Música
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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Edição de 04h36min de 30 de Abril de 2009
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- Não podemos restringir a linguagem à fala/língua, senão as demais artes além da poesia não seriam linguagem. E isso não é verdade. É importante perceber que: a) a música está ligada à fala que como tal é sempre musical. Daí a invenção da lira ligar essas duas facetas. Mas a Musa precede a lira, até porque a lira é apenas uma imagem-questão para manifestar o verbo-Hermes como criador da lira/música, onde o próprio Hermes é a imagem-questão da própria linguagem enquanto verbo; b) por seu lado, a poesia está ligada à ação-verbo-Hermes, mas enquanto poíesis, isto é, o vigor poético ou a ação enquanto sentido do ser, o ético. Por isso, a música e a linguagem, o mesmo, estão ligados à poíesis ou vigor poético como sintaxe: o ordenamento da realidade em mundo. Linguagem é sintaxe poética, é mundo, é éthos (morada). A música cria sintaxe poética, daí ser linguagem. O mesmo ocorre com a dança e outras artes.
2
- "A música na sua dinâmica conjuga músico, obra e ouvinte. O músico por sua vez apresenta o encontro do compositor, intérprete e ouvinte. Nos três casos, temos apenas um, que é sempre o mesmo, para que música venha a ser música e conjuntura: músico e música devem ser presença deste mesmo, onde música só é no tempo em que há músico e vice-versa. Onde há músico, portanto, há música. No fazer musical a música se faz fazendo realidade." (1) "... pois quando estamos desatentos ao querer ouvir música não nos damos conta de que ouvir música é aprender a ouvir e de que pensar um pensamento é aprender a pensar." (2)
- Referência:
- RAMALHO, Celso Garcia de Araújo. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciência da Literatura. Área de Poéica. Faculdade de Letras da UFRJ.
3
- "A música, como uma linguagem do mistério, isto é, do con-centrar-se, foi abordada de modo a que não se incidisse nos chavões técnicos tão a gosto dos entendidos. A crítica inicial à técnica foi o modo encontrado para que definitivamente se afastasse deste trabalho a tentação de cairmos na comodidade, tão característica dos músicos, de produzir os habituais simulacros do pensar, excluindo os não-iniciados nas artimanhas das descodificações de notações ou análises especificamente 'musicais'. Pretendemos falar de música desde um outro encaminhamento, em que a musicalidade se estabeleça menos pelo desencadear de uma verbosidade de costume, verbosidade esta constituidora de um simulacro de que a música efetivamente esteja sendo tematizada, do que por uma modalidade de entendimento que faça com que a memória tenha um papel decisivo, seja perspectivamente, seja prospectivamente, enquanto estabelecimento do sentido entre o que se tematiza, o modo como se tematiza e a própria música constituída enquanto por-em-ação do que, nela música, foi, é e será memorável." (1)
- Referência:
- (1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, pp. 33-34.
4
- "O sentido musical é estabelecido pela memória. É esta que, instituindo o memorável como acontecimento, permite disposição para o estabelecimento do sentido. A memória, por sua disposição à unidade, interliga os elementos musicais fazendo com que o sentido, isto é, o vigor da vigência do que a música é, seja estabelecido. Poderíamos mesmo dizer, inicialmente, ser a música uma arte da memória, quer dizer: uma arte em que a memória tenha sua vigência como sendo o maior grau de sua (da memória) própria realização." (1)
- Referência:
- (1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 125.
5
- "A palavra música se diz em grego he mousiké, e significa a arte das musas. A palavra é claramente aparentada com musa, não apenas com respeito à semântica, mas também sob o ponto de vista fonético. A palavra musa aparece quase por inteiro na palavra música, e é incontestável que possuem o mesmo radical. [...] Entendemos as musas como a manifestação, possibilidade e substantivação da unidade. Assim, a música poderia ter alguns sentidos pouco comuns como: proclamar solenemente a unidade, ou ainda, ser útil à unidade, ou ainda ser capaz de realizar a unidade." (1)
- Referência:
- (1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 144.
6
- "Música diz fundamentalmente o estabelecimento de sentidos a partir da apresentação de si mesma. A música é, assim, em sua substantividade mesma e própria. Dela, a rigor, só se pode dizer que é. A música não admite qualquer formulação predicativa. Ela é a apresentação de si mesma e nesta apresentação se dá o sentido. Dessa forma, por não apresentar-se numa dimensão adjetiva, na verdade, a música se dá numa instância não-representativa. Ela é." (1)
- Referência:
- (1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 151.
7
- "A música é a mágica que toca profundamente as vibrações do vir a ser de nossos descontentamentos e, mais do que qualquer outra coisa, mergulha nossos projetos de ser nas ondas do não ser e do vir a ser. Nas profundezas das vibrações se torna presente a compertinência de todas as diferenças. [...] Para a Filosofia, a música não é uma arte entre outras artes. Não há uma musa da música. A música é que é a musa de todas as musas. Por isso as artes são todas musicais e são arte na medida de sua musicalidade. Pois na música se dá o mais alto grau de realização de qualquer real. Questionando em tudo a realidade de todos os empenhos e desempenhos, a Filosofia se torna assim a música das realizações." (1)
- Referência:
- (1) LEÂO, Emmanuel Carneiro, apud JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 152.
- Ver também:
8
- "Música é des-esquecimento, é des-velamento constante. Na sua incapacidade de representar o que quer que seja se con-junta e se con-vence na sua abertura para a experiência da verdade. Essa incapacidade é, a um tempo, sua maior debilidade e sua maior força. É precisamente por essa incapacidade e nessa incapacidade que a música penetra pelos vãos de toda e qualquer forma artística, quer dizer: é por essa impossibilidade de se identificar com o que quer que pretenda ou se pretenda nela representar que, sorrateiramente, ela pode penetrar, invisível, como as musas, 'oculta por muita névoa', nos limites de qualquer outra arte.
- "[...] Música é, assim, a possibilidade de instauração do poético. Música é a essência mesma da criação de uma espácio-temporalidade poética. Espácio-temporalidade esta que converta em óbvio o que possa parecer absurdo, e vice-versa." (1)
- Referência:
- (1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 153.
9
- "A música traz consigo sempre a virtualidade da unidade. É a unidade de uma determinada ordenação ou des-ordenação, de elementos sonoros e não-sonoros que música realiza ao se realizar. É precisamente a esta unidade, à substantivação desta unidade, que chamamos música" (1).
- Referência:
- (1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 155.
10
- "Dentre os modos como a realidade ainda insiste em se configurar como mistério e movimento, se encontra a música. Esta é a mais concentrada das linguagens, na medida em que o seu percurso é no sentido de, a partir de sua possibilidade, concentrar-se. Concentrando-se em seu próprio âmago e desse modo estabelecendo sentido, a música é linguagem, por assim dizer, indecifrável, que faz sentido justamente a partir de sua indecifrabilidade. A música é o mistério insondável de um modo de substantivamente apresentar-se e, dessa maneira, configura sentido e restabelece sempre a possibilidade do mistério não se deixar decifrar" (1).
- Referência:
- (1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 171-2.
11
- "A música não é o outro do real, ela é o real com todos as suas possibilidades de fazer viger sentidos e mistérios. Às tentativas positivas de erradicação dos mistérios, a música contrapõe a dinâmica de seu modo de ser substantivamente. Às tentativas de decifração de seus mistérios, a música contrapõe a sua própria possibilidade de se dis-por substantivamente ao sentido" (1).
- Referência:
- (1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 172.
12
- "Falar de música não é realizá-la. Falar de música é uma possibilidade de abstratamente fazê-la aparecer. Mas na fala a música enquanto música se ausenta. A música tem um comprometimento essencial com o concreto. Nela, os planos ôntico e ontológico se fundem. A música é uma linguagem substantiva e, assim, desprovida, enquanto linguagem, da possibilidade de representar, de medir, de identificar, outra coisa que não seja ela própria ou por ela própria. Desse modo, ela é ontologicamente retrátil à analogia, à análise e à ideia" (1).
- Referência:
- (1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 175.
13
- "É na música que fica exposta a insuficiência e puerilidade dos conceitos genéricos na sua vã tentativa de erradicar as singularidades que, de um modo ou de outro, cada fenômeno, ao se apresentar, traz consigo" (1).
- Referência:
- (1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 183.
- Ver também:
14
- "Música é a dicção originária do mais originário dos seres e é justamente a partir dessa originariedade que deve ser pensada, tocada e com-posta. Música é uma modalidade do pensar-poético. Fora daí ficam os simulacros, os modismos, as representações" (1).
- Referência:
- (1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 185.
- Ver também: