Finito

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:"Quem começa muito, quem inicia muitas coisas, nunca chega ao [[princípio]]. É que nós, seres finitos,somos sempre definidos. Temos [[necessidade]] de definições. Nunca poderemos começar com o princípio. E por quê? - Porque já estamos sempre imersos no princípio. Por isso mesmo, para sabermos que estamos onde estamos, temos de começar invariavelmente com o [[início]],  com algo, portanto, que nos descubra o princípio, que nos mostre a [[origem]], que nos desvele a [[fonte]]. É esta espécie de início, este tipo de [[começo]] que nos proporciona o [[discurso]], quando nos surpreendemos no [[curso]] da [[Arte]] ou nos deparamos no [[percurso]] da [[Filosofia]]. Pois tanto a Filosofia como a Arte é o esforço que fazemos para tomarmos e entrarmos na posse do que já é sempre dado" (1).
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Arte e filosofia". In: Revista ''Tempo Brasileiro'', 64, jan.-mar., 1981, p. 42.
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:O problema e densidade do finito ficam bem claros quando fazemos uma escuta do [[pensamento]] de Platão, não reduzido a conceitos pelo [[platonismo]]. "Da separação metafísica da finitude sensível e da infinitude inteligível decorrem as oposições antagônicas do corpo e da alma, da matéria e do espírito" (1). O universal [[abstrato]], o [[conceito]], é a infinitude inteligível. "No pensamento criticamente irônico de F. Schlegel, o finito sensível e o infinito inteligível são dois pólos de uma mesma [[unidade]] polarizada. Tese e antítese constituem a tensão polar da [[aparência]] finita e da [[ideia]] infinita" (2). É importante distinguir o que Platão nos propõe como [[questão]] do que posteriormente foi reduzido a conceitos. A redução do pensamento de Platão à [[epistemologia]] medieval e moderna faz com que o seu pensamento seja reduzido a dicotomias, quando ele nos propõe um pensamento ambíguo, como por exemplo, no uso das palavras gregas ''[[diánoia]]'' e ''[[Eîdos]]'', de profunda densidade ambígua. Como traduzir tais [[palavra|palavras]] gregas, que se contextualizam dentro de um uso cotidiano e ao mesmo tempo dentro do pensamento original de Platão? Por exemplo, se entendemos ''diánoia'' como entre-percepção, tudo se torna bem mais complexo do que uma simples leitura epistemológica. A esse respeito tem também a contribuir o texto "Da essência da verdade" (3).
:O problema e densidade do finito ficam bem claros quando fazemos uma escuta do [[pensamento]] de Platão, não reduzido a conceitos pelo [[platonismo]]. "Da separação metafísica da finitude sensível e da infinitude inteligível decorrem as oposições antagônicas do corpo e da alma, da matéria e do espírito" (1). O universal [[abstrato]], o [[conceito]], é a infinitude inteligível. "No pensamento criticamente irônico de F. Schlegel, o finito sensível e o infinito inteligível são dois pólos de uma mesma [[unidade]] polarizada. Tese e antítese constituem a tensão polar da [[aparência]] finita e da [[ideia]] infinita" (2). É importante distinguir o que Platão nos propõe como [[questão]] do que posteriormente foi reduzido a conceitos. A redução do pensamento de Platão à [[epistemologia]] medieval e moderna faz com que o seu pensamento seja reduzido a dicotomias, quando ele nos propõe um pensamento ambíguo, como por exemplo, no uso das palavras gregas ''[[diánoia]]'' e ''[[Eîdos]]'', de profunda densidade ambígua. Como traduzir tais [[palavra|palavras]] gregas, que se contextualizam dentro de um uso cotidiano e ao mesmo tempo dentro do pensamento original de Platão? Por exemplo, se entendemos ''diánoia'' como entre-percepção, tudo se torna bem mais complexo do que uma simples leitura epistemológica. A esse respeito tem também a contribuir o texto "Da essência da verdade" (3).

Edição de 07h07min de 4 de Maio de 2012

1

"Quem começa muito, quem inicia muitas coisas, nunca chega ao princípio. É que nós, seres finitos,somos sempre definidos. Temos necessidade de definições. Nunca poderemos começar com o princípio. E por quê? - Porque já estamos sempre imersos no princípio. Por isso mesmo, para sabermos que estamos onde estamos, temos de começar invariavelmente com o início, com algo, portanto, que nos descubra o princípio, que nos mostre a origem, que nos desvele a fonte. É esta espécie de início, este tipo de começo que nos proporciona o discurso, quando nos surpreendemos no curso da Arte ou nos deparamos no percurso da Filosofia. Pois tanto a Filosofia como a Arte é o esforço que fazemos para tomarmos e entrarmos na posse do que já é sempre dado" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Arte e filosofia". In: Revista Tempo Brasileiro, 64, jan.-mar., 1981, p. 42.


2

O problema e densidade do finito ficam bem claros quando fazemos uma escuta do pensamento de Platão, não reduzido a conceitos pelo platonismo. "Da separação metafísica da finitude sensível e da infinitude inteligível decorrem as oposições antagônicas do corpo e da alma, da matéria e do espírito" (1). O universal abstrato, o conceito, é a infinitude inteligível. "No pensamento criticamente irônico de F. Schlegel, o finito sensível e o infinito inteligível são dois pólos de uma mesma unidade polarizada. Tese e antítese constituem a tensão polar da aparência finita e da ideia infinita" (2). É importante distinguir o que Platão nos propõe como questão do que posteriormente foi reduzido a conceitos. A redução do pensamento de Platão à epistemologia medieval e moderna faz com que o seu pensamento seja reduzido a dicotomias, quando ele nos propõe um pensamento ambíguo, como por exemplo, no uso das palavras gregas diánoia e Eîdos, de profunda densidade ambígua. Como traduzir tais palavras gregas, que se contextualizam dentro de um uso cotidiano e ao mesmo tempo dentro do pensamento original de Platão? Por exemplo, se entendemos diánoia como entre-percepção, tudo se torna bem mais complexo do que uma simples leitura epistemológica. A esse respeito tem também a contribuir o texto "Da essência da verdade" (3).


- Manuel Antônio de Castro


Referências:
(1) SOUZA, Ronaldes de Melo e. "Introdução à poética da Ironia". In: Linha da Pesquisa, n. 1, v.1, 2000, p.32.
(2) Idem, p.33.
(3) HEIDEGGER, Martin. "Da essência da verdade". In: Ser e Verdade. Petrópolis: Vozes, 2007.


Ver também:
Ferramentas pessoais