Questão

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 22h38min de 9 de Dezembro de 2010 por Fábio (Discussão | contribs)

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Há cinco questões básicas: phýsis, tempo, linguagem, memória, história. Não basta dizer que não sabemos o que são e que mantêm entre si uma referência fundamental. Não basta tomar o caminho do não-saber como possibilidade de todo saber. Não basta falar das experienciações. Tudo isso é válido. Diz Heidegger: "O que se disse acerca do caráter histórico da questão 'O que é uma coisa?' é válido para qualquer questão de filosofia, que colocamos hoje ou no futuro, admitindo, certamente, que a filosofia é um questionar que se põe a si mesmo em questão e que, em conseqüência, se movimenta, sempre e em toda a parte em círculo" (1). Para fugir da linearidade causal da historiografia, do tempo, da memória é necessário ter presente, por exemplo, que quando se pergunta "O que é a história?", essa pergunta não se pode responder através de dados historiográficos. A historiografia já pressupõe que de antemão se defina o seu objeto e o seu método. A historiografia nunca pergunta pelo isto que ela é. Quando pergunta, deixa de ser historiografia e passa a ser "filosofia". Por isso, a experiência da história como conhecimento e como experienciação do que é História são diferentes. Na História (experienciação) há um acontecer. Na historiografia há uma experiência como conhecimento. Aí já se inclui a phýsis (res/real) o tempo, a linguagem, a memória.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. O que é uma coisa?. Lisboa: Edições 70, 1992, p. 54.


2

"Como a palavra querer, também as palavras questão, questionar e questionamento vêm do latim: quaerere. Quaerere significa: empenhar-se na busca e na procura do que não se tem, por já se ter e para se vir a ter" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 44.

3

Não questionamos porque agimos logicamente. Só podemos agir logicamente porque já somos desde sempre questão. Enquanto o isto da essência do homem, quer dizer, pelo simples fato de questionarmos, já estamos lançados e vigoramos no e a partir do lógos. Questionar é pensar. "O pensamento con-suma a referência do Ser à Essência do homem. Não a produz nem a efetua. O pensamento apenas a restitui ao Ser como algo que lhe foi entregue pelo próprio Ser. Essa restituição consiste em que, no pensamento, o ser se torna linguagem. A linguagem é a Casa do ser" (1). A linguagem é o lógos. Como a questão, não somos nós que temos a linguagem, mas é a linguagem que nos tem. A linguagem fala, não o homem.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Cartas sobre o humanismo. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 24.

4

"Ao doar-se da phýsis, da realidade, no homem enquanto mito, poesia, pensamento, filosofia e o místico enquanto mistério, é o que denominamos questões. Não é o homem que tem as questões, são estas que têm e constituem o homem. Ao narrar mitos e ao escreverem-se obras poéticas, nelas e por elas as questões se tornam obras-questões-mitos do real no homem" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Permanência e atualidade da Poética". In: Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro: número 171, out.-dez. 2007, p. 12.


Ver também:


5

O querer de toda questão é o empenho em torno do penhor pelo qual o homem se empenha no seu agir. O agir (poiesis) é, portanto, a presentificação (sendo) do penhor nos empenhos do homem, mas jamais pela decisão apenas do homem. Na ação humana, o homem responde ao apelo de escuta, espera e cuidado. Nisso consiste a questão e o questionar.


- Manuel Antônio de Castro
Ver também:


6

O corpo é uma questão. Eis uma afirmação que traz em sua positividade a negação de seu próprio enunciado. Pois, questão é o que sempre se redimensiona, que galga a perene travessia de ser, é um sendo. Portanto, se um sendo é sempre algo a ser e que está sendo, logo, a questão é a constância de um porvir. Um desdito afirmado em seu dizer, um não-dizer que se diz ao se encobrir no chão recoberto pelo pé durante uma caminhada.


Referência:
(1) PESSANHA, Fábio Santana. "Homem: corpo insólito". In: GARCÍA, Flavio; PINTO, Marcello de Oliveira; MICHELLI, Regina (orgs.). O insólito e seu duplo – Anais do VI Painel Reflexões sobre o Insólito na narrativa ficcional/ I Encontro Regional Insólito como Questão na Narrativa Ficcional. Rio de Janeiro: Dialogarts, 2010, p. 145.


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