Éthos
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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Edição de 14h04min de 8 de Novembro de 2016
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- É interessante que como dimensão do agir, temos sempre necessidade da presentificação do éthos, daí a tentação de querer transformar o éthos em moral, princípios, regras, normas. Ocorre que quando dizemos que o éthos é morada do ser, o que estamos afirmando, na verdade, é o éthos como limiar. Daí que ele, ao mesmo tempo que vige na dimensão do visível e sabível e querível etc., se move também no não-visível, não-sabível, não-querível. O éthos é como tal o limiar, no sentido da medida das medidas, no sentido de que é o e insondável e abismal, pelo qual somos o entre-cruzamento de verticalidade e horizontalidade, o pérvio de toda tra-vessia. Essa é a morada do ser e não-ser, onde como lógos o éthos reúne na poíesis o velar e desvelar da phýsis.
2
- "Tò éthos é a postura, o porte do comportamento do homem frente à totalidade dos entes" (1).
- "Por isso, podemos dizer, com algum direito, que o homem é aquele ente, em meio à totalidade dos entes, cuja essência se distingue pelo éthos" (2).
- É interessante ver também a relação entre éthos e lógos (3).
- Referências:
- (1) HEIDEGGER, Martin. Heráclito. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998, p. 218.
- (2) Idem, p. 228.
- (3) Idem, pp. 225-7.
3
- Éthos nunca diz respeito a normas, como é o caso da moral ou dos costumes. Éthos é a abertura como tal, a partir da qual a phýsis se destina no homem sempre como a livre possibilidade de realizar a existência do agir como manifestação da phýsis/dzoé em seu sentido. Esta realização livre no aberto da abertura é a poíesis enquanto lógos. Por isso, o éthos é sempre co-letivo, isto é, habitante da polis, ou seja, por isso mesmo: político. Mas não podemos dizer que as formigas têm linguagem porque também cumprem tarefas coletivas. Nelas falta o éthos que dá um sentido livre à ação porque como éthos se realiza a partir da abertura que a própria phýsis destina no homem fazendo-o homem como éthos, lógos e poíesis. Aí homem só se pode ler como diálogo, como co-letividade, ou habitante da polis como linguagem. A língua de um só homem nunca existe. Por isso, mais que subjetividade, somos memória poética, logos e ethos enquanto polis.
4
- "O ser é, pois, a estância, na palavra de Heráclito, o ethos, onde o mistério convoca e atrai o homem. O ser e o homem não apenas se limitam como, por e para fazê-lo, se visitam. Por esta estância passam todos os caminhos de compreensão dos discursos. Nesta estância, instala-se todo diálogo de pensamento entre os homens. A partir desta estância, os pensadores podem pensar, sempre pela primeira vez, o advento do sentido e da verdade, no tempo das realizações" (1).
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Posfácio. In: HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. 2. e. Petrópolis: Vozes, 2006, p. 555.