Hermenêutica

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:À manifestação da [[compreensão]] da [[referência]] da ''essência do humano'' e ''Ser'', enquanto linguagem, dá-se o nome de hermenêutica poético-ontológica. Esta se diferencia de outras como a hermenêutica epistemológica ou filosófica, a jurídica, a teológica. Pensar hermenêutica é pensar Hermes ou a Palavra como lugar, isto é, a [[transcendência]] do ser humano enquanto abertura de [[mundo]]. Na abertura ou transcendência o ser humano acontece enquanto [[entre-ser]]. [[Interpretar]] poeticamente é vigorar sempre no [[horizonte]] de articulação de ser e entre-ser (ex-istência) enquanto linguagem ético-poética, onde a compreensão enquanto [[sentido]] implica o ''éthos'' e a ''poíesis'' do ser. Por isso, interpretar é interpretar-se a partir da medida de todas as dimensões e medidas: o ser/ nada ou a realidade de toda realização como real. Enquanto ''éthos'' e ''poíesis'' o ser advém sempre como ''lógos''. Daí que interpretar, no sentido poético-hermenêutico, é dialogar. O que vigora no diálogo poético-hermenêutico é a escuta do ''lógos''. Sem auto-escuta do ''lógos'' não há diálogo poético. Todas as obras de arte solicitam e aguardam o diálogo poético.
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:À manifestação da [[compreensão]] da [[referência]] da ''essência do humano'' e ''Ser'', enquanto linguagem, dá-se o nome de hermenêutica poético-ontológica. Esta se diferencia de outras como a hermenêutica epistemológica ou filosófica, a jurídica, a teológica. Pensar hermenêutica é pensar Hermes ou a Palavra como lugar, isto é, a [[transcendência]] do ser humano enquanto abertura de [[mundo]]. Na abertura ou transcendência o ser humano acontece enquanto [[entre-ser]]. [[Interpretar]] poeticamente é vigorar sempre no [[horizonte]] de articulação de ser e entre-ser (ex-istência) enquanto linguagem ético-poética, onde a compreensão enquanto [[sentido]] implica o ''éthos'' e a ''poíesis'' do ser. Por isso, interpretar é interpretar-se a partir da medida de todas as dimensões e medidas: o ser/ nada ou a realidade de toda realização como real. Enquanto ''éthos'' e ''poíesis'' o ser advém sempre como ''lógos''. Daí que interpretar, no sentido poético-hermenêutico, é dialogar. O que vigora no [[diálogo]] poético-hermenêutico é a escuta do ''lógos''. Sem auto-escuta do ''lógos'' não há diálogo poético. Todas as obras de arte solicitam e aguardam o diálogo poético.

Edição de 17h27min de 22 de Outubro de 2009

1

Diz Carneiro Leão sobre a hermenêutica originária: "Por isso se impõe sobretudo questionar o próprio poder da ciência em sua impotência de pensar. É o que nos proporciona uma hermenêutica originária. O verbo hermenéuein significa trazer mensagens. O hermeneus, o mensageiro, pode ser posto em referência com Hermes, o mensageiro dos deuses. Ele traz e transmite a mensagem do destino que trama as vicissitudes da história de homens e deuses. Nem toda interpretação é uma hermenêutica (originária). Somente a que descer até o vigor do mistério que estrutura a história" (1). "O propósito desta hermenêutica não é corrigir ou substituir-se à ciência. Nem mesmo é o diálogo pelo diálogo, mas exclusivamente o que no diálogo se faz linguagem: a identidade que misteriosamente reivindica de modo diferente, a nós modernos e aos gregos antigos, por ter aviado a aurora do pensamento no dia do Ocidente" (2).


- Manuel Antônio de Castro


Referências:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Os pensadores originários. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 15.
(2) Idem, p. 16.


2

Ronaldes de Melo e Souza distingue muito bem uma hermenêutica ontológica de uma hermenêutica metodológica ao comentar a hermenêutica filosófica de Gadamer através de algumas oposições esclarecedoras: 1) Verdade x método, 2) Ontologia x metodologia, 3) Hermenêutica x epistemologia. Ele faz aparecer a hermenêutica ontológica na medida em que a vai contrapondo à epistemologia. Outra faceta que vai aparecer é a ligação da hermenêutica ontológica com a ética. Essa dimensão é sutil porque a ética não é algo ao lado da hermenêutica ontológica, mas seu traço mais fundamental. Isso se pode compreender na afirmação de Souza: "compreender é compreender-se" (1). A hermenêutica epistemológica se decide no ato de interpretar. Essa pode se abrir para a ontologia da compreensão ou pode simplesmente ficar numa epistemologia da interpretação. A hermenêutica ontológica só acontece no dialogar, pois todo dialogar ontológico é dialogar-se, isto é, dar-se à escuta do lógos.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) SOUZA, Ronaldes de Melo e. "A ética concriativa de Gadamer". In: Revista Tempo Brasileiro, nº 94. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1988, pp. 69-86.

3

"À articulação em que se dá a compreensão dessa mútua e inseparável relação de ser e homem pela existência chamamos hermenêutica. Como compreensão da existência, a hermenêutica articula o sentido do ser, considera-o em toda sua ambiguidade e não lhe impõe resistências que não sejam dele mesmo advindas!" (1). "Não há, pois, na hermenêutica qualquer característica de intencionalidade, uma vez que ela não é fruto da consciência subjetiva, mas se encontra numa dimensão de pré-compreensão do próprio Dasein, que nós mesmos somos" (2).
Hermes, ao transcender os domínios do caos e do cosmos reúne-os como linguagem do sentido e do não-sentido. "Hermes é o nome divino para a instalação do domínio do mistério em meio à vida ensolarada do cotidiano" (3).


- Manuel Antônio de Castro


Referências:
(1) AGUIAR, Werner. Música: poética do sentido. Tese de Doutorado. Faculdade de Letras da UFRJ. Pós-Graduação em Ciência da Literatura. Área de Poética, 2004, p. 117.
(2) Idem, p. 5
(3) Idem, p. 10.


4

À manifestação da compreensão da referência da essência do humano e Ser, enquanto linguagem, dá-se o nome de hermenêutica poético-ontológica. Esta se diferencia de outras como a hermenêutica epistemológica ou filosófica, a jurídica, a teológica. Pensar hermenêutica é pensar Hermes ou a Palavra como lugar, isto é, a transcendência do ser humano enquanto abertura de mundo. Na abertura ou transcendência o ser humano acontece enquanto entre-ser. Interpretar poeticamente é vigorar sempre no horizonte de articulação de ser e entre-ser (ex-istência) enquanto linguagem ético-poética, onde a compreensão enquanto sentido implica o éthos e a poíesis do ser. Por isso, interpretar é interpretar-se a partir da medida de todas as dimensões e medidas: o ser/ nada ou a realidade de toda realização como real. Enquanto éthos e poíesis o ser advém sempre como lógos. Daí que interpretar, no sentido poético-hermenêutico, é dialogar. O que vigora no diálogo poético-hermenêutico é a escuta do lógos. Sem auto-escuta do lógos não há diálogo poético. Todas as obras de arte solicitam e aguardam o diálogo poético.


- Manuel Antônio de Castro


Ver também:
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