Palavra

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:Chuang Tzu desenvolve uma verdadeira teoria do agir poético, ou, no fundo, da ''[[poíesis]]''. Eis o que diz sobre a palavra/ideia: "O objetivo das palavras é transmitir as ideias. Quando estas são apreendidas, as palavras são esquecidas. Onde poderei encontrar um homem que se esqueceu das palavras? Com ele é que gostaria de conversar" (1). Todos se lembram só das palavras? Separam palavras e [[ideia|ideias]]? Como conversar sem palavras?
:Chuang Tzu desenvolve uma verdadeira teoria do agir poético, ou, no fundo, da ''[[poíesis]]''. Eis o que diz sobre a palavra/ideia: "O objetivo das palavras é transmitir as ideias. Quando estas são apreendidas, as palavras são esquecidas. Onde poderei encontrar um homem que se esqueceu das palavras? Com ele é que gostaria de conversar" (1). Todos se lembram só das palavras? Separam palavras e [[ideia|ideias]]? Como conversar sem palavras?
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:O que o pensador nos quer fazer pensar é muito simples: a palavra no cotidiano se torna veículo comunicativo, onde as palavras transitam vazias, como meras cascas de ovos que, se chocados, nada nascerá. A [[palavra poética]] é como o ovo cheio de [[vida]] pronto para ser chocado. Poeticamente, chocar é [[pensar]].
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:O que o pensador nos quer fazer pensar é muito simples: a palavra no cotidiano se torna veículo comunicativo, onde as palavras transitam vazias, como meras cascas de ovos que, se chocados, nada nascerá. A [[palavra]] poética é como o ovo cheio de [[vida]] pronto para ser chocado. Poeticamente, chocar é [[pensar]].

Edição de 19h44min de 24 de janeiro de 2009

1

Cf. ficha: Jogar

2

Rosa diz: Palavra não dá, recebe. E como! Recebe todas as nossas aventuras e desventuras, vias e desvios, falas e silêncio. Toda a vez que lemos o mesmo ensaio de Heidegger ou um diálogo de Platão descubrimos o quanto ela, a palavra, recebe as nossas experienciações do real, havendo aí uma tensão de contrários, porque, ao mesmo tempo que as recebe, ela como palavra e reunião nos dá o real como linguagem. Eis um exemplo de Platão, citado por Heidegger: "Nós, os epigonais, já não possuímos condição de avaliar o significado do fato de Platão aventurar-se a empregar a palavra Eidos, para dizer a essência de tudo e de cada coisa. Pois, na linguagem de todo dia, Eidos diz da visão que uma coisa visível nos apresenta à percepção sensível. Ora, Platão pretende da palavra algo inteiramente extraordinário. Pretende designar o que jamais se poderá perceber com os olhos".


Referências:
HEIDEGGER, Martin. "A questão da técnica". In: Ensaios e conferências. Petrópolis, Vozer, 2002, p. 23.

3

Chuang Tzu desenvolve uma verdadeira teoria do agir poético, ou, no fundo, da poíesis. Eis o que diz sobre a palavra/ideia: "O objetivo das palavras é transmitir as ideias. Quando estas são apreendidas, as palavras são esquecidas. Onde poderei encontrar um homem que se esqueceu das palavras? Com ele é que gostaria de conversar" (1). Todos se lembram só das palavras? Separam palavras e ideias? Como conversar sem palavras?
O que o pensador nos quer fazer pensar é muito simples: a palavra no cotidiano se torna veículo comunicativo, onde as palavras transitam vazias, como meras cascas de ovos que, se chocados, nada nascerá. A palavra poética é como o ovo cheio de vida pronto para ser chocado. Poeticamente, chocar é pensar.


- Manuel Antônio de Castro


Referências:
(1) MERTON, Thomas. A via de Chuang Tzu. Petrópolis: Vozes, 1996, p. 196.

4

A palvra poética se estrutura em torno da imagem -- sonora, gestual ou visual --. Mas esta pode-se tornar retórica e vazia, mero jogo formal. É a armadilha para muitos pseudo-poetas. Sem densidade inaugural, a palavra-imagem pode-se tornar uma casca vazia, mera aparência. O enigma da palavra poética é de tal grandeza que ela, em sua concentração e riqueza ambígua, pode ser misteriosamente deusa. É o caso das palavras do pensamento originário, como Heráclito, Parmênides, Platão e outros. A imagem é poética e não retórica apenas quando nela se dá o vigor da questão. O uso automático das palavras na comunicação e no raciocínio instrumental tende a esvaziar o que há de poético nas palavras. Elas se tornam portadoras de idéias gerais e vazias pela repetição do uso cotidiano. Uma palavra é poética quando provoca em quem a emprega uma ação ética.
A sintaxe gramatical dilui o vigor da palavra, em geral, na proposição. A sintaxe poética concentra seu vigor na palavra. Na palavra poética e de pensamento, estão concentradas as forças centrífugas e centrípetas. No centro dessa tensão há o mistério do "entre". É no "entre" que a sintaxe tem sua origem. Mas para a gramática a ordem vem das relações entre as palavras na proposição, determinando o sentido e o valor estrutural das palavrras. Há, portanto, uma inversão. O operar da obra poética se concentra na sintaxe poética, pois esta institui e constitui o sentido ético-poético da verdade do real.


- Manuel Antônio de Castro