Sabedoria

De Dicionrio de Potica e Pensamento

(Diferença entre revisões)
m
Linha 1: Linha 1:
__NOTOC__
__NOTOC__
== 1 ==
== 1 ==
-
:Cf. HEIDEGGER, Martin. ''Heráclito''. Rio: Relume Dumará, 1998, pp. 395-7. Trata do saber em sentido originário e a partir da interpretação dos fragmentos de Heráclito. Questões correlacionadas são: "medida/desmedida", "proximidade". Esse saber é aquele que não provém do cálculo e dos procedimentos próprios do homem, mas surgem quando o homem obedece à ausculta do [[linguagem|''lógos'']]. O ser sábio é propriamente o corresponder do ser humano ao ''lógos'', porque nele se pode dar a colheita e acolhida enquanto [[escuta]] obediente. As múltiplas traduções do ''lógos'' existentes apenas devem acentuar o seu mistério e nos levar decididamente à escuta obediente, isto é, ao obedecer à escuta da fala do ''lógos''. Então acontece a sabedoria.
+
:Sabedoria é uma postura essencial, mas não podemos confundi-la com um [[sistema]] de valores. Daí a profundidade de Heráclito quando diz sobre a sabedoria: "Pensar é a maior [[coragem]], e a sabedoria, acolher a [[verdade]] e fazer com que se ausculte ao longo do vigor" (1).
:- [[Manuel Antônio de Castro]]
:- [[Manuel Antônio de Castro]]
-
 
-
== 2 ==
 
-
:Sabedoria é uma postura essencial, mas não podemos confundi-la com um sistema de valores. Daí a profundidade de Heráclito quando diz sobre a sabedoria: "Pensar é a maior coragem, e a sabedoria, acolher a verdade e fazer com que se ausculte ao longo do vigor." (1)
 
Linha 15: Linha 12:
-
:'''Ver também:'''
+
== 2 ==
-
:*[[Linguagem]]
+
:"Você sabe que podemos voar com asas: ainda não [[aprendizagem|aprendemos]] a voar sem elas. Já nos familiarizamos com a sabedoria dos que [[saber|sabem]], mas ainda não nos familiarizamos com a sabedoria dos que não sabem" (1).
-
 
+
-
== 3 ==
+
-
:"Você sabe que podemos voar com asas: ainda não [[aprender|aprendemos]] a voar sem elas. Já nos familiarizamos com a sabedoria dos que sabem, mas ainda não nos familiarizamos com a sabedoria dos que não sabem". (1)
+
:Referência:
:Referência:
-
:(1) METON, Thomas. ''A via de Chuang Tzu''. Petrópolis: Vozes, 1996, p. 72.
+
:(1) MERTON, Thomas. ''A via de Chuang Tzu''. Petrópolis: Vozes, 1996, p. 72.
-
:'''Ver também:'''
+
==3==
-
:*[[Saber]]
+
:A sabedoria é um tema muito rico. Há nela uma relação muito grande entre a possibilidade de a virtude ser ensinada: a questão da [[liberdade]] e a essência da sabedoria. [[Ética]], sabedoria, [[liberdade]] e natureza se interrelacionam profundamente, mas Heidegger vai levar isso tudo para o campo do ser, enquanto verdade e sentido. A essência da sabedoria e da liberdade estão sintetizadas na misteriosa afirmação de Santo Agostinho: "Ama e faze o que quiseres".
-
== 4 ==
 
-
:"O auge da sabedoria não é o não saber do saber mas o saber do não saber". (1) Mas logo a seguir faz uma observação que aprofunda essa definição de sabedoria, na medida em que questiona o poder do saber enquanto este não pode saber o que é o [[nada|NADA]]. Diz: "Com tanto poder, o Saber só não pode não saber que não sabe o que é Nada!" (2) Esta formulação é ambígua.
 
 +
:- [[Manuel Antônio de Castro]]
-
:Referências:
 
-
:(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. ''Aprendendo a pensar I''. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 184.
+
== 4 ==
-
:(2) Idem, p. 184.
+
:A questão da sabedoria é inerente ao mito, à religião, à arte, à filosofia. Nessa última, toma uma forma especial: a ética, que não deve ser confundida com o [[ético]]. O ético é, originariamente, próprio do mito, do sagrado, da arte e do pensamento. Depois, toma o sentido geral de humanismo. Na filosofia pós-clássica tende a se tornar um saber. Porém, já na própria filosofia há a crítica em torno do saber, gerando a epistemologia e também os saberes setoriais como o da natureza e das paixões. Mas só no Renascimento se dá uma cisão maior, quando os saberes filosófico-científicos se separam dos ditos saberes [[metafísica|metafísicos]]. Aqueles, além de racionais, asumem uma dimensão nitidamente físico-matemática, abarcando campos de [[conhecimento]] sem uma preocupação de sabedoria. Essa evolução tem enormes conseqüências para o mito que é negado, para a religião, que é negada (morte de Deus) e para a arte, em que a crítica assume uma faceta [[ciência|científica]], destruindo na arte aquilo que lhe é próprio. Isso gerou uma indagação de Harold Bloom: "Nos dias de hoje, a informação é facilmente encontrada, mas onde está a sabedoria?" (1). Há na tecnociência uma incompatibilidade com a sabedoria, daí a dificuldade de lhe atribuir um sentido ético.  
-
 
+
-
== 5 ==
+
-
:É um tema muito rico, diz respeito à Poética e Pensamento. Há aí uma relação muito grande entre a possibilidade de a virtude se ensinar, a questão da [[liberdade]] e a essência da sabedoria. Ética, sabedoria, liberdade e natureza se interrelacionam profundamente, mas Heidegger vai levar isto tudo para o campo do ser, enquanto verdade e sentido. A essência da sabedoria e da liberdade estão sintetizadas na misteriosa afirmação de Sto. Agostinho: "Ama e faze o que quiseres."
+
-
 
+
-
 
+
-
:- [[Manuel Antônio de Castro]]
+
-
 
+
-
== 5 ==
+
-
:A questão da sabedoria é fundamental. Ela é inerente ao mito, à religião, à arte, à filosofia. Nesta, toma uma forma especial: a ética, que não deve ser confundido com o [[ético]]. Este é inerente ao mito, ao sagrado, à arte e ao pensamento. Depois toma o sentido geral de humanismo. Na filosofia pós-clássica tende a se tornar um saber. Mas já na própria filosofia há a crítica em torno do saber, gerando a epistemologia e também os saberes setoriais como o da natureza e das paixões. Mas só no Renascimento se dá uma cisão maior, quando os saberes filosófico-científicos se separam dos ditos saberes metafísicos. Aqueles, além de racionais, asumem uma dimensão nitidamente físico-matemática, abarcando campos de conhecimento sem uma preocupação de sabedoria. Essa evolução tem enormes conseqüências para o mito que é negado, para a religião, que é negada (morte de Deus) e para a arte, onde a crítica assume uma faceta científica, destruindo na arte aquilo que lhe é próprio. Isto gerou uma indagação de Harold Bloom: "Nos dias de hoje, a informação é facilmente encontrada, mas onde está s sabedoria?" (1) Há na tecnociência uma incompatibilidade com a sabedoria, daí a dificuldade de lhe atribuir um sentido ético.  
+
Linha 53: Linha 36:
:(1) BLOOM, Harold. ''Como e por que ler?'' Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, p. 15.
:(1) BLOOM, Harold. ''Como e por que ler?'' Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, p. 15.
-
== 6 ==
 
-
:A redução das dimensões do ser ao ser do homem privilegiaram a atitude moderna do conhecer. Mas a partir das observações de Emmanuel Carneiro Leão (1) sobre CONHECER e sua etimologia, colocaria os seguintes verbos como âmbito do Ser/homem: - conceituar - conhecer - saber - comprender - querer - poder - sentir - emocionar - apaixonar. De alguma maneira estariam relacionados com o AMAR, segundo Platão no diálogo Fedro, no qual defende o [[amar]] como sabedoria.
 
-
 
-
 
-
:— [[Manuel Antônio de Castro]]
 
-
 
-
 
-
:Referência:
 
-
 
-
:(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. ''Apendendo a pensar II''. Petrópolis: Vozes, 1992 p. 173.
 
-
 
-
 
-
:'''Ver também:'''
 
-
 
-
:*[[Eros]]
 
-
:*[[Verdade]]
 
-
 
-
== 7 ==
 
-
:O que é sabedoria? É algo misterioso. Podemos falar em: 1º Conhecimento 2º Saber 3º Pensamento 4º Sabedoria. Na Metafísica, Aristóteles já fala de: 1º Empeiria; 2º Techné; 3º Poiesis. - O conhecimento se oporia a pensamento. - O saber estaria em tensão com a sabedoria. - O conhecimento seria as variedades da ''techné''. - O saber seria a empiria, o saber da vida só de experiência feito. - O pensamento seria a experienciação do ser e do não-ser. - A ''poiesis'' seria o nomear o sagrado. - A sabedoria seria o pensamento e a ''poiesis''. - O conhecimento e o saber implicariam uma moral, o que se usa. - O pensamento e a ''poiesis'' implicariam uma ética, o que se é e não é, o sagrado. Permeando todos eles, o valor, que adquire diferentes facetas na tensão moral/ética, ou melhor, moral/ético. O conhecimento tomou uma tal abrangência que atinge hoje a questão do valor na dimensão moral/ético, sem, no entanto, ser pensamento e ''poiesis'', mas porque atinge as possibilidades de ser. A linguagem permeia a todas essas dimensões. Igualmente a verdade e a liberdade, em diferentes graus e dimensões. Há uma referência valor/linguagem porque perfaz a tensão ''phýsis''/''logos'' e a verdade/liberdade. Estes três pares implicam a paidéia poética. A sabedoria é a experienciação da [[simplicidade]] do ser e não-ser como querer e não-querer, saber e não-saber, sentir e não-sentir, crer e não-crer.
 
-
 
-
 
-
:— [[Manuel Antônio de Castro]]
 
-
 
-
 
-
:'''Ver também:'''
 
-
 
-
:*[[Desvelamento]]
 
-
:*[[Desvelar]]
 
-
:*[[Velamento]]
 
-
:*[[Velar]]
 
== 8 ==
== 8 ==
-
:No fragmento 40, Heráclito fala de [[saber]] e sabedoria: "Muito saber não ensina sabedoria, pois teria ensinado a Hesíodo e Pitágora, a Xenófanes e Hecateu." (1)
+
:"Muito saber não [[ensino|ensina]] sabedoria, pois teria ensinado a Hesíodo e Pitágoras, a Xenófanes e Hecateu." (1)
-
 
+
-
 
+
-
:— [[Manuel Antônio de Castro]]
+
:Referência:
:Referência:
-
:(1) Anaximandro, Parmênides, Heráclito.  ''Os pensadores originários''. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1981, p. 69.
+
:(1) ANAXIMANDRO et alii.  ''Os pensadores originários''. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1981, p. 69.
Linha 100: Linha 50:
:*[[Simples]]
:*[[Simples]]
:*[[Simplicidade]]
:*[[Simplicidade]]
-
 
-
== 9 ==
 
-
:O turbilhão de [[informações]] e conhecimentos que cerca e assedia o ser humano e parece configurar e dar conta da realidade cada vez mais carece de sentido, porque se tornam uma avalanche de significantes plenos de significado e vazios de sentido. Falta a sabedoria.
 
-
 
-
 
-
:— [[Manuel Antônio de Castro]]
 
-
 
-
 
-
:'''Ver também:'''
 
-
 
-
:*[[Saber]]
 
-
:*[[Amor]]
 

Edição de 18h30min de 28 de março de 2009

1

Sabedoria é uma postura essencial, mas não podemos confundi-la com um sistema de valores. Daí a profundidade de Heráclito quando diz sobre a sabedoria: "Pensar é a maior coragem, e a sabedoria, acolher a verdade e fazer com que se ausculte ao longo do vigor" (1).


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) HERÁCLITO. Os pensadores originários. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 89.


2

"Você sabe que podemos voar com asas: ainda não aprendemos a voar sem elas. Já nos familiarizamos com a sabedoria dos que sabem, mas ainda não nos familiarizamos com a sabedoria dos que não sabem" (1).


Referência:
(1) MERTON, Thomas. A via de Chuang Tzu. Petrópolis: Vozes, 1996, p. 72.


3

A sabedoria é um tema muito rico. Há nela uma relação muito grande entre a possibilidade de a virtude ser ensinada: a questão da liberdade e a essência da sabedoria. Ética, sabedoria, liberdade e natureza se interrelacionam profundamente, mas Heidegger vai levar isso tudo para o campo do ser, enquanto verdade e sentido. A essência da sabedoria e da liberdade estão sintetizadas na misteriosa afirmação de Santo Agostinho: "Ama e faze o que quiseres".


- Manuel Antônio de Castro


4

A questão da sabedoria é inerente ao mito, à religião, à arte, à filosofia. Nessa última, toma uma forma especial: a ética, que não deve ser confundida com o ético. O ético é, originariamente, próprio do mito, do sagrado, da arte e do pensamento. Depois, toma o sentido geral de humanismo. Na filosofia pós-clássica tende a se tornar um saber. Porém, já na própria filosofia há a crítica em torno do saber, gerando a epistemologia e também os saberes setoriais como o da natureza e das paixões. Mas só no Renascimento se dá uma cisão maior, quando os saberes filosófico-científicos se separam dos ditos saberes metafísicos. Aqueles, além de racionais, asumem uma dimensão nitidamente físico-matemática, abarcando campos de conhecimento sem uma preocupação de sabedoria. Essa evolução tem enormes conseqüências para o mito que é negado, para a religião, que é negada (morte de Deus) e para a arte, em que a crítica assume uma faceta científica, destruindo na arte aquilo que lhe é próprio. Isso gerou uma indagação de Harold Bloom: "Nos dias de hoje, a informação é facilmente encontrada, mas onde está a sabedoria?" (1). Há na tecnociência uma incompatibilidade com a sabedoria, daí a dificuldade de lhe atribuir um sentido ético.


Referência:
(1) BLOOM, Harold. Como e por que ler? Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, p. 15.


8

"Muito saber não ensina sabedoria, pois teria ensinado a Hesíodo e Pitágoras, a Xenófanes e Hecateu." (1)


Referência:
(1) ANAXIMANDRO et alii. Os pensadores originários. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1981, p. 69.


Ver também: