Mímesis
De Dicionrio de Potica e Pensamento
(Diferença entre revisões)
(→2) |
(→2) |
||
(17 edições intermediárias não estão sendo exibidas.) | |||
Linha 1: | Linha 1: | ||
- | ==1== | + | __NOTOC__ |
- | :A questão [[poética]] articula-se com a questão [[mundo]] | + | == 1 == |
+ | : A [[questão]] [[poética]] articula-se com a [[questão]] [[mundo]], na medida em que este implica sempre [[linguagem]] em [[sentido]] [[originário]], isto é, a [[realidade]] se dando em [[sentido]], o [[mundo]]. A ''[[mímesis]]'' está ligada à [[questão]] da [[criatividade]] ou da [[essência]] do [[agir]] e, por extensão, diz respeito ao [[problema]] da [[representação]]. Daí ser importante para o aprofundamento da [[questão]] a [[leitura]] de '''A poética ocidental''' (1), que fala sobre a [[criatividade]] [[poética]]. [[Mímesis]] diz originariamente o [[vigorar]] da [[realidade]]. | ||
- | : | + | : - [[Manuel Antônio de Castro]] |
- | + | ||
- | ==2== | + | |
- | :Em geral trata-se do problema da | + | : Referência: |
+ | |||
+ | : (1) DOLEIZEL, Lubomir. '''A poética ocidental'''. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1990, pp. 22-3. | ||
+ | |||
+ | == 2 == | ||
+ | : Em geral trata-se do [[problema]] da [[mímesis]] numa comparação entre a coisa natural e a [[coisa]] cultural (que pode ser igual, pior ou melhor). Nessa comparação e [[relação]] se esquecem duas facetas essenciais. A primeira: o vigor da ''[[phýsis]]'' enquanto manifestação (''phýsis'': o viço dominante daquilo que brota e permanece), ou seja, é pelo próprio vigor da ''phýsis'' que se dá o agir do homem, como se o homem completasse o agir da ''phýsis'', pois não podemos esquecer que o homem também é ''phýsis''. A segunda relação é que a mímesis se dá enquanto [[linguagem]], mas esta linguagem não é uma produção da mímesis, mas da própria ''phýsis'' enquanto ''[[lógos]]'' ([[linguagem]]). Assim sendo, a grande questão da [[mímesis]] eclode na questão da linguagem ([[sentido]] e [[verdade]]) e da ''[[poíesis]]'', enquanto o agir e seu sentido e valor ético. A grande questão da [[mímesis]] em Platão está relacionada à sua concepção de verdade e da leitura da ''phýsis'' e da ''[[diánoia]]'' enquanto ''lógos'' como ''[[Eîdos]]''. A tradução em Platão do ''Eîdos'' por ideia, e a [[mímesis]] por [[representação]], são equívocas e não correspondem à questão que, para [[Platão]], está em questão: o que é que no fluxo das mudanças permanece? | ||
+ | |||
+ | |||
+ | : - [[Manuel Antônio de Castro]] | ||
==3== | ==3== | ||
- | :Por que surge com Aristóteles | + | :Por que surge com Aristóteles a [[questão]] da mímesis? Ele faz a distinção essencial entre os ''[[phýsis|phýsei]] ónta'' dos ''[[tekhnes]] ónta'': "Os primeiros são aquilo que no seu emergir se produz a partir de si mesmo; os outros são aquilo que é produzido através da [[representação]] e do [[fazer]] humanos" (1). Se os primeiro têm o [[princípio]] em si mesmo, os outros precisam de um outro princípio, justamente o princípio da [[tekhne]]. Mas este não é separado da [[physis]], porém, é esta se dando em [[plenitude]] de [[realizão]]. Sem physis não há techne. |
+ | |||
+ | |||
+ | :- [[Manuel Antônio de Castro]] | ||
- | : | + | :Referência: |
- | + | ||
- | + | :(1) HEIDEGGER, Martin. "A sentença de Anaximandro". In: ''Os Pré-socráticos'' – Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 21. | |
- | + | ||
- | + |
Edição atual tal como 02h14min de 29 de Junho de 2021
1
- A questão poética articula-se com a questão mundo, na medida em que este implica sempre linguagem em sentido originário, isto é, a realidade se dando em sentido, o mundo. A mímesis está ligada à questão da criatividade ou da essência do agir e, por extensão, diz respeito ao problema da representação. Daí ser importante para o aprofundamento da questão a leitura de A poética ocidental (1), que fala sobre a criatividade poética. Mímesis diz originariamente o vigorar da realidade.
- Referência:
- (1) DOLEIZEL, Lubomir. A poética ocidental. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1990, pp. 22-3.
2
- Em geral trata-se do problema da mímesis numa comparação entre a coisa natural e a coisa cultural (que pode ser igual, pior ou melhor). Nessa comparação e relação se esquecem duas facetas essenciais. A primeira: o vigor da phýsis enquanto manifestação (phýsis: o viço dominante daquilo que brota e permanece), ou seja, é pelo próprio vigor da phýsis que se dá o agir do homem, como se o homem completasse o agir da phýsis, pois não podemos esquecer que o homem também é phýsis. A segunda relação é que a mímesis se dá enquanto linguagem, mas esta linguagem não é uma produção da mímesis, mas da própria phýsis enquanto lógos (linguagem). Assim sendo, a grande questão da mímesis eclode na questão da linguagem (sentido e verdade) e da poíesis, enquanto o agir e seu sentido e valor ético. A grande questão da mímesis em Platão está relacionada à sua concepção de verdade e da leitura da phýsis e da diánoia enquanto lógos como Eîdos. A tradução em Platão do Eîdos por ideia, e a mímesis por representação, são equívocas e não correspondem à questão que, para Platão, está em questão: o que é que no fluxo das mudanças permanece?
3
- Por que surge com Aristóteles a questão da mímesis? Ele faz a distinção essencial entre os phýsei ónta dos tekhnes ónta: "Os primeiros são aquilo que no seu emergir se produz a partir de si mesmo; os outros são aquilo que é produzido através da representação e do fazer humanos" (1). Se os primeiro têm o princípio em si mesmo, os outros precisam de um outro princípio, justamente o princípio da tekhne. Mas este não é separado da physis, porém, é esta se dando em plenitude de realizão. Sem physis não há techne.
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "A sentença de Anaximandro". In: Os Pré-socráticos – Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 21.