Imagem-questão

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:Para fugir da terminologia retórico-metafísica criei a denominação imagem-questão, ou seja, uma questão (que nós não temos, mas que nos tem) dita, centralizada e condensada na imagem escolhida. Capitu, Mme. Bovary, Dom Quixote, Édipo etc. são imagens-questões. As imagens-questões se entre-tecem com o poder verbal-ambíguo da metá-fora, ou seja, literalmente: um conduzir no e pelo vigor do "[[entre]]" (meta). A imagem-questão é ambígua e retira sua ambiguidade do "entre", na medida em que a [[linguagem]] é a própria manifestação do ''[[dasein|Da-sein]]'' como Entre-ser. O poder e vigor da imagem-questão estão no fato de que conjuga tempo, linguagem, [[memória]], [[narrar]]. Por isso ela repousa, como quietude enquanto tempo, "entre" o ser escrita e o ser lida, entre o ser vista, pensada, [[figura|figurada]] e o ser narrada. Melhor, entre o ser pensada e experienciada. A imagem-questão é um modo concentrado e verbal de ''poíesis'' enquanto narrar, pelo qual a realidade acontece realizando-se em realizações que constituem o real. Como tal, concentra a fala de toda escuta e aguarda o desvelo poético da leitura do leitor aberto à escuta do ''lógos'', num diálogo originário. É a dialética originária. Quando tal ocorre, dá-se no leitor uma [[aprendizagem]]. O que é aprendizagem? A apreensão da [[Cura]] como fonte de todas as questões que essencialmente fundam o ser humano, o ''Da-sein'', ou seja, o Entre-ser. A imagem-questão não é uma figura de linguagem. É um acontecer.
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: O que é [[imagem-questão]]? É uma [[imagem-poética]] que se torna [[verbo]] e [[presença]] para [[manifestar]] de modo vivo a [[questão]] ou [[questões]]. Por isso também podemos nomeá-la [[imagem-poética]], na medida em que toda [[poética]] pensa o [[acontecer]] do [[ser]]. Esse [[dizer]] é o que quis concretizar com [[verbo]] e [[presença]], pois no caso trata-se da [[essência]] do [[agir]] e [[pensar]]. Os mitos e as narrativas (pois estes estão essencialmente interligados, uma vez que originariamente todo mito é uma narrativa) desdobram-se em personagens-questões e imagens-questões. Tome-se ''Grandes sertão: veredas'' de Rosa, por exemplo. No título de sua narrativa, a imagem ''Sertão'' e a imagem ''veredas'', em verdade, nos  apresentam questões, pois aparecem como o fundo em que a personagem-questão Riobaldo experiência as questões que tais imagens-questões suscitam, apresentam. Tomando outro exemplo, no famoso romance de Machado de Assim ''Dom Casmurro'', a imagem do título ''casmurro'' é a imagem poética para manifestar as questões experienciadas por Bentinho. Estão essencialmente interligadas as imagens-questões e as personagens-questões.  
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Edição de 00h43min de 23 de Outubro de 2017

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O que é imagem-questão? É uma imagem-poética que se torna verbo e presença para manifestar de modo vivo a questão ou questões. Por isso também podemos nomeá-la imagem-poética, na medida em que toda poética pensa o acontecer do ser. Esse dizer é o que quis concretizar com verbo e presença, pois no caso trata-se da essência do agir e pensar. Os mitos e as narrativas (pois estes estão essencialmente interligados, uma vez que originariamente todo mito é uma narrativa) desdobram-se em personagens-questões e imagens-questões. Tome-se Grandes sertão: veredas de Rosa, por exemplo. No título de sua narrativa, a imagem Sertão e a imagem veredas, em verdade, nos apresentam questões, pois aparecem como o fundo em que a personagem-questão Riobaldo experiência as questões que tais imagens-questões suscitam, apresentam. Tomando outro exemplo, no famoso romance de Machado de Assim Dom Casmurro, a imagem do título casmurro é a imagem poética para manifestar as questões experienciadas por Bentinho. Estão essencialmente interligadas as imagens-questões e as personagens-questões.


- Manuel Antônio de Castro



- Manuel Antônio de Castro

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O poder e vigor da imagem-questão está no fato de que congrega: tempo, linguagem, memória, verdade, narrar. Por isso ela repousa, como quietude, enquanto tempo ontológico, "entre" o ser escrita e o ser lida, dialogada, "entre" o ser vista, pensada, figurada e o ser narrada, mas onde ela ao ser experienciada, por quem vê ou lê, como escuta do que somos e não somos, ambiguamente se retrai em sua fala silenciosa e silente. A imagem-questão é um modo concentrado e verbal de poiesis, enquanto narrar. Como tal, concentra a fala de toda escuta e aguarda o desvelo poético da leitura do leitor ou daquele que vê, abertos à escuta do logos, ou seja, à fala da Memória. Quando o diálogo acontece e, portanto, vigora a dialética, dá-se no leitor uma aprendizagem.


- Manuel Antônio de Castro