Nada

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Posfácio. In: HEIDEGGER, Martin. ''Ser e tempo''. 2. e. Petrópolis: Vozes, 2006, p. 550.
: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Posfácio. In: HEIDEGGER, Martin. ''Ser e tempo''. 2. e. Petrópolis: Vozes, 2006, p. 550.
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: O temor e a [[angústia]] do Nada é como o sentir o [[abismo]] e sua [[proximidade]] a nossos pés, faltando-nos não só o chão como o próprio respirar. No entanto, é nele que estamos plantados. Dis-traídos pelos movimentos nos fios da rede como [[teia]] da [[vida]] nem notamos que sempre estamos pendurados no abismo dos [[vazios]] da [[rede]]. Nem notamos pela ocupação nas e com as funções em meio aos entes que só funcionamos porque o [[sistema]] parece configurar tudo, inclusive, os vazios em que ele não só se estende e perdura como também se expande. Mas não é [[verdade]]. E de repente somos assaltados pela gratuidade e [[presença]] dos vazios não só da rede como também da possibilidade de a rede ser rede e ser rede em funcionamento e expansão, porque a rede é uma doação do vazio, do [[silêncio]], do Nada. A rede só se constrói como rede porque o Nada que a doa se retrai e deixa a rede e as funções e o sistema se presentificarem em seu funcionar. O Nada não niilifica, estrutura, doa, presentifica.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]

Edição de 20h44min de 16 de Maio de 2016

1

"O poeta, em seu canto, próximo à Terra Natal, desfia a alegria a troco de Nada. Isso é contradizer-se, jogar no Vazio ou meditar extra-vagâncias? Devagar, vagando se descobre a falta-que-faz, o fazer-que-falta: cercando o eixo das rodas com raios, se descobre que a utilidade da roda consiste no seu Nada; escavando-se a argila para modelar vasos, descobre-se que a utilidade dos vasos está no seu Nada; abrindo-se portas e janelas para que haja um quarto, descobre-se que a utilidade do quarto está no seu Nada. Por isso, parafraseando Lao-Tzu, em seu fragmento XI, do Tao Te King, pode-se dizer que enquanto nos aproximamos do fazer, o que não é feito se aproxima de nós" (1).


Referência:
(1) ALBERNAZ, Maria Beatriz. Paideia poética na cidade sitiada - um estudo de Clarice Lispector. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras da UFRJ, Programa de Pós-Graduação em Ciência da Literatura, Área de Poética. Tese de doutorado, 2006.

2

"P - O vazio é então a mesma coisa que o nada, isto é, o vigor que procuramos pensar como o outro de toda vigência e de toda ausência? J - De certo... Para nós, o vazio é o nome mais elevado para se designar o que o senhor quer dizer com a palavra ser" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "De uma conversa sobre a linguagem entre um japonês e um pensador". In: Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 87.

3

"Através de seus graves defeitos - que um dia ela talvez pudesse mencionar sem se vangloriar - é que chegara agora a poder amar. Até aquela glorificação: ela amava o Nada. A consciência de sua permanente queda humana a levava ao amor do Nada" (1).


Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres. 4ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974, p. 25.


4

Nada não pode ser niilismo porque só pode advir ao niilismo o ente, o vivente, a oração, o discurso, o significado, o tempo linear, a lembrança, o instante, o ente, que está, sem referência.


- Manuel Antônio de Castro.


5

O nada é sempre, como possibilidade de e para possibilidades, doação de novas realizações.


- Manuel Antônio de Castro.

6

"... em todo pensamento se dá algo que não somente não pode ser pensado como, sobretudo e em tudo que se pensa, significa pensar, isto é, faz e torna possível o pensamento. Este "não pensado", que nunca poderá ser pensado, é, pois, um nada. Mas não um nada somente negativo, nem um nada somente positivo e nem uma mistura, com ou sem dialética, de negativo e positivo. Mas então que nada é este? Um nada somente criativo tanto da negação como da posição e da composição de ambos" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Posfácio. In: HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. 2. e. Petrópolis: Vozes, 2006, p. 550.


7

O temor e a angústia do Nada é como o sentir o abismo e sua proximidade a nossos pés, faltando-nos não só o chão como o próprio respirar. No entanto, é nele que estamos plantados. Dis-traídos pelos movimentos nos fios da rede como teia da vida nem notamos que sempre estamos pendurados no abismo dos vazios da rede. Nem notamos pela ocupação nas e com as funções em meio aos entes que só funcionamos porque o sistema parece configurar tudo, inclusive, os vazios em que ele não só se estende e perdura como também se expande. Mas não é verdade. E de repente somos assaltados pela gratuidade e presença dos vazios não só da rede como também da possibilidade de a rede ser rede e ser rede em funcionamento e expansão, porque a rede é uma doação do vazio, do silêncio, do Nada. A rede só se constrói como rede porque o Nada que a doa se retrai e deixa a rede e as funções e o sistema se presentificarem em seu funcionar. O Nada não niilifica, estrutura, doa, presentifica.


- Manuel Antônio de Castro
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