-logo certamente vai seguir essa mesma dimensão. E então pode-se perguntar: o que une a todos? Duas dimensões ontológicas: o não-saber e o lógos como mundo e memória de todas as leituras e diálogos. O lógos é a medida de todas as dimensões e possíveis leituras.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "De uma conversa sobre a linguagem entre um japonês e um pensador". In: A caminho da linguagem. Petrópolis: Vozes, 2003.


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Na poíesis o que permanece é o caminho. E aí temos: leitura como diálogo a partir da interpretação como pensamento e caminho. Ligando estes três termos, amplia-se e radicaliza-se a questão da leitura como interpretação: o diálogo interpretativo passa a ser caminhada de manifestação do que cada um é, no vigor poético da poíesis como verdade. Ler, interpretar e dialogar é percorrer na tripla dimensão (*horidzo* (limito/horizonte/limiar), ex-peras (porta/passagem) e telos (sentido) o caminho do ser. É a travessia. Ocorre então que interpretar como diálogo onto-poético é uma ascese. Quando interpretamos nesse sentido não iremos transmitir conceitos nem conhecimento nem informações, mas apenas e tão somente assinalar a caminhada. Toda caminhada que se move na poíesis do ser é co-letiva, onde o logos reúne como identidade as diferenças.


- Manuel Antônio de Castro


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Criação é concriação, assim como interpretar é concriar. A interpretação não é um ato epistemológico-científico, mas poético. Por isso, a palavra hermenêutica tem sua origem no mito de Hermes. A interpretação se dá sempre como um ato de compreensão e jamais de análise. A criação do poeta só é criação se for con-criação, porque na obra não é o poeta que cria, mas é a própria realidade que advém como verdade e sentido, na medida em que ela opera desvelando-se tanto mais quanto mais se vela, enquanto linguagem do silêncio.


- Manuel Antônio de Castro


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O pensamento estará relacionado com o diálogo-pensante em sua relação com o passado. E aí diz Márcia Cavalcante Schuback: “O diálogo pensante não pode restaurar. Pode apenas traduzir para um começo. Isto é o que Heidegger chama de interpretação. A interpretação não é jamais neutra. A interpretação nunca é apreensão de um dado preliminar, isenta de pressuposições. Se a concreção da interpretação, no sentido da interpretação textual exata, se compraz em se basear nisso que 'está' no texto, aquilo que, de imediato, apresenta como estranho no texto nada mais é do que a opinião prévia, indiscutida e supostamente evidente do intérprete” (1). A interpretação é sempre uma intervenção poética pessoal, se for escuta do logos, senão torna-se mero subjetivismo opiniativo.


- Manuel Antônio de Castro


Referências:
(1) SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante. "Para que língua se traduz o Ocidente". In: O que nos faz pensar. PUC-Rio, nº10, 1996, p.63.


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A quantidade de informações deve ser vista levando em consideração três atitudes (entre outros aspectos):
1º) Lingüístico-contextual: entram aí forma, língua, discurso, linguagem, dados estruturais etc.
2º) Fenomenológica: ultrapassa-se aqui a percepção de coisa como objeto conceitual (inerente à atitude anterior) e entra-se mais radicalmente na complexidade da "coisa". Esta pode limitar-se a uma operação epistemológica.
3º) Ontológica: englobando as duas anteriores, operacionaliza-se no diálogo, onde a abertura para a escuta do lógos é fundamental. O conceito social de linguagem está ligado à concepção determinística do homem pela história e ao seu determinismo histórico-material.


- Manuel Antônio de Castro


Ver também:


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A caracterização do ser humano como mortal se desdobra em três níveis: a) vida vivida; b) vida experienciada; e c) vida narrada. (Não poeticamente, há vida racionalizada ou epistêmica). Contudo, há duas instâncias sem as quais isso não confere, ao ente humano, o ser mortal. Elas acabam por ordenar e reunir os três níveis. De um lado eles são reunidos pelo logos, mas por outro as três ações diferentes constituem sentido advindo de poíesis. A linguagem como tal é, pois, logos e poíesis, ou seja, a linguagem que colhe, recolhe e reúne na medida em que os três níveis recebem pela poíesis um sentido. A linguagem só será então linguagem se inseminada pelo sentido do agir da poíesis. Ora isso constitui a obra de arte. Na medida em que lhe é correlato o desvelo originário, essas cinco dimensões também se devem fazer nela presente. E isso é absolutamente singular em cada um, o que não quer dizer subjetivo, mas uma aprendizagem como método de ser. Porém, a aprendizagem vai além. Ela exige o inter-pretium, ou seja, o mergulho e o advento do ético. Mas o ético é ethos, a linguagem como morada. E quando falamos linguagem como morada, então, a arte acontece. Então, dá-se interpretação. A arte sempre é obra e como tal não é ente, pois como lugar da verdade acontece como verdade do ser. E a verdade não é, dá-se, acontece.


- Manuel Antônio de Castro


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"A interpretação significa precisamente a operacionalização da estrutura pressupositiva da compreensão. E não há conhecimento sem interpretação." (1) "A ontologia da compreensão precede sempre a epistemologia da interpretação." (2) O termo interpretação é usado por Ronaldes de Melo e Souza em duas situações: a ontológica e a epistemológica. E continua: "Não interessa, pura e simplesmente, o que aconteceu, mas o que não cessa de acontecer. A interpretação propriamente dita é o processo de mediação da realidade do passado com a realização do presente." (3) Insiste ainda que a interpretação se dá na tríade "pietista": intelligendi, explicandi, aplicandi (a possibilidade de compreender, explicar e aplicar). "Daí resulta o compromisso ético do conhecimento." (4)


- Manuel Antônio de Castro


Referências:
(1) SOUZA, Ronaldes de Melo e. "A ética concriativa de Gadamer". In: Revista Tempo Brasileiro, Rio, 94, jul. a set., 1988, p.73.
(2) Idem, p.74.
(3) Idem, p.75.
(4) Idem, p.75.


Ver também:


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"Assim, hermenéuein, interpretar, não diz conduzir alguma coisa para a claridade da razão e para o discurso da língua, mas reconduzi-la a seu lugar de origem no mistério da Linguagem." (1)


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aperendendo a pensar I. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 248.
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