Disposição
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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:Chama-se posição à própria eclosão da realidade em cada [[sendo]]. Portanto, toda posição se dá em três di-mensões: o [[limite]], o [[não-limite]] e um entre, em que o ser chega ao saber e o saber ao ser. Esse [[entre]] é o ser humano enquanto o lugar da eclosão e [[desvelamento]] da realidade no que lhe é [[próprio]]. Nesse sentido, a posição está sempre referenciada ao ser humano, mas onde este não é quem origina a posição. Como ser do entre, nele o ser se dis-põe. Na dis-posição o ser se dispõe, isto é, é ele a origem de toda ação que se dá no ser humano enquanto não há apenas posição, mas dis-posição de [[sentido]]. Dando sentido ao [[agir]] do homem na dis-posição o próprio ser se dis-põe como sentido, isto é, como ''[[lógos]]'', [[linguagem]], [[mundo]], [[verdade]]. Não é o ser humano que dis-põe, mas o ser que se dispõe. No esquecimento desse ''se'' está todo o esquecimento do ser. É também nesse ''se'' que podemos apreender e compreender a própria [[obra]] de [[arte]] enquanto o lugar de [[referência]] de poeta e [[poesia]], de ser humano e ser. Toda posição é, portanto, um sendo. Nele, nos advém todo [[enigma]] do não-ser e ser do sendo. Enquanto operar da [[verdade]], a obra-de-arte é um sendo onde se dispõe a poesia. Os gregos denominavam o sendo de ''[[ón]]''. Sua tradução por [[ente]] efetua o esquecimento do ser, na medida em que reduz o ser ao [[fundamento]] [[abstrato]] dos entes, eliminando o ''se'' do dispor-se. | :Chama-se posição à própria eclosão da realidade em cada [[sendo]]. Portanto, toda posição se dá em três di-mensões: o [[limite]], o [[não-limite]] e um entre, em que o ser chega ao saber e o saber ao ser. Esse [[entre]] é o ser humano enquanto o lugar da eclosão e [[desvelamento]] da realidade no que lhe é [[próprio]]. Nesse sentido, a posição está sempre referenciada ao ser humano, mas onde este não é quem origina a posição. Como ser do entre, nele o ser se dis-põe. Na dis-posição o ser se dispõe, isto é, é ele a origem de toda ação que se dá no ser humano enquanto não há apenas posição, mas dis-posição de [[sentido]]. Dando sentido ao [[agir]] do homem na dis-posição o próprio ser se dis-põe como sentido, isto é, como ''[[lógos]]'', [[linguagem]], [[mundo]], [[verdade]]. Não é o ser humano que dis-põe, mas o ser que se dispõe. No esquecimento desse ''se'' está todo o esquecimento do ser. É também nesse ''se'' que podemos apreender e compreender a própria [[obra]] de [[arte]] enquanto o lugar de [[referência]] de poeta e [[poesia]], de ser humano e ser. Toda posição é, portanto, um sendo. Nele, nos advém todo [[enigma]] do não-ser e ser do sendo. Enquanto operar da [[verdade]], a obra-de-arte é um sendo onde se dispõe a poesia. Os gregos denominavam o sendo de ''[[ón]]''. Sua tradução por [[ente]] efetua o esquecimento do ser, na medida em que reduz o ser ao [[fundamento]] [[abstrato]] dos entes, eliminando o ''se'' do dispor-se. | ||
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+ | : (1) HEIDEGGER, Martin. ''Que é isto a filosofia?''; ''Identidade e diferença''. Petrópolis: Vozes; São Paulo: Duas Cidades, 2006, p. 29. |
Edição de 03h33min de 23 de Julho de 2016
1
- "A dis-posição, toda disposição, só pode ser disposição, não por um ato de consciência, mas porque radica originariamente no entre. É a intuição originária. Esta já traz em si o conhecer e a reflexão, mas muito mais" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre'". In: Revista Tempo Brasileiro, nº 164. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006, p. 11.
2
- Chama-se posição à própria eclosão da realidade em cada sendo. Portanto, toda posição se dá em três di-mensões: o limite, o não-limite e um entre, em que o ser chega ao saber e o saber ao ser. Esse entre é o ser humano enquanto o lugar da eclosão e desvelamento da realidade no que lhe é próprio. Nesse sentido, a posição está sempre referenciada ao ser humano, mas onde este não é quem origina a posição. Como ser do entre, nele o ser se dis-põe. Na dis-posição o ser se dispõe, isto é, é ele a origem de toda ação que se dá no ser humano enquanto não há apenas posição, mas dis-posição de sentido. Dando sentido ao agir do homem na dis-posição o próprio ser se dis-põe como sentido, isto é, como lógos, linguagem, mundo, verdade. Não é o ser humano que dis-põe, mas o ser que se dispõe. No esquecimento desse se está todo o esquecimento do ser. É também nesse se que podemos apreender e compreender a própria obra de arte enquanto o lugar de referência de poeta e poesia, de ser humano e ser. Toda posição é, portanto, um sendo. Nele, nos advém todo enigma do não-ser e ser do sendo. Enquanto operar da verdade, a obra-de-arte é um sendo onde se dispõe a poesia. Os gregos denominavam o sendo de ón. Sua tradução por ente efetua o esquecimento do ser, na medida em que reduz o ser ao fundamento abstrato dos entes, eliminando o se do dispor-se.
3
- " A dis-posição não é um concerto de sentimentos que emergem casualmente, que apenas acompanham a correspondência. Se caracterizarmos a filosofia como a correspondência dis-posta, não é absolutamente intenção nossa entregar o pensamento às mudanças fortuitas e vacilações de estados de ânimo. Antes trata-se unicamente de apontar para o fato de que toda precisão do dizer se funda numa disposição da correspondência, da correspondência digo eu, à escuta do apelo" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. Que é isto a filosofia?; Identidade e diferença. Petrópolis: Vozes; São Paulo: Duas Cidades, 2006, p. 29.