Morte

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 13h39min de 1 de Setembro de 2009 por Fábio (Discussão | contribs)

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"Essencialmente tanatafórico, portador da vida que amadurece a morte dentro de si mesmo, o homem, já de si, é uma ironia suprema, porque o fundo do seu ser se revela sem fundo nem fundamento, sem essência nem substância. À finitude radical ou carência congênita do homem, que o faz participar do duplo domínio do ser e do não-ser ou da vida e da morte, corresponde a linguagem poética da ironia, que não fala nem cala, mas assinala sempre o que não se pode dizer" (1).
Ironia forma-se do grego eironeía, proveniente do verbo grego: eíro ou eréo, que significa: perguntar, questionar. Todo questionar questiona porque não sabe e, ao mesmo tempo, porque já sabe (atematicamente), senão nem poderia perguntar. No e pelo perguntar há um krínein, isto é, um distinguir, ou seja, um diferenciar. Todo questionar pressupõe um diálogo. Portanto, o questionar exercita sempre um criticar, no sentido de diferenciar, pelo e no diálogo. Todo diálogo já é, em si, um exercer diferenças. A ironia nas obras de arte funda explicitamente o diálogo de leitura como um diferenciar e um questionar. O diferenciar já traz em si o levar no entre em que o ser humano já desde sempre está lançado. Portanto, todo humano do ser humano se dá como ironia, porque em vida experiencia a morte e experienciando a morte afirma a vida.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1)SOUZA, Ronaldes de Melo e. "Introdução à poética da ironia". In: Linha de pesquisa. Revista de Letras da UVA, Rio de Janeiro, Ano 1, 2000.


Ver também:


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A questão da morte já aparece nos ritos iniciáticos. Todo rito de iniciação implica uma transformação e, automaticamente, a morte de algo para o surgimento também de algo. O verbo iniciar é, pois, ambíguo: iniciar é introduzir, porque implica também o fazer morrer. A travessia se dá na tensão vida/morte di-mensionada na e como experienciação.


-Manuel Antônio de Castro


Ver também:


3

"– Antes de morrer se vive, Lóri. É uma naturalidade morrer, transformar-se, transmutar-se. Nunca se inventou nada além de morrer. Como nunca se inventou um modo diferente de amor de corpo que, no entanto, é estranho e cego e no entanto cada pessoa, sem saber da outra, reinventa a cópia. Morrer deve ser um gozo natural. Depois de morrer não se vai ao paraíso, morrer é que é o paraíso" (1).


Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. 4ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974, p. 63.