Arkhé
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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- | : | + | : (1) SIMPLÍCIO. ''Física'', 28, 13 (DK 1299), apud ''Pré-socraticos. Col. Os Pensadores''. São Paulo: Abril Cultural, p.15. |
+ | : (2) ARISTÓTELES. ''Física'', I 4.187 a 20, apud ''Pré-socraticos. Col. Os Pensadores''. São Paulo: Abril Cultural, p.15. | ||
+ | : (3) "A sentença de Anaximandro". In: ''Os pré-socráticos. Col. Os pensadores''. S. Paulo: Abril Cultural, 1978. Outra tradução em português: "O dito de Anaximandro". In: ''Caminhos de Floresta''. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2002. | ||
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+ | : (1) TORRANO, Jaa. "O mundo como função de musas". In: HESÍODO. ''Teogonia: a origem dos deuses''. Trad. Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 2003, p. 21. | ||
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+ | : "A [[palavra]] grega [[arché]] designa [[princípio]] como fundo sem fundo, o sem fundo fundante. Da [[arché]], diz [[Platão]] no ''Fedro'', nasce [[tudo]] o que nasce, enquanto, em si, não nasce de [[nada]]: não é em si, nem para si. Pois, se nascesse de algo, não seria [[arché]], não seria o [[arcaico]] [[nascer]]. Como não tem [[nascimento]], a [[arché]] é necessariamente (o) permanente" (1). | ||
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+ | : (1) FAGUNDES, Igor. "A experiência ioruba do sagrado - Provocações para um rito de raspagem do Ocidente". In: Revista Tempo Brasileiro, 194, ''Dialética em questão II''. Rio de Janeiro,jul.-set., 2013, p. 140. | ||
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+ | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. '''Filosofia grega - uma introdução'''. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2010, p. 89. | ||
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+ | : (2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Educar poético: diálogo e dialética". In: ..... e outros. '''O educar poético'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 16. |
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1
- Anaximandro foi o primeiro a introduzir o termo princípio (1). Cabe notar, porém, que se usa aí o termo arkhé não no sentido de fundamento causal, mas no sentido de unidade que contém os contrários: "contrários são quente e frio, seco e úmido e outros. Segundo uns, da unidade que os contêm, procedem, por divisão, os contrários, como diz Anaximandro: '... pois tudo ou é princípio ou procede de um princípio, mas do ilimitado não há princípio ...'" (2). Esta questão da arkhé é profundamente estudada por Martin Heidegger (3).
- Referências:
- (1) SIMPLÍCIO. Física, 28, 13 (DK 1299), apud Pré-socraticos. Col. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, p.15.
- (2) ARISTÓTELES. Física, I 4.187 a 20, apud Pré-socraticos. Col. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, p.15.
- (3) "A sentença de Anaximandro". In: Os pré-socráticos. Col. Os pensadores. S. Paulo: Abril Cultural, 1978. Outra tradução em português: "O dito de Anaximandro". In: Caminhos de Floresta. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2002.
- Ver também
- *Origem.
2
- "A noção de arkhé contida no verbo arkhómetha (comecemos) reúne numa unidade indiscernível o sentido de princípio-começo e o de princípio-poder-império" (1).
- Referência:
- (1) TORRANO, Jaa. "O mundo como função de musas". In: HESÍODO. Teogonia: a origem dos deuses. Trad. Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 2003, p. 21.
3
- "A palavra grega arché designa princípio como fundo sem fundo, o sem fundo fundante. Da arché, diz Platão no Fedro, nasce tudo o que nasce, enquanto, em si, não nasce de nada: não é em si, nem para si. Pois, se nascesse de algo, não seria arché, não seria o arcaico nascer. Como não tem nascimento, a arché é necessariamente (o) permanente" (1).
- Referência:
- (1) FAGUNDES, Igor. "A experiência ioruba do sagrado - Provocações para um rito de raspagem do Ocidente". In: Revista Tempo Brasileiro, 194, Dialética em questão II. Rio de Janeiro,jul.-set., 2013, p. 140.
4
- "A característica essencial da dicotomia é que parte sempre de oposições excludentes. Mas desde a formulação lapidar de Aristóteles do que seja princípio (arché) em sua consumação (telos) somos convocados a pensar a realidade sem exclusões, pois afirma na Metafísica: “Só é possível pensar em princípio porque physis, a realidade, não é estática, é dinâmica. Só é possível pensar em princípio porque a dinâmica da physis não é linear, é circular. Só é possível pensar em princípio porque a circulação da physis não é finita, é infinita. Só é possível pensar em princípio porque a infinitude da physis não é de exclusão, mas de inclusão” (In: Leão, 2010, 89 (1))" (2).
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Filosofia grega - uma introdução. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2010, p. 89.
- (2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Educar poético: diálogo e dialética". In: ..... e outros. O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 16.