Inútil

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: A determinação de [[algo]] [[útil]] ou [[inútil]] já vem da determinação da [[ação]] do [[homem]] enquanto traduz [[algo]] como [[meio]] para um [[finalidade|fim]]. Ocorre que a [[ação]] do [[homem]] não se restringe a [[produzir]] [[algo]] para um [[fim]]. Se no [[agir]] e [[ação]] de [[produção]] e no [[produto]] não há esse [[fim]], então diz-se que é [[inútil]]. Curtir uma praia não é [[produzir]] [[algo]] com um [[fim]]. Por outro lado "curtir uma praia" não se move no âmbito de nenhuma [[técnica]], não diz respeito a nenhum [[conhecimento]]. E nem por isso dizemos que "curtir uma praia" é [[algo]] [[inútil]], mas nem [[útil]]. Porém, sem dúvida, é [[essencial]] para quem "curte". Talvez até seja o mais [[essencial]]. Porque aí se sente [[sendo]], sendo por [[ser]], sem [[finalidade]]. É nesse [[âmbito]] que entram a [[poesia]], a [[música]] e tantas [[outras]] pequenas "[[coisas]]". E aí o [[homem]] se move e é movido [[propriamente]] pela [[essência]] do [[agir]]. A [[vivência]] não é aí esse "[[curtir]]" porque nela se dá uma [[experienciação]] de [[ser]]? A [[vivência]] como [[vivência]] [[é]] ou pode [[ser]] um tender para ou atender a um [[apelo]] que não vem de [[dentro]], mas de atender a [[algo]] que um [[outro]] alguém solicita. Para além do [[útil]] ou [[inútil]] é que Angelus Silesius disse: "A rosa é sem por quê. Floresce por florescer."
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: A determinação de [[algo]] [[útil]] ou [[inútil]] já vem da determinação da [[ação]] do [[homem]] enquanto traduz [[algo]] como [[meio]] para um [[finalidade|fim]]. Ocorre que a [[ação]] do [[homem]] não se restringe a [[produzir]] [[algo]] para um [[fim]]. Se no [[agir]] e [[ação]] de [[produção]] e no [[produto]] não há esse [[fim]], então diz-se que é [[inútil]]. Curtir uma praia não é [[produzir]] [[algo]] com um [[fim]]. Por outro lado "curtir uma praia" não se move no âmbito de nenhuma [[técnica]], não diz respeito a nenhum [[conhecimento]]. E nem por isso dizemos que "curtir uma praia" é [[algo]] [[inútil]], mas nem [[útil]]. Porém, sem dúvida, é [[essencial]] para quem "curte". Talvez até seja o mais [[essencial]]. Porque aí se sente [[sendo]], sendo por [[ser]], sem [[finalidade]]. É nesse âmbito que entram a [[poesia]], a [[música]] e tantas [[outras]] pequenas "[[coisas]]". E aí o [[homem]] se move e é movido [[propriamente]] pela [[essência]] do [[agir]]. A [[vivência]] não é aí esse "curtir" porque nela se dá uma [[experienciação]] de [[ser]]? A [[vivência]] como [[vivência]] [[é]] ou pode [[ser]] um tender para ou atender a um [[apelo]] que não vem de [[dentro]], mas de atender a [[algo]] que um [[outro]] alguém solicita. Para além do [[útil]] ou [[inútil]] é que Angelus Silesius disse: "A rosa é sem por quê. Floresce por florescer."
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: "Digamos que há um que de “[[utilidade]]” no [[inútil]] e é por isso que ele co-existe, ainda que a contragosto do [[útil]]. E, democraticamente, há um que de “[[inutilidade]]” no [[útil]]. De nossa parte, vemos hoje, muita [[coisa]] [[inútil]] com ares de [[útil]]. Pensamos que era isso o que [[Heidegger]] queria que refletíssemos. Há muita [[inutilidade]] por aí, no que se diz, no que se divulga, [[ser]] [[útil]]. Há muita desimportância no que costumeiramente se afirma [[ser]] importante. E é justamente essa uma das [[crises]] do nosso [[tempo]]. O nosso [[tempo]] está mostrando que, muito do que é tachado como [[inútil]], tem a sua [[utilidade]], como é o caso do [[Sagrado]], da [[Meditação]], da [[Arte]], da [[Poesia]]" (1).
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:  (1) ROCHA, Antônio Carlos Pereira Borba. "Diálogo com Chuang Tzu, hoje". In: '''Revista Tempo Brasileiro, 171 - ''[[Permanência]] e [[atualidade]] da [[Poética]]. Rio de Janeiro, out.-dez., 2007''', p. 164.
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:  (1) ROCHA, Antônio Carlos Pereira Borba.''' "[[Diálogo]] com Chuang Tzu, hoje". In: Revista Tempo Brasileiro, 171 - [[Permanência]] e atualidade da [[Poética]]. Rio de Janeiro, out.-dez., 2007, p. 164.'''
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:  (1) ROCHA, Antônio Carlos Pereira Borba. "[[Diálogo]] com Chuang Tzu, [[hoje]]". In: '''Revista Tempo Brasileiro, 171 - [[Permanência]] e [[atualidade]] da [[Poética]]. Rio de Janeiro, out.-dez., 2007''', p. 171.
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:  (1) ROCHA, Antônio Carlos Pereira Borba.''' "[[Diálogo]] com Chuang Tzu, hoje". In: Revista Tempo Brasileiro, 171 - [[Permanência]] e atualidade da [[Poética]]. Rio de Janeiro, out.-dez., 2007, p. 171.'''

Edição atual tal como 14h44min de 20 de março de 2025

1

A determinação de algo útil ou inútil já vem da determinação da ação do homem enquanto traduz algo como meio para um fim. Ocorre que a ação do homem não se restringe a produzir algo para um fim. Se no agir e ação de produção e no produto não há esse fim, então diz-se que é inútil. Curtir uma praia não é produzir algo com um fim. Por outro lado "curtir uma praia" não se move no âmbito de nenhuma técnica, não diz respeito a nenhum conhecimento. E nem por isso dizemos que "curtir uma praia" é algo inútil, mas nem útil. Porém, sem dúvida, é essencial para quem "curte". Talvez até seja o mais essencial. Porque aí se sente sendo, sendo por ser, sem finalidade. É nesse âmbito que entram a poesia, a música e tantas outras pequenas "coisas". E aí o homem se move e é movido propriamente pela essência do agir. A vivência não é aí esse "curtir" porque nela se dá uma experienciação de ser? A vivência como vivência é ou pode ser um tender para ou atender a um apelo que não vem de dentro, mas de atender a algo que um outro alguém solicita. Para além do útil ou inútil é que Angelus Silesius disse: "A rosa é sem por quê. Floresce por florescer."


- Manuel Antônio de Castro

2

"Digamos que há um que de “utilidade” no inútil e é por isso que ele co-existe, ainda que a contragosto do útil. E, democraticamente, há um que de “inutilidade” no útil. De nossa parte, vemos hoje, muita coisa inútil com ares de útil. Pensamos que era isso o que Heidegger queria que refletíssemos. Há muita inutilidade por aí, no que se diz, no que se divulga, ser útil. Há muita desimportância no que costumeiramente se afirma ser importante. E é justamente essa uma das crises do nosso tempo. O nosso tempo está mostrando que, muito do que é tachado como inútil, tem a sua utilidade, como é o caso do Sagrado, da Meditação, da Arte, da Poesia" (1).


Referência:
(1) ROCHA, Antônio Carlos Pereira Borba. "Diálogo com Chuang Tzu, hoje". In: Revista Tempo Brasileiro, 171 - Permanência e atualidade da Poética. Rio de Janeiro, out.-dez., 2007, p. 164.

3

"E assim o filósofo chinês [ Chuang Tzu ] afirma que nós temos, internamente uma grande árvore, nós temos o aparelho fonador, o cérebro e a característica de poder dialogar. Isso possibilita que a linguagem nos tenha, ou seja, para que através de nós, a linguagem flua. E a linguagem flui, é transmitida a partir da terra deserta do silêncio. O silêncio é o deserto, o silêncio é o vazio e é nesse vazio que as palavras atuam, fluem e se fazem presentes. A linguagem instrumental é o útil. A linguagem poética é o inútil" (1).


Referência:
(1) ROCHA, Antônio Carlos Pereira Borba. "Diálogo com Chuang Tzu, hoje". In: Revista Tempo Brasileiro, 171 - Permanência e atualidade da Poética. Rio de Janeiro, out.-dez., 2007, p. 171.
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