Corpo

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:A exigência moderna de se partir do ser humano, na realidade, impõe o se pensar e compreender o [[Etre]]-[[ser]] como Corpo. Este "corpo" se constitui, se figura no poder-ser, como Entre-ser, como [[questão|questões]], em que as elas são poético-onto-fenologicamente o pro-jeto das possibilidades do poder-ser como disposição e compreensão. Como Entre-ser o Corpo é a [[Cura]] e as pro-curas, e reúne em-si e no para-si, como abertura dada pela Cura, "Mundo" e "Verdade". A nossa condição "corporal" é ser-no-mundo, ser-em e ser-com. Realizar o projeto do Entre-ser e o Entre-ser do projeto é realizar o poder-ser inerente ao Entre, à Cura. E isso é realizar o Corpo. Realizar o Corpo é realizar o ser-humano como Entre-ser. Tal realização se dá na medida em que o Corpo se torna obra de arte, ou seja, o [[sentido]] do Entre-ser.
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:A exigência moderna de se partir do ser humano, impõe que se pense e compreenda o [[entre]]-[[ser]] como corpo. Esse "corpo" se constitui e se figura no poder-ser como [[questão]], em que ela é poético-onto-fenomenologicamente o pro-jeto das possibilidades do poder-ser como [[disposição]] e compreensão. Como entre-ser o corpo é a [[Cura]] e as pro-curas, e reúne em-si e no para-si, como abertura dada pela Cura, [[mundo]] e [[verdade]]. A nossa condição "corporal" é ser-no-mundo, ser-em e ser-com. Realizar o projeto do entre-ser e o entre-ser do projeto é realizar o poder-ser inerente ao entre, à Cura. E isso é realizar o corpo. Realizar o corpo é realizar o ser-humano como Entre-ser. Tal realização se dá na medida em que o corpo se torna [[obra]] de arte, ou seja, o [[sentido]] do entre-ser.
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:Dr. Idalmo: "...o corpo humano é como um instrumento musical que, quando afinado, tem a capacidade de produzir belas melodias. A essa [[música]] chamamos [[Vida]], tanto em seus aspectos físicos quanto mentais e emocionais" (1). Na realidade o corpo não produz vida, mas a manifesta, porque a vida já lhe foi dada.
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:As recentes descobertas da genética podem esclarecer nossa compreensão do corpo e da [[alma]]. O que Fritjof Capra afirma em ''A teia da vida'' (1) é que cada célula é uma parte que, em si, contém o todo. O que ocorre em micro ocorre em macro. O código genético sempre comparece e desfaz a visão tradicional metafísica, acentuada pelo cartesianismo. Capra fala de reciclagem e resíduos no processo da célula se [[produção|produzir]] e reproduzir, produzindo o próprio código genético. Guimarães Rosa, no conto "Nada e a nossa condição" (2) mostra, no final, a "cremação" do corpo/[[casa]] e depois de um ascender acima da montanha numa transfiguração misteriosa, em que luz e trevas não se distinguem, e as cinzas descem à Terra. Resíduos?
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
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:Referências:
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(1) CAPRA, Fritjof. ''A teia da vida''. São Paulo: Cultrix, 2004.
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(2) ROSA, Guimarães. ''Primeiras estórias''. Rio de Janeiro: José Olympio, 1967.
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:(1) Informativo Tiradentes Gerais, abril de 2005, p. 4.
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:As recentes descobertas da genética podem esclarecer nossa compreensão do corpo e da [[alma]]. O que Fritjof Capra afirma em ''Teia da vida'' (São Paulo: Cultrix, 2004) é que cada célula é uma parte que, em si, contém o todo. O que ocorre em micro ocorre em macro. O código genético sempre comparece e desfaz a visão tradicional metafísica, acentuada pelo cartesianismo. Capra fala de reciclagem e resíduos no processo da célula se produzir e reproduzir, produzindo o próprio código genético. Guimarães Rosa, no conto "Nada e a nossa condição" (''Primeiras estórias''. Rio de Janeiro: José Olympio, 1967) mostra, no final, a "cremação" do corpo/casa e depois de um ascender acima da montanha numa transfiguração misteriosa, onde luz e trevas não se distinguem, descem à Terra as cinzas. Resíduos?
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:Descartes separa o ser-humano-corpo em duas [[realidade|realidades]]: ''res cogitans''/realidade pensante e ''res extensa''/realidade extensa. Essa divisão é a base da modernidade, daí a dificuldade de hoje pensar o corpo como um [[unidade|todo]]. Não só isso, experienciá-lo como um todo. A argumentação da [[consciência]], determinando não só o ser mas o próprio real/corpo só é aceitável se admitirmos a dicotomia cartesiana. Isso levou a entender a leitura apenas como um exercício racional-silencioso ou em voz alta, mas do qual se afastou o corpo. A tripla leitura de voz-razão, [[música]] e [[dança]] procura resgatar a [[leitura]]-corpo. Mas essas três só são possíveis a partir da [[escuta]] do que se é. No que se é, nunca há dicotomia cartesiana. As observações de Freud não seriam, no fundo, sobre a recusa do corpo como um todo?
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:Descartes separa o ser-humano-corpo em duas realidades: ''res cogitans''/realidade pensante e ''res extensa''/realidade extensa. Essa divisão é a base da Modernidade, daí a dificuldade de hoje pensar o corpo como um todo. Não só isso, experienciá-lo como um todo. A argumentação da consciência, determinando não só o ser mas o próprio real/corpo só é aceitável se admitirmos a dicotomia cartesiana. Isso levou a entender a leitura apenas como um exercício racional-silêncioso ou em voz alta, mas do qual se afastou o corpo. A tripla leitura de voz-razão, música e dança procura resgatar a leitura-corpo. Mas essas três só são possíveis a partir da escuta do que se é. Neste, nunca há dicotomia cartesiana. As observações de Freud não seriam, no fundo, sobre a recusa do corpo como um todo?
 
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== Ver também ==
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
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*[[Finitude]]
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*[[Leitura]]
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*[[Sentido]]
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:Relacionado à questão da DOR, ver o poema de Fernando Pessoa, "Autopsicografia".
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:Pode-se pensar o corpo como [[conceito]] ou como [[questão]]. E, então, tudo será diferente em relação ao e em nossa relação com o corpo. No corpo como que todas as filosofias, religiões e teorias científicas são aí contidas, incorporadas. Mas quando deixamos o corpo ser, ele se tornará corpo-[[poesia]] e corpo-[[pensamento]]. O corpo como corpo é sempre insólito, admirável, misterioso, mágico. Deixar o corpo ser corpo, pensar o corpo, eis a questão. Toda obra-de-arte é um corpo se é obra-de-arte. Não importa a Musa que a preside.  
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:Consultar: Boff, Leonardo. Saber cuidar. 8.e. Petrópolis, Vozes, 2002.
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:Pode-se pensar o corpo como conceito ou como questão. E, então, tudo será diferente em relação ao e em nossa relação com o corpo. No corpo como que todas as filosofias, religiões e teorias científicas são aí contidas, incorporadas. Mas quando deixamos o corpo ser, ele se tornará corpo-poesia e corpo-pensamento. O corpo como corpo é sempre insólito, admirável, misterioso, mágico. Deixar o corpo ser corpo, pensar o corpo, eis a questão. Toda obra-de-arte é um corpo se é obra-de-arte. Não importa a Musa que a preside.
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:Para uma reflexão profunda acerca do corpo, conferir: FOGEL, Gilvan. "Notas sobre o corpo". In: CASTRO, Manuel Antônio de (org.). ''Arte: corpo, mundo e terra''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2008, pp. 36-58.
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
:- [[Manuel Antônio de Castro]]

Edição de 02h16min de 1 de Abril de 2009

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A exigência moderna de se partir do ser humano, impõe que se pense e compreenda o entre-ser como corpo. Esse "corpo" se constitui e se figura no poder-ser como questão, em que ela é poético-onto-fenomenologicamente o pro-jeto das possibilidades do poder-ser como disposição e compreensão. Como entre-ser o corpo é a Cura e as pro-curas, e reúne em-si e no para-si, como abertura dada pela Cura, mundo e verdade. A nossa condição "corporal" é ser-no-mundo, ser-em e ser-com. Realizar o projeto do entre-ser e o entre-ser do projeto é realizar o poder-ser inerente ao entre, à Cura. E isso é realizar o corpo. Realizar o corpo é realizar o ser-humano como Entre-ser. Tal realização se dá na medida em que o corpo se torna obra de arte, ou seja, o sentido do entre-ser.


- Manuel Antônio de Castro


2

As recentes descobertas da genética podem esclarecer nossa compreensão do corpo e da alma. O que Fritjof Capra afirma em A teia da vida (1) é que cada célula é uma parte que, em si, contém o todo. O que ocorre em micro ocorre em macro. O código genético sempre comparece e desfaz a visão tradicional metafísica, acentuada pelo cartesianismo. Capra fala de reciclagem e resíduos no processo da célula se produzir e reproduzir, produzindo o próprio código genético. Guimarães Rosa, no conto "Nada e a nossa condição" (2) mostra, no final, a "cremação" do corpo/casa e depois de um ascender acima da montanha numa transfiguração misteriosa, em que luz e trevas não se distinguem, e as cinzas descem à Terra. Resíduos?


Referências:

(1) CAPRA, Fritjof. A teia da vida. São Paulo: Cultrix, 2004. (2) ROSA, Guimarães. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: José Olympio, 1967.


3

Descartes separa o ser-humano-corpo em duas realidades: res cogitans/realidade pensante e res extensa/realidade extensa. Essa divisão é a base da modernidade, daí a dificuldade de hoje pensar o corpo como um todo. Não só isso, experienciá-lo como um todo. A argumentação da consciência, determinando não só o ser mas o próprio real/corpo só é aceitável se admitirmos a dicotomia cartesiana. Isso levou a entender a leitura apenas como um exercício racional-silencioso ou em voz alta, mas do qual se afastou o corpo. A tripla leitura de voz-razão, música e dança procura resgatar a leitura-corpo. Mas essas três só são possíveis a partir da escuta do que se é. No que se é, nunca há dicotomia cartesiana. As observações de Freud não seriam, no fundo, sobre a recusa do corpo como um todo?


- Manuel Antônio de Castro


4

Pode-se pensar o corpo como conceito ou como questão. E, então, tudo será diferente em relação ao e em nossa relação com o corpo. No corpo como que todas as filosofias, religiões e teorias científicas são aí contidas, incorporadas. Mas quando deixamos o corpo ser, ele se tornará corpo-poesia e corpo-pensamento. O corpo como corpo é sempre insólito, admirável, misterioso, mágico. Deixar o corpo ser corpo, pensar o corpo, eis a questão. Toda obra-de-arte é um corpo se é obra-de-arte. Não importa a Musa que a preside.


- Manuel Antônio de Castro
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