Dúvida
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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| + | : Afirmar que a [[fé]] e a [[dúvida]] se correspondem é não [[conhecer]] a [[essência]] da [[fé]] em sua [[vigência]]. A [[fé]] não é algo [[vazio]]. Em que se tem [[fé]]? E pode a [[fé]] [[conviver]] com o [[questionar]]? São [[questões]] [[difíceis]]. E justamente ao longo da [[vida]] [[humana]], como a [[fé]] exclui o que não é do seu [[âmbito]], há a tendência a [[excluir]] aqueles que não têm a mesma [[fé]]. Porém, podemos admitir [[diferentes]] [[crenças]], cada uma com a sua [[fé]]. E elas podem [[conviver]] em [[diálogo]] e [[compreensão]]. Por outro lado, o [[questionar]] se defronta em sua [[radicalidade]] com o [[mistério]]. E diante do [[mistério]] só resta o [[silêncio]], sobretudo o da [[razão]]. | ||
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| + | : - [[Manuel Antônio de Castro]]. | ||
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: CASTELLO, José. Resenha publicada no Caderno "Prosa & Verso", p. 5, do Jornal ''O Globo''. | : CASTELLO, José. Resenha publicada no Caderno "Prosa & Verso", p. 5, do Jornal ''O Globo''. | ||
Edição de 22h02min de 25 de março de 2020
1
- Diante da morte, toda dúvida, fundamentada na razão duvidante, mostra como é limitada em sua pretensão de conhecer tudo, quando se trata da vigência da realidade da morte. O conhecer da razão jamais nos abrirá as portas da questão que nos convida a saber o não-saber de toda morte. A morte é o originário de todo saber que não-sabe.
2
- "Quando duvido só posso duvidar porque ajo a partir do radicar na essência do agir enquanto o não-querer de todo querer e, portanto, no procurar, no saber sempre o não-saber de todo saber. Todo duvidar radica na essência do agir. Só deixamos de agir quando um outro agir nos toma e do qual nada podemos falar. Para agir essencialmente não basta viver, é necessário ser o que se vive. Agir essencialmente é ser" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 271.
3
- "Hesse afastou a espiritualidade da perfeição, lançando-a, em vez disso, no caminho incerto da dúvida e da imperfeição, e aproximando-a, de certo modo, da arte. A fé e a dúvida, ele ensinava, em vez de se excluírem, se correspondem. Onde não se duvida, não se crê verdadeiramente. Lição que se torna luminosa no mundo sectário e sombrio em que vivemos" (1).
- Afirmar que a fé e a dúvida se correspondem é não conhecer a essência da fé em sua vigência. A fé não é algo vazio. Em que se tem fé? E pode a fé conviver com o questionar? São questões difíceis. E justamente ao longo da vida humana, como a fé exclui o que não é do seu âmbito, há a tendência a excluir aqueles que não têm a mesma fé. Porém, podemos admitir diferentes crenças, cada uma com a sua fé. E elas podem conviver em diálogo e compreensão. Por outro lado, o questionar se defronta em sua radicalidade com o mistério. E diante do mistério só resta o silêncio, sobretudo o da razão.
- Referência:
- CASTELLO, José. Resenha publicada no Caderno "Prosa & Verso", p. 5, do Jornal O Globo.
