Homem

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:O homem aparece como [[diferença]] de [[identidade]] e diversidade, na medida em que ele já pertence e vige na identidade/diversidade. Mas estas se fazem pre-sentes na diferença enquanto apelo e [[escuta]], ou, como diz Heidegger, como vigilância. Daí denominar os poetas e pensadores vigias do Ser.  
:O homem aparece como [[diferença]] de [[identidade]] e diversidade, na medida em que ele já pertence e vige na identidade/diversidade. Mas estas se fazem pre-sentes na diferença enquanto apelo e [[escuta]], ou, como diz Heidegger, como vigilância. Daí denominar os poetas e pensadores vigias do Ser.  
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:É necessário pensar a [[construção]] do homem a partir do [[mito]]. Isto pode ser visto no Estudo do Jaa Torrano (1) Quando trata das três fases e três linhagens dos deuses, ele nota que o homem moderno é concebido em duas tendências: ou [[subjetividade]] psicológica, ou através das leis estabelecidas pela ciência que podem ser naturais, sociais, econômicas, culturais etc. (2) É nessa [[tensão]] que se dá a personalidade. Esta vem de ''persona'', máscara. Há aí uma construção do homem de cunho metafísico, baseada na aparência e no falso, a ''persona''. Também é uma construção do homem baseada na de-cisão do [[agir]] do homem, onde a ação de homem tem seu fundamento na subjetividade e sua [[vontade]], em seu querer. Mas não é isso o que mito diz. O homem e sua construção, para o mito, advêm na ''Môira''. Mas o que é ''Môira''? Diz Torrano: "uma antiga expressão com que os gregos designaram a Fatalidade fosse ''Môira'' ou ''Môirai''; lote ou lotes: embora essa expressão fosse suscetível de receber e concebesse uma ideação antropormófica, fica claro neste nome ''Môira'' que a Fatalidade de modo algum era concebida como uma transcendência (''hyperousía''), mas como imanente (''parousía''). A Fatalidade, ''Môira'', é a condição constitutiva do próprio ser em que ela se exprime, e não uma imposição que se exercesse sobre o ser a que ela acompanhasse. Essa distinção é da maior importância para percebermos o quanto o pensamento arcaico é concreto, isto é, centrado na ''parousía'': ele tende com a sua maior força para a Presença, o ser para ele se dá como Presença" (3). Essa presença é ''aletheia'' (4). ''Môira'' e ''alétheia'', enquanto apropriação do que é ''próprio'' (5), se dá na medida em que todo ente, cada Deus, está na "Proximidade das origens" (6), "mas Origens como as fontes permanentes e elementos constitutivos da vida" (7). Porém, é importante compreender que vida é entendida aí como ''dzoé'' e não como ''bíos''. (A esse respeito, cabe também conferir Heidegger (8) e Leão (9).) Por isso, concretamente temos quatro fontes: [[terra]], [[céu]], [[Éros]] e [[Caos]].
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:Referências:
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:(1) TORRANO, Jaa. "O mundo como função de musas". In: HESÍODO. ''Teogonia''. São Paulo: Iluminuras, 1992, p. 49.
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:(2) Idem, p. 51.
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:(3) Idem, p. 52.
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:(4) Idem, p. 51.
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:(5) Idem, p. 52.
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:(6) Idem, p. 54.
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:(7) Idem, loc. cit..
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:(8) HEIDEGGER, Martin. ''Heráclito''. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998.
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:(9) LEÃO, Emmanuel Carneiro. ''Aprendendo a pensar II''. Petrópolis: Vozes, 1992, p.130 e seguintes.
==Ver também==
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* [[identidade]]
* [[identidade]]
* [[diferença]]
* [[diferença]]
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*[[construção]]

Edição de 00h49min de 28 de Dezembro de 2008

Tabela de conteúdo

Desconstrução do homem

Na realidade, a desconstrução do mito do homem passa pela desconstrução do poder da consciência. Ver, do ponto de vista historiográfico Bárbara Freitag (1) e, do ponto de vista ontológico, a discussão em torno da identidade e diferença, que já remonta a Parmênides no fragmento III ("pois o mesmo é pensar e ser" (2), quando referencia o mesmo (autò) como o núcleo da identidade e diferença, ou seja, do ser e do perceber. Até onde podemos entender o noein (pensar, perceber) como sendo o próprio da consciência?


Referências:
(1) A teoria crítica ontem e hoje. São Paulo: Brasiliense, 1986.
(2) Os pensadores originários. Petrópolis: Vozes, 1991, p.45.


Identidade e diferença

O homem aparece como diferença de identidade e diversidade, na medida em que ele já pertence e vige na identidade/diversidade. Mas estas se fazem pre-sentes na diferença enquanto apelo e escuta, ou, como diz Heidegger, como vigilância. Daí denominar os poetas e pensadores vigias do Ser.


Fonte e mito

É necessário pensar a construção do homem a partir do mito. Isto pode ser visto no Estudo do Jaa Torrano (1) Quando trata das três fases e três linhagens dos deuses, ele nota que o homem moderno é concebido em duas tendências: ou subjetividade psicológica, ou através das leis estabelecidas pela ciência que podem ser naturais, sociais, econômicas, culturais etc. (2) É nessa tensão que se dá a personalidade. Esta vem de persona, máscara. Há aí uma construção do homem de cunho metafísico, baseada na aparência e no falso, a persona. Também é uma construção do homem baseada na de-cisão do agir do homem, onde a ação de homem tem seu fundamento na subjetividade e sua vontade, em seu querer. Mas não é isso o que mito diz. O homem e sua construção, para o mito, advêm na Môira. Mas o que é Môira? Diz Torrano: "uma antiga expressão com que os gregos designaram a Fatalidade fosse Môira ou Môirai; lote ou lotes: embora essa expressão fosse suscetível de receber e concebesse uma ideação antropormófica, fica claro neste nome Môira que a Fatalidade de modo algum era concebida como uma transcendência (hyperousía), mas como imanente (parousía). A Fatalidade, Môira, é a condição constitutiva do próprio ser em que ela se exprime, e não uma imposição que se exercesse sobre o ser a que ela acompanhasse. Essa distinção é da maior importância para percebermos o quanto o pensamento arcaico é concreto, isto é, centrado na parousía: ele tende com a sua maior força para a Presença, o ser para ele se dá como Presença" (3). Essa presença é aletheia (4). Môira e alétheia, enquanto apropriação do que é próprio (5), se dá na medida em que todo ente, cada Deus, está na "Proximidade das origens" (6), "mas Origens como as fontes permanentes e elementos constitutivos da vida" (7). Porém, é importante compreender que vida é entendida aí como dzoé e não como bíos. (A esse respeito, cabe também conferir Heidegger (8) e Leão (9).) Por isso, concretamente temos quatro fontes: terra, céu, Éros e Caos.


Referências:
(1) TORRANO, Jaa. "O mundo como função de musas". In: HESÍODO. Teogonia. São Paulo: Iluminuras, 1992, p. 49.
(2) Idem, p. 51.
(3) Idem, p. 52.
(4) Idem, p. 51.
(5) Idem, p. 52.
(6) Idem, p. 54.
(7) Idem, loc. cit..
(8) HEIDEGGER, Martin. Heráclito. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998.
(9) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1992, p.130 e seguintes.

Ver também

Ferramentas pessoais