Morte

De Dicionrio de Potica e Pensamento

(Diferença entre revisões)
(3)
Linha 1: Linha 1:
==1==
==1==
-
:“Essencialmente tanatafórico, portador da vida que amadurece a morte dentro de si mesmo, o homem, já de si, é uma ironia suprema, porque o fundo do seu ser se revela sem fundo nem fundamento, sem essência nem substância. À [[finitude]] radical ou carência congênita do homem, que o faz participar do duplo domínio do ser e do não-ser ou da vida e da morte, corresponde a linguagem poética da ironia [questão], que não fala nem cala, mas assinala sempre o que não se pode dizer.(1)
+
:"Essencialmente tanatafórico, portador da [[vida]] que amadurece a morte dentro de si mesmo, o [[homem]], já de si, é uma ironia suprema, porque o fundo do seu ser se revela sem fundo nem [[fundamento]], sem essência nem substância. À [[finitude]] radical ou carência congênita do homem, que o faz participar do duplo domínio do ser e do não-ser ou da vida e da morte, corresponde a linguagem poética da ironia, que não fala nem cala, mas assinala sempre o que não se pode dizer." (1)
-
:[[Ironia]] forma-se do grego eironeia, proveniente do verbo grego: eiro ou eréo, que significa: perguntar, questionar. Todo questionar questiona porque não sabe e, ao mesmo tempo, porque já sabe (atematicamente), senão nem poderia perguntar. No e pelo perguntar há um krinenin, isto é, um distinguir, ou seja, um diferenciar. Todo questionar pressupõe um [[diálogo]]. Portanto, o questionar exercita sempre um criticar, no sentido de diferenciar, pelo e no diálogo. Todo diálogo já é, em si, um exercer diferenças. A ironia nas obras de arte funda explicitamente o diálogo de leitura como um diferenciar e um questionar. O diferenciar já traz em si o levar no entre em que o ser humano já desde sempre está lançado. Portanto, todo humano do ser humano se dá como ironia, porque em vida experiencia a morte e experienciando a morte afirma a vida.  
+
:[[Ironia]] forma-se do grego ''eironeía'', proveniente do verbo grego: ''eíro'' ou ''eréo'', que significa: perguntar, questionar. Todo questionar questiona porque não sabe e, ao mesmo tempo, porque já sabe (atematicamente), senão nem poderia perguntar. No e pelo perguntar há um ''krínein'', isto é, um distinguir, ou seja, um diferenciar. Todo questionar pressupõe um [[diálogo]]. Portanto, o questionar exercita sempre um criticar, no sentido de diferenciar, pelo e no diálogo. Todo diálogo já é, em si, um exercer diferenças. A ironia nas obras de [[arte]] funda explicitamente o diálogo de [[leitura]] como um diferenciar e um questionar. O diferenciar já traz em si o levar no [[entre]] em que o ser humano já desde sempre está lançado. Portanto, todo humano do ser humano se dá como ironia, porque em vida experiencia a morte e experienciando a morte afirma a vida. ]
-
:Referências:
+
:- [[Manuel Antônio de Castro]]
-
:(1)SOUZA, Ronaldes de Melo e. ''Introdução à poética da ironia''. In: Linha de pesquisa. Revista de Letras da UVA, Rio de Janeiro, Ano 1, out. de 2000.
+
 
 +
 
 +
:Referência:
 +
 
 +
:(1)SOUZA, Ronaldes de Melo e. "Introdução à poética da ironia". In: ''Linha de pesquisa. Revista de Letras da UVA'', Rio de Janeiro, Ano 1, out. de 2000.
==2==
==2==
-
:A questão da morte já aparece nos ritos iniciáticos. Todo rito de [[iniciação]] implica uma transformação e, automaticamente, a morte de algo para o surgimento também de algo. O verbo iniciar é, pois, ambíguo: iniciar é introduzir, porque implica também o fazer morrer. A travessia se dá na tensão vida/morte di-mensionada ''na'' e ''como'' experienciação.
+
:A questão da morte já aparece nos ritos iniciáticos. Todo [[rito]] de [[iniciação]] implica uma transformação e, automaticamente, a morte de algo para o surgimento também de algo. O verbo iniciar é, pois, ambíguo: [[iniciar]] é introduzir, porque implica também o fazer morrer. A [[travessia]] se dá na tensão [[vida]]/morte di-mensionada ''na'' e ''como'' experienciação.
 +
 
 +
 
 +
:- [[Manuel Antônio de Castro]]
== 3 ==
== 3 ==
-
:"–Antes de morrer se [[vida|vive]], Lóri. É uma naturalidade morrer, transformar-se, transmutar-se. Nunca se inventou nada além de morrer. Como nunca se inventou um modo [[diferença|diferente]] de [[amor]] de [[corpo]] que, no entanto, é [[estranho]] e cego e no entanto cada pessoa, sem saber da outra, reinventa a cópia. Morrer deve ser um gozo natural. Depois de morrer não se vai ao [[paraíso]], morrer é que é o paraíso" (1).
+
:"–Antes de morrer se [[vida|vive]], Lóri. É uma naturalidade morrer, transformar-se, transmutar-se. Nunca se inventou nada além de morrer. Como nunca se inventou um modo [[diferença|diferente]] de [[amor]] de [[corpo]] que, no entanto, é [[estranho]] e cego e no entanto cada pessoa, sem saber da outra, reinventa a cópia. Morrer deve ser um gozo natural. Depois de morrer não se vai ao [[paraíso]], morrer é que é o paraíso." (1)

Edição de 16h09min de 18 de Abril de 2009

1

"Essencialmente tanatafórico, portador da vida que amadurece a morte dentro de si mesmo, o homem, já de si, é uma ironia suprema, porque o fundo do seu ser se revela sem fundo nem fundamento, sem essência nem substância. À finitude radical ou carência congênita do homem, que o faz participar do duplo domínio do ser e do não-ser ou da vida e da morte, corresponde a linguagem poética da ironia, que não fala nem cala, mas assinala sempre o que não se pode dizer." (1)
Ironia forma-se do grego eironeía, proveniente do verbo grego: eíro ou eréo, que significa: perguntar, questionar. Todo questionar questiona porque não sabe e, ao mesmo tempo, porque já sabe (atematicamente), senão nem poderia perguntar. No e pelo perguntar há um krínein, isto é, um distinguir, ou seja, um diferenciar. Todo questionar pressupõe um diálogo. Portanto, o questionar exercita sempre um criticar, no sentido de diferenciar, pelo e no diálogo. Todo diálogo já é, em si, um exercer diferenças. A ironia nas obras de arte funda explicitamente o diálogo de leitura como um diferenciar e um questionar. O diferenciar já traz em si o levar no entre em que o ser humano já desde sempre está lançado. Portanto, todo humano do ser humano se dá como ironia, porque em vida experiencia a morte e experienciando a morte afirma a vida. ]


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1)SOUZA, Ronaldes de Melo e. "Introdução à poética da ironia". In: Linha de pesquisa. Revista de Letras da UVA, Rio de Janeiro, Ano 1, out. de 2000.


2

A questão da morte já aparece nos ritos iniciáticos. Todo rito de iniciação implica uma transformação e, automaticamente, a morte de algo para o surgimento também de algo. O verbo iniciar é, pois, ambíguo: iniciar é introduzir, porque implica também o fazer morrer. A travessia se dá na tensão vida/morte di-mensionada na e como experienciação.


- Manuel Antônio de Castro


3

"–Antes de morrer se vive, Lóri. É uma naturalidade morrer, transformar-se, transmutar-se. Nunca se inventou nada além de morrer. Como nunca se inventou um modo diferente de amor de corpo que, no entanto, é estranho e cego e no entanto cada pessoa, sem saber da outra, reinventa a cópia. Morrer deve ser um gozo natural. Depois de morrer não se vai ao paraíso, morrer é que é o paraíso." (1)


Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. 4ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974, p. 63.
Ferramentas pessoais