Conceito

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:3ª - logos/''ratio'' (razão);
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:4ª - ''phýsis'' - ''poíesis'' x ''phýsis'' ''tekhné''. Temos aqui uma sequência: proposição - ''lógos''/lógica - (verdade) - ''tekhné''/conhecimento sem ''poíesis''. E daí surge a possibilidade de sujeito-predicativo, o CONCEITO e o resultado de todos estes processos, mas a figura de verdade correlata ao do método é que dá o fundamento e completude do conceito e, por isso mesmo, o abandono da questão.
:4ª - ''phýsis'' - ''poíesis'' x ''phýsis'' ''tekhné''. Temos aqui uma sequência: proposição - ''lógos''/lógica - (verdade) - ''tekhné''/conhecimento sem ''poíesis''. E daí surge a possibilidade de sujeito-predicativo, o CONCEITO e o resultado de todos estes processos, mas a figura de verdade correlata ao do método é que dá o fundamento e completude do conceito e, por isso mesmo, o abandono da questão.
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:Sujeito e objeto tanto na filosofia como na gramática são conceitos. Toda a gramática - porque lógica - trabalha com conceitos.
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:Também é fundamental perceber que só se pode estabelecer o conceito na medida em que se estabelece um limite. Contudo, o limite, concretamente, nunca existe. Ele é uma invenção do cálculo/razão. Daí que o ''Lógos''/discurso/verbo, entendido como razão, significa exatamente esse cálculo na medida em que se torna ''ratio'', porção, ou seja, delimitação, medida. Mas, aí, medida diz da medida calculante e não da medida/meio/entre poética. Daí surgem as duas sintaxes, dependendo do sentido de medida. Por isso, conceito, medida, proposição são os referentes para o estabelecimento de sujeito e objeto, na medida é que todo objeto é objeto do sujeito. Ora tal medida se constitui a partir do deslocamento do verbo para a substância. O verbo/ser/questão se torna verbo de ligação, isto é, elo formal-gramatical da ligação lógico-conceitual de estabelecimento pelo sujeito, tornado medida, do objeto como conceito delimitado e calculado. Aí a linguagem, na mão da lógica-calculante, se torna representação. Só não se desconfiou que uma tal representação não é só do objeto mas sobretudo do sujeito. Isto porque, quando o sujeito diz, este diz não brota dele a não ser lógico-representacionalmente como oferta do dizer/verbo/ser ao sujeito que diz, pois tal dizer/verbo/ser não é fundado pelo sujeito, embora se dê numa representação do ser humano como ''lógos'' calculante, isto é, ''ratio''. O conceito-lógico vive de um círculo vicioso: o conceito sujeito gera o conceito objetivo que, por sua vez, gera o conceito sujeito.
:- [[Manuel Antônio de Castro]]
:- [[Manuel Antônio de Castro]]

Edição de 17h57min de 9 de Maio de 2009

1

Há uma relação profunda entre metafísica, conceitos e razão. Se os conceitos vigem na razão, as questões vigem no pensamento enquanto poíesis, o poético vigorando. O destino metafísico ocidental está em se constituir a metafísica numa experienciação de pensamento enquanto razão nos seus limites de possibilidade a partir de e nos conceitos. Por isso nos diz Nietzsche: "Os diversos conceitos filosóficos não são, de forma alguma, coisa de somenos nem nada que tenha nascido espontaneamente por si mesmo. Cresceram numa relação de parentesco uns com os outros. Por mais que aparentem ter surgido de chofre e arbitrariamente, pertencem de fato a um sistema, tanto quanto os espécimes da fauna de uma região: é o que, em última instância, nos revela a segurança com que os filósofos mais diferentes entre si sempre preenchem um mesmo esquema básico de filosofias possíveis. Na força de um ditado invisível, todos eles percorrem sempre de novo a mesma órbita. Por mais que se sintam independentes, em sua vontade crítica ou sistemática, algo neles os conduz, alguma coisa os empurra, um atrás do outro, dentro de determinada ordem, a saber, o sistema inato de parentesco dos conceitos. O seu pensamento é, na verdade, muito menos descoberta do que reconhecimento e recordação, retorno e volta para uma economia distante e arcaica da alma, donde os conceitos brotaram pela primeira vez. Deste modo, filosofar é uma espécie de atavismo no mais alto grau." (1)


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) NIETZSCHE, Friedrich. Além do bem e do mal - Prelúdio de uma filosofia do futuro, apud LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 122.


2

Diz Heidegger: "Nas ciências se realiza no plano das ideias - uma aproximação daquilo que é essencial em todas as coisas" (1). O problema do conceito é sempre este: ele estabelece necessariamente uma forma e um limite a partir do poder estabelecer relações - o da ideia. Porém, esta se torna problemática porque toda forma enquanto ideia (conteúdo) se torna uma fôrma. E esta, equanto representação, é apenas uma aproximação sem vigor na proximidade do Ser (Real).


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. O que é metafísica?. Trad. Ernildo Stein. São Paulo: Duas Cidades, 1969, p. 23.


Ver também:


3

"Uma interpretação do símbolo continua sendo ela mesma símbolo, apenas um pouco racionalizada, ou seja, um pouco mais próxima do conceito."
"O sentido não é solúvel no conceito. Papel do comentário. Teremos quer uma racionalização relativa do sentido (a análise científica habitual), quer um aprofundamento do sentido, com a ajuda de outros sentidos (a interpretação filosófico-artística)." (1)


Referências:
(1) BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. S. Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 402.
(2) Idem, p. 402.


4

A lógica brota naturalmente do Lógos, assim como o conceito da questão. Tanto lógica como conceito são etapas interrompidas da coisa como acontecer. Nesse horizonte, tanto a lógica como o conceito devem ser paragens de apreensão e compreensão da própria doação da coisa.


- Manuel Antônio de Castro


5

Esquece-se totalmente que a hegemonia do conceito e a interpretação do pensamento como conceber (cum-capere) repousam de ante-mão e unicamente sobre a essência impensada, porque não-apreendida, de "on" e "eínai".


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A palavra de Anaximandro". In: Os pensadores. Os pré-socráticos. São Paulo: Abril Cultural, 1978.


6

P - Talvez acena para a essência da linguagem?
J - Isso mesmo. Mas também receio que caracterizar a formulação 'casa do ser' e aceno poderia nos levar a representar o aceno como um conceito-chave em que tudo pudesse ser empacotado.
P - É o que não pode e nem deve acontecer.
J - Mas evitar?
P - Jamais poderá evitá-lo totalmente.
J - Por que não?
P - Porque o modo de representação conceitual se aninha facilmente em todo tipo de experiência humana.


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "De uma conversa sobre a linguagem entre um japonês e um pensador". In: A caminho da linguagem. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 92.


7

"O conceito é a tentativa constante e necessária de o conhecimento anular o paradoxo da realidade em sua manifestação poética. Ele não consegue porque a todo conceito subjaz sempre um interstício, um vazio, um silêncio, um velar-se." (1)


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre'". In: Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro: número 164, jan.-mar. 2006, p. 7.


Ver também:


9

Conceituar é identificar o acontecer poético da realidade com um paradigma que serve de teoria funcional e explicativa. A realidade enquanto acontecer poético não tem explicação porque não pode ser reduzida a funções: é sendo. E enquanto sendo jamais pode ser reduzida a conceitos, pois sua vigência se dá sempre na questão. Conceituar enquanto identificar não é questionar.


- Manuel Antônio de Castro


10

O conceito enquanto captação (a palavra se forma do verbo latino cum-capere, o apreender reunindo os traços universais e deixando de lado as diferenças concretas, daí o seu caráter abstrato) e delimitação encontra sua operatividade máxima na matematização da phýsis, da "realidade": daí surge o conceito como algo preciso e a objetividade do conceito. Por isso, o conceito é um produto da ciência (só há ciência do universal, mas não do singular, muito menos do que dando-se se retrai, da voz como escuta ou silêncio). Contudo, a ciência é um produto da "tekhné". No grego, tekhné significa conhecimento. Esta, enquanto conhecimento que nasce, se dá em dois sentidos. Se reunida à questão torna-se o contorno e a figura de eclosão da poíesis/vigor do poético, da phýsis que se desvela velando-se. Se se transforma na massa do conceito, torna-se a forma formal de objetivação e precisão da "coisa" como objeto. A tekhné é ambígua. Por isso possibilitou a sua tradução para o latim como ars, artis, de onde se originou nosso conceito de arte. Contudo, não se pode esquecer que Aristóteles fala de tekhnés poietikés. Mas na tradução só se assinalou, traidoramente, a tekhné. Isto possibilitou a redução da obra de poíesis à sua dimensão formal-conceitual através dos gêneros, estilos e correntes críticas. Aí a tekhné perdeu, como conceito, todo poder ambíguo, que é inerente à arte enquanto ela é essencialmente poíesis/vigor poético, ambiguidade . Nesse sentido, a poíesis/linguagem (Hermes) se tornou só tekhné fazendo da poíesis/linguagem algo instrumental, lógico e comunicativo. É a linguagem como código conceitual. Mas a obra de arte, porque é poíesis/vigor poético, manifesta a realidade sempre numa tensão inaugural.


-Manuel Antônio de Castro


11

Não é qualquer proposição afirmativa que se torna conceito. Isto acontece simplesmente porque há a proposição conceitual e outros tipos de proposição, sobretudo as da sintaxe poética. O conceito pressupõe uma proposição que na estrutura sujeito objeto delimite, abstraia, precise, dê medida, seja lógico-racional, tenha pretensões universais, isto é, válidas independentemente de tempo e espaço. Uma afirmação-proposição pode-se tornar questão ou imagem/figura-questão. A proposição: "O pôr-de-sol do Arpoador peroliza de luz o mar" não é conceito, é figura-questão, pois a ela não corresponde nenhuma delimitação nem precisão nem medida exata. A exatidão lógica constrói a realidade dos conceitos, isto é, uma proposição conceitual. Contudo, se disser: "A não-verdade é a verdade de todas as verdades", isto é uma afirmação-questão porque aí não há um sentido lógico, preciso, delimitante, exato, racional. Aí se enuncia e afirma uma questão. Onde se dá a dialética ambígua de questão e conceito é na pergunta, se for de fato pergunta. Dependendo da resposta se reinstala a questão ou se cai num conceito.


- Manuel Antônio de Castro


12

Como surge o conceito? Diversas são as questões que levam ao conceito:
1ª - Muda/permanece
2ª - Limite/não-limite
3ª - Concreto/abstrato
4ª - Sentido/significado
5ª - Necessidade/liberdade
6ª - Substantivo/verbo
7ª - Vida/experienciação
8ª - Linguagem/língua
9ª - Velamento/desvelamento
10ª - Vazio/forma
Estas dimensões trazem para a discussão a tensão questão/conceito. Contudo, a dimensão essencial que diz respeito tanto à questão como ao conceito é a questão da verdade / não-verdade. A possibilidade de surgimento do conceito só foi possível pela passagem da alétheia/desvelamento para a homoiosis/semelhança como orthotes/correto (adequação entre enunciado e enunciação). A variabilidade no entendimento do conceito é exatamente o percurso das faces que toma a verdade como homoiosis/orthotes. E isto é acompanhado por quatro grandes mudanças:
1ª - palavra - proposição;
2ª - Hermes/dialética (daí as duas possibilidades de ler diá-logo; ou seja, o diá- como através de, onde o logos é visto apenas como instrumento/língua; o diá- como entre, onde temos a tensão fala/silêncio ou desvelamento/finito/forma x velamento não-finito/vazio;
3ª - logos/ratio (razão);
4ª - phýsis - poíesis x phýsis tekhné. Temos aqui uma sequência: proposição - lógos/lógica - (verdade) - tekhné/conhecimento sem poíesis. E daí surge a possibilidade de sujeito-predicativo, o CONCEITO e o resultado de todos estes processos, mas a figura de verdade correlata ao do método é que dá o fundamento e completude do conceito e, por isso mesmo, o abandono da questão.


- Manuel Antônio de Castro


13

Sujeito e objeto tanto na filosofia como na gramática são conceitos. Toda a gramática - porque lógica - trabalha com conceitos.
Também é fundamental perceber que só se pode estabelecer o conceito na medida em que se estabelece um limite. Contudo, o limite, concretamente, nunca existe. Ele é uma invenção do cálculo/razão. Daí que o Lógos/discurso/verbo, entendido como razão, significa exatamente esse cálculo na medida em que se torna ratio, porção, ou seja, delimitação, medida. Mas, aí, medida diz da medida calculante e não da medida/meio/entre poética. Daí surgem as duas sintaxes, dependendo do sentido de medida. Por isso, conceito, medida, proposição são os referentes para o estabelecimento de sujeito e objeto, na medida é que todo objeto é objeto do sujeito. Ora tal medida se constitui a partir do deslocamento do verbo para a substância. O verbo/ser/questão se torna verbo de ligação, isto é, elo formal-gramatical da ligação lógico-conceitual de estabelecimento pelo sujeito, tornado medida, do objeto como conceito delimitado e calculado. Aí a linguagem, na mão da lógica-calculante, se torna representação. Só não se desconfiou que uma tal representação não é só do objeto mas sobretudo do sujeito. Isto porque, quando o sujeito diz, este diz não brota dele a não ser lógico-representacionalmente como oferta do dizer/verbo/ser ao sujeito que diz, pois tal dizer/verbo/ser não é fundado pelo sujeito, embora se dê numa representação do ser humano como lógos calculante, isto é, ratio. O conceito-lógico vive de um círculo vicioso: o conceito sujeito gera o conceito objetivo que, por sua vez, gera o conceito sujeito.


- Manuel Antônio de Castro
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