Rio

De Dicionário de Poética e Pensamento

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:"O rio é, ao mesmo tempo, [[permanência]] e [[mudança]]. O trânsito de suas águas gesticula o inefável de suas margens. Estas, não indicam um caminho. Em vez disso, suscitam um itinierário de dúvidas e questionamentos, na medida em que apontam ao horizonte do [[não-saber]]. Mais ainda, desdobram-se na tensão vida-e-morte enquanto incursão na [[travessia]] do homem, posto que só se dão como [[margem]] porque há um fluxo de águas que as faz margear. As margens não são margens porque delimitam o curso do rio, mas porque o próprio rio doa sua condição de permanência" (1).
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: "... amo os grandes rios, pois são profundos como a [[alma]] do [[homem]]. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranquilos e escuros como os [[sofrimentos]] dos homens. Amo ainda mais uma coisa de nossos grandes rios: sua [[eternidade]]. Sim, rio é uma palavra mágica para conjugar eternidade" (1).
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:(1) PESSANHA, Fábio Santana. "O rio como insólito na terceira margem do homem". In: GARCÃA, Flavio; PINTO, Marcello de Oliveira; MICHELLI, Regina (orgs.). ''[http://www.dialogarts.uerj.br/arquivos/simposios.pdf O insólito em questão]'' – Anais do V Painel Reflexões sobre o Insólito na narrativa ficcional/ I Encontro Nacional Insólito como Questão na Narrativa Ficcional. Rio de Janeiro: Dialogarts, 2010, p. 30.
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: (1) '''Entrevista com Guimarães [[Rosa]], conduzida por Günter Lorenz no Congresso de Escritores Latino-Americanos, em janeiro de 1965 e publicada em seu livro: ''Diálogo com a América Latina''. São Paulo: E.P.U., 1973. Acessada no site: www.tirodeletra.com.br/entrevistas/Guimarães Rosa - 1965.htm, p. 10.'''
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: "São muito raros os homens que sabem [[escutar]] e ainda não encontrei nenhum que dominasse essa arte com tamanha perfeição. Também nesse ponto serei teu aprendiz [diz [[Sidarta]]. - Hás de aprender isso - replicou Vasudeva -, porém, não de mim. Quem me ensinou a escutar foi o rio e ele será o teu [[mestre]] também. O rio sabe tudo e tudo podemos aprender dele. Olha, há mais uma coisa que a água já te mostrou: que é bom descer, abaixar-se, procurar as profundezas" (1).
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:"O rio flui constante, repentina e inauguralmente em cada lugar de seu curso; logo, ele é a [[permanência]] tensional entre a [[fonte]] e a foz não só nos lugares onde nasce e deságua, mas em todo seu [[corpo]] fluvial. Ao desaguar no mar, o rio se plenifica, pois é tanto mais rio quanto o mar o possibilita ser" (1).
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: (1) HESSE, Hermann. '''[[Sidarta]]. Trad. Herbert Caro. Rio de Janeiro: O Globo, 2003, p. 88.'''
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:(1) PESSANHA, Fábio Santana. "Homem: corpo insólito". In: GARCÃA, Flavio; PINTO, Marcello de Oliveira; MICHELLI, Regina (orgs.). ''[http://www.dialogarts.uerj.br/arquivos/o_insolito_e_seu_duplo_comunicacoes_livres.pdf O insólito e seu duplo]'' – Anais do VI Painel Reflexões sobre o Insólito na narrativa ficcional/ I Encontro Regional Insólito como Questão na Narrativa Ficcional. Rio de Janeiro: Dialogarts, 2010, p. 141.
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: "Dize-me também se o [[rio]] te comunicou o [[misterioso]] [[fato]] de que o [[tempo]] não existe? - perguntou Sidarta certa feita.
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: O rosto de Vasudeva iluminou-se num vasto sorriso.
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: - Sim, [[Sidarta]] - respondeu. - Acho que te referes ao [[fato]] de que o [[rio]] se encontra ao mesmo [[tempo]] em toda [[parte]], na [[fonte]] tanto como na foz, nas cataratas e na balsa, nos estreitos, no [[mar]] e na serra, em toda [[parte]], ao [[mesmo]] [[tempo]]; de que para ele há apenas o [[presente]], mas nenhuma sombra de [[passado]] nem de [[futuro]]" (1).
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: (1) HESSE, Hermann. '''[[Sidarta]]. Trad. Herbert Caro. Rio de Janeiro: O Globo, 2003, p. 90.'''

Edição atual tal como 21h47min de 18 de março de 2025

1

"... amo os grandes rios, pois são profundos como a alma do homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranquilos e escuros como os sofrimentos dos homens. Amo ainda mais uma coisa de nossos grandes rios: sua eternidade. Sim, rio é uma palavra mágica para conjugar eternidade" (1).


Referência:
(1) Entrevista com Guimarães Rosa, conduzida por Günter Lorenz no Congresso de Escritores Latino-Americanos, em janeiro de 1965 e publicada em seu livro: Diálogo com a América Latina. São Paulo: E.P.U., 1973. Acessada no site: www.tirodeletra.com.br/entrevistas/Guimarães Rosa - 1965.htm, p. 10.

2

"São muito raros os homens que sabem escutar e ainda não encontrei nenhum que dominasse essa arte com tamanha perfeição. Também nesse ponto serei teu aprendiz [diz Sidarta. - Hás de aprender isso - replicou Vasudeva -, porém, não de mim. Quem me ensinou a escutar foi o rio e ele será o teu mestre também. O rio sabe tudo e tudo podemos aprender dele. Olha, há mais uma coisa que a água já te mostrou: que é bom descer, abaixar-se, procurar as profundezas" (1).


Referência:
(1) HESSE, Hermann. Sidarta. Trad. Herbert Caro. Rio de Janeiro: O Globo, 2003, p. 88.

3

"Dize-me também se o rio te comunicou o misterioso fato de que o tempo não existe? - perguntou Sidarta certa feita.
O rosto de Vasudeva iluminou-se num vasto sorriso.
- Sim, Sidarta - respondeu. - Acho que te referes ao fato de que o rio se encontra ao mesmo tempo em toda parte, na fonte tanto como na foz, nas cataratas e na balsa, nos estreitos, no mar e na serra, em toda parte, ao mesmo tempo; de que para ele há apenas o presente, mas nenhuma sombra de passado nem de futuro" (1).


Referência:
(1) HESSE, Hermann. Sidarta. Trad. Herbert Caro. Rio de Janeiro: O Globo, 2003, p. 90.
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