Acaso

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:[[Acontecer]] nunca é acaso. Em verdade só se fala em acaso porque a [[causalidade]], isto é, a [[racionalidade]], não pode explicar tudo. Como a [[realidade]] é muito mais rica e complexa e não depende de um [[fundamento]], tudo que foge ao esquema causal de agente e paciente, é atribuído ao acaso. Se o racionalita fosse lógico radicalmente deveria dizer que também a [[razão]] é produto do acaso. Porém, há leis racionais que não atuam cegamente nem à mercê do acaso. Há leis racionais, mas não são ''toda'' realidade. Inventar o acaso diz apenas dos [[limites]] da razão. Mas tal limite ou negatividade é inerente à razão e não indica jamais as possibilidades da realidade.
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: [[Acontecer]] nunca é [[acaso]]. Em verdade só se fala em [[acaso]] porque a [[causalidade]], isto é, a [[racionalidade]], não pode [[explicar]] [[tudo]]. Como a [[realidade]] é muito mais rica e complexa e não depende de um [[fundamento]], tudo que foge ao esquema [[causal]] de agente e paciente, é atribuído ao [[acaso]]. Se o [[racionalista]] fosse [[lógico]] [[radicalmente]] deveria [[dizer]] que também a [[razão]] é [[produto]] do [[acaso]]. Porém, há [[leis]] [[racionais]] que não atuam cegamente nem à mercê do [[acaso]]. Há [[leis]] [[racionais]], mas não são ''[[toda]]'' [[realidade]]. Inventar o [[acaso]] diz apenas dos [[limites]] da [[razão]]. Mas tal [[limite]] ou negatividade é inerente à [[razão]] e não indica jamais as [[possibilidades]] da [[realidade]].
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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:Misteriosamente, a [[memória]] é a [[morte]] se dando em [[vida]], manifestando-se nos viventes. Ela é muito mais do que a cronologia e a [[causalidade]]. Ela é o acontecer poético, que é sem por quê.  Este não é o acaso. Em verdade só se fala em acaso porque a causalidade, isto é, a [[racionalidade]], não pode explicar tudo. O acaso é a [[negatividade]] inerente à [[razão]] e não indica jamais as possibilidades da [[realidade]], da morte. A realidade, como morte, constitui-se nas possibilidades da vida nos viventes.
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
 
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: (1)CASTRO, Manuel Antônio de. "Passado". In: ------.  ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 255.
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:  Referência:
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: (1)CASTRO, Manuel Antônio de. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 255.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 249.

Edição atual tal como 22h49min de 31 de Dezembro de 2019

Tabela de conteúdo

1

Acontecer nunca é acaso. Em verdade só se fala em acaso porque a causalidade, isto é, a racionalidade, não pode explicar tudo. Como a realidade é muito mais rica e complexa e não depende de um fundamento, tudo que foge ao esquema causal de agente e paciente, é atribuído ao acaso. Se o racionalista fosse lógico radicalmente deveria dizer que também a razão é produto do acaso. Porém, há leis racionais que não atuam cegamente nem à mercê do acaso. Há leis racionais, mas não são toda realidade. Inventar o acaso diz apenas dos limites da razão. Mas tal limite ou negatividade é inerente à razão e não indica jamais as possibilidades da realidade.


- Manuel Antônio de Castro

2

Misteriosamente, a memória é a morte se dando em vida, manifestando-se nos viventes. A memória é muito mais do que a cronologia e a causalidade. Ela é o acontecer poético, que é sem por quê. Este não é o acaso. Em verdade só se fala em acaso porque a causalidade, isto é, a racionalidade, não pode explicar tudo. O acaso é a negatividade inerente à razão e não indica jamais as possibilidades da realidade, da morte. A realidade, como morte, constitui-se nas possibilidades da vida nos viventes.


- Manuel Antônio de Castro

3

"A lei do genos é o destino: certo, justo e livre, dando-se como o próprio de cada um. Nela nada é esquecido ou omitido, impossibilitando qualquer acaso posto que vigora. Acaso é o que a limitada razão não pode explicar causalmente" (1).


(1)CASTRO, Manuel Antônio de. "Passado". In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 255.


4

"Misteriosamente, a memória é a morte se dando em vida, manifestando-se nos viventes. Ela é muito mais do que a cronologia e a causalidade. Ela é o acontecer poético, que é sem por quê. Este não é o acaso. Na verdade, só se fala em acaso porque a causalidade, isto é, a racionalidade, não pode explicar tudo. O acaso é a negatividade inerente à razão e não indica jamais as possibilidades da realidade, da morte" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 249.