Tempo

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 05h26min de 30 de Setembro de 2009 por Lio (Discussão | contribs)

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O tempo mais justo não é aquele que queremos que aconteça, mas o que acontece sem a permissão de nossa vontade e nos encaminha serena e ferozmente ao horizonte de nossa própria habitação.


- Fábio Santana Pessanha


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O capítulo 9 de Lavoura arcaica (1) é o mais belo texto que conheço sobre o tempo. Ele é a fonte de toda a realidade e de toda sabedoria. É o tempo como divindade. Ele diz aí coisas sobre o tempo que já pensara de uma maneira simples e profunda - trabalho, obejtos. Tendo ao fundo o relógio, trata-se da fala do Pai para a família. O tempo torna-se uma profunda presença do sagrado: o tempo sem medida e o tempo como medida. No capítulo 17, p.15 retoma a temática do tempo.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) MASSAR, Raduan. Lavoura arcaica. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p.53

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"Vigente é o que dura - o que vige a partir e no âmbito do desencobrimento. Por isso, pertence ao vigorar à presença, não somente desencobrimento, mas também presente. Este presente imperante no vigorar é um caráter do tempo. Seu modo próprio de ser, pré, jamais se deixa apreender através do conceito tradicional de tempo" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "O que quer dizer pensar?". In: Ensaios e coferêencias. Petrópolis: Vozes, 2002, p.123.


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Como disse Santo Agostinho, nós sabemos o que é o tempo, mas não sabemos dizer. Isto porque vivemos no e somos tempo, de tal maneira que ele sempre se nos dá ao mesmo tempo que se nos retrai, oculta. Desta tensão, surgem as diferentes experiências do tempo: "Cada época se identifica com uma cisão do tempo, e na nossa a presença constante das utopias revolucionárias denuncia o lugar privilegiado que tem o futuro para nós. O passado não é melhor que o presente: a perfeição não está atrás de nós, e sim na frente, não é um paraíso abandonado, mas um território que devemos colonizar, uma cidade que precisa ser construída.
O cristianismo opôs à visão do tempo cíclico da antiguidade greco-romana um tempo linear, sucessivo e irreversível, com um começo, um fim, da queda de Adão e Eva ao Juízo Final. Diante desse tempo histórico e mortal houve outro tempo sobrenatural, invulnerável diante da morte e da sucessão: a Eternidade. Por isso, o único episódio decisivo da história terrestre foi o da Redenção: o descenso de Cristo e o seu sacrifício representam a interseção entre a Eternidade e a temporalidade, o tempo recessivo e moral dos homens e o tempo do mais além, que não muda nem sucede, idêntico a si próprio sempre. A Idade Moderna começa com a crítica à Eternidade cristã e com a aparição de outro tempo. De um lado, o tempo finito do cristianismo, com um começo e um fim, se converte num tempo quase infinito da evolução natural e da história, aberto em direção do futuro. De outro lado, a modernidade desvaloriza a Eternidade: a perfeição se translada para o futuro, não no outro mundo, mas neste! Basta lembrar a viagem célebre de Hegel: a rosa da razão está crucificada no presente" (1).


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) PAZ, Octávio. "Ruptura e convergência". In:A outra voz. São Paulo: Siciliano, 2001, pp. 36-7.


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