Arte

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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Edição de 00h45min de 30 de março de 2010

1

Segundo Heidegger, pensar a arte se faz a partir da sua essência, isso significa compreender a arte a partir da sua definição: "o pôr-se-em-obra da verdade" (1). Nessa definição se dá a conexão entre obra e arte. Para pensar a arte é necessário pensar as obras e para pensar as obras é necessário pensar a arte. Por isso, pergunta: "o que é a verdade para que ela possa ou até mesmo tenha de acontecer como arte? Em que medida há arte em geral?" (2). Quando define a arte como ins-werk-setzen-der Wahreit, há aí ambiguidade. Diz: "Mas esta determinação é conscientemente ambígua. Ela diz, por um lado: a arte é o estabelecimento da verdade que se institui na forma. Isso acontece na criação como produção (hervor-bringen) da desocultação do ente. Mas ao mesmo tempo, pôr-em-obra quer dizer: pôr em andamento e levar a acontecer o ser-obra. Tal acontece como salvaguarda. A arte é então: a salvaguarda criadora da verdade na obra. A arte é, pois, um devir e um acontecer da verdade" (3). Como podemos ver, há uma dupla definição da arte: na primeira destaca-se a verdade e a obra, mostrando a necessidade da obra como ser-produzido, como ente, já na segunda destaca-se o acontecer e o devir permanente (resultando na salvaguarda) da verdade.


- Manuel Antônio de Castro


Referências:
(1) HEIDEGGER, Martin. Origem da obra da arte. Trad. Maria da Conceição Costa. Lisboa: Edições 70, 1992, p. 46.
(2) Idem, p. 46.
(3) Idem, p. 57.


Ver também:

2

"As coisas da arte são sempre resultado de ter estado a perigo, de ter ido até o fim em uma experiência, até um ponto que ninguém consegue ultrapassar" (1). "Na arte, só podemos permanecer na força de quem 'pode' e, pelo fato de permanecermos aí, essa força cresce e sempre volta a nos ultrapassar" (2). Essa passagem diz respeito ao próprio enigma da interpretação.


- Manuel Antônio de Castro


Referências:
(1) RILKE, Rainer Maria. Cartas sobre Cézanne. Rio de Janeiro: 7Letras, 1996, p. 24.
(2) Idem, p. 28.


3

Ernesto Grassi, citando Malreaux, diz: "A religião só podia ser isto quando deixou de ser crença: as suas representações tiveram primeiro que passar por uma antecâmara" (1). Na realidade, trata-se aí da questão da fé e da arte. Quanto ao sagrado, elas não discordam. Pois, perdendo a sua função religiosa, dentro de um mundo de fé, aparece o vigor da obra como arte. O que se perdeu na função religiosa foi um determinado mundo. E do vigor da obra o mundo como tal em disputa com a terra vem ainda mais forte. Porém, esse poder da obra foi encoberto ou pela leitura estética ou pela leitura formal dos estilos de época. Época aí é apenas algo historiográfico sem o vigor histórico da arte. A história da arte pelos estilos de época tem apenas um valor de acumulação de conhecimentos formais sem nenhum vigor ético e poético.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) GRASSI, Ernesto. Arte e mito. Lisboa: Livros do Brasil, 1979, p. 140.

4

Ernesto Grassi, no livro Arte e mito (1), faz um encaminhamento do entendimento de arte em que procura ligar Platão ao zen-budismo. Ele procura articular a arte com a arte do tiro ao alvo. É complementar à reflexão de Heidegger, em que nos propõe a arte como disputa de mundo e terra, e acentua a paideia poética ou a obra como a escuta da fala do lógos. As referências de Erneto Grassi a Platão são feitas a partir do diálogo Íon, de que faz uma longa citação, mas também poderia referir-se ao Fedro. Teríamos três dimensões complementares na obra de arte:
1º: manifestação de mundo.
2º: obra, diálogo e escuta como travessia poética.
3º: a questão do sagrado, da arte do tiro ao alvo.
O que vai unir essas três dimensões é a linguagem como tempo, mundo e memória.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) GRASSI, Ernesto. Arte e mito. Lisboa: Livros do Brasil, 1979, p. 102.

5

A poíesis não é. Dá-se. No filme O herói, o diretor em determinado momento trata do pólemos (em grego: disputa/guerra). Em geral, a disputa nunca é pensada como arte/poíesis, só como tékhne. Porém, ela desdobra a disputa em três diferentes forças ou energias que, para serem corpo, precisam estar unidas. São elas: a física, metaforizada na espada, que nos remete para todas as armas; a mental, o domínio de técnicas; e a terceira força que, na disputa, não pode sofrer interferências: a psíquico-erótica. Essa última desestabiliza as duas anteriores, porque nelas predomina a poíesis, que é a dimensão mais radical da linguagem. O diretor dá dois modos de convivência com a poíesis/linguagem: a música e a arte do diagrama. Só que, nesse caso, tal arte não consiste em pintar exatamente o diagrama, mas em manifestar as ambiguidades do entre. Em tais ambiguidades sempre se faz presente uma técnica. Aqui teríamos uma invenção de Hermes: a lira. Porém, ela é doada a Apolo, o deus da técnica. Nesta força comparece o ser-com, mas sempre a partir do entre. Mas isso ocorre porque em todas as forças e modos de realização da técnica pode-se fazer presente a poíesis ou não. Se acontece, é o que poderia se nomear inter-disciplinaridade poética.


- Manuel Antônio de Castro

6

"As artes, enquanto musas, são as filhas da memória. Por isso, toda obra de arte opera o "entre" enquanto memória e tempo, linguagem e poíesis, onde o operar não é da obra, mas da verdade, ou seja, o "entre" enquanto desvelar-se e velar-se. Tal 'entre' é o originário de mundo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre'". In: Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro: número 164, jan.-mar. 2006, p. 34.
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