Homem
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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+ | :(7) Idem, loc. cit.. | ||
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+ | :(8) HEIDEGGER, Martin. ''Heráclito''. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998. | ||
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+ | :(9) LEÃO, Emmanuel Carneiro. ''Aprendendo a pensar II''. Petrópolis: Vozes, 1992, p.130 e seguintes. | ||
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* [[diferença]] | * [[diferença]] | ||
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Edição de 00h49min de 28 de Dezembro de 2008
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Desconstrução do homem
- Na realidade, a desconstrução do mito do homem passa pela desconstrução do poder da consciência. Ver, do ponto de vista historiográfico Bárbara Freitag (1) e, do ponto de vista ontológico, a discussão em torno da identidade e diferença, que já remonta a Parmênides no fragmento III ("pois o mesmo é pensar e ser" (2), quando referencia o mesmo (autò) como o núcleo da identidade e diferença, ou seja, do ser e do perceber. Até onde podemos entender o noein (pensar, perceber) como sendo o próprio da consciência?
- Referências:
- (1) A teoria crítica ontem e hoje. São Paulo: Brasiliense, 1986.
- (2) Os pensadores originários. Petrópolis: Vozes, 1991, p.45.
Identidade e diferença
- O homem aparece como diferença de identidade e diversidade, na medida em que ele já pertence e vige na identidade/diversidade. Mas estas se fazem pre-sentes na diferença enquanto apelo e escuta, ou, como diz Heidegger, como vigilância. Daí denominar os poetas e pensadores vigias do Ser.
Fonte e mito
- É necessário pensar a construção do homem a partir do mito. Isto pode ser visto no Estudo do Jaa Torrano (1) Quando trata das três fases e três linhagens dos deuses, ele nota que o homem moderno é concebido em duas tendências: ou subjetividade psicológica, ou através das leis estabelecidas pela ciência que podem ser naturais, sociais, econômicas, culturais etc. (2) É nessa tensão que se dá a personalidade. Esta vem de persona, máscara. Há aí uma construção do homem de cunho metafísico, baseada na aparência e no falso, a persona. Também é uma construção do homem baseada na de-cisão do agir do homem, onde a ação de homem tem seu fundamento na subjetividade e sua vontade, em seu querer. Mas não é isso o que mito diz. O homem e sua construção, para o mito, advêm na Môira. Mas o que é Môira? Diz Torrano: "uma antiga expressão com que os gregos designaram a Fatalidade fosse Môira ou Môirai; lote ou lotes: embora essa expressão fosse suscetível de receber e concebesse uma ideação antropormófica, fica claro neste nome Môira que a Fatalidade de modo algum era concebida como uma transcendência (hyperousía), mas como imanente (parousía). A Fatalidade, Môira, é a condição constitutiva do próprio ser em que ela se exprime, e não uma imposição que se exercesse sobre o ser a que ela acompanhasse. Essa distinção é da maior importância para percebermos o quanto o pensamento arcaico é concreto, isto é, centrado na parousía: ele tende com a sua maior força para a Presença, o ser para ele se dá como Presença" (3). Essa presença é aletheia (4). Môira e alétheia, enquanto apropriação do que é próprio (5), se dá na medida em que todo ente, cada Deus, está na "Proximidade das origens" (6), "mas Origens como as fontes permanentes e elementos constitutivos da vida" (7). Porém, é importante compreender que vida é entendida aí como dzoé e não como bíos. (A esse respeito, cabe também conferir Heidegger (8) e Leão (9).) Por isso, concretamente temos quatro fontes: terra, céu, Éros e Caos.
- Referências:
- (1) TORRANO, Jaa. "O mundo como função de musas". In: HESÍODO. Teogonia. São Paulo: Iluminuras, 1992, p. 49.
- (2) Idem, p. 51.
- (3) Idem, p. 52.
- (4) Idem, p. 51.
- (5) Idem, p. 52.
- (6) Idem, p. 54.
- (7) Idem, loc. cit..
- (8) HEIDEGGER, Martin. Heráclito. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998.
- (9) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1992, p.130 e seguintes.