Gramática

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 20h01min de 3 de março de 2009 por Patricia Marouvo (Discussão | contribs)

Língua viva

"A linguagem viva não tem consciência de sua própria estrutura, gramática, sintaxe etc., portanto, de tudo aquilo que a ciência da linguagem tematiza. Uma das perversões típicas do natural aparece quando a escola moderna introduz a gramática e a sintaxe em sua própra língua materna, em lugar de introduzi-la numa língua morta como o latim. Exige-se de todos um gigantesco esforço de abstração para tomar consciência expressa da gramática do idioma que se domina enquanto língua materna. A concretização efetiva da linguagem faz com que essa desapareça detrás daquilo que nela se diz." (1) Essa observação do pensador alemão é extremamente pertinente e atual. Além disso, a gramática se tornou um instrumento dos meios de comunicação, onde tudo se reduz a abstrações. Na medida em que a linguagem, manifestada em cada língua, sempre ultrapassa a gramática ou discurso da língua, sendo a língua originariamente arte e a arte linguagem, querer ensinar a arte como gramática ( gêneros e estilos) é não respeitar a natureza da linguagem: ser arte.


Referência:
(1) GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método II. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 178.


Discurso e retórica

A questão da gramática fica mais clara quando se opõe discurso e proposição. O discurso remete para a retórica, tanto no sentido originário como no sentido sofista. Mas no sofista já se dá a junção de discurso e proposição. Ver que Aristóteles é a sintese da relação discurso/gramática, mas sem o vigor do originário, pois a sua Retórica trata do discurso e a sua Lógica trata de fundo gramatical, tanto que a sintaxe se chamava análise lógica, hoje travestida de coerência e coesão ou simplemente discurso. As teorias variam, mas o fundo permanece o mesmo: a visão metafísica do lógos. Que coesão e coerência podemos encontrar numa constatação simples como: "Eu sou e eu não-sou"? A Poética seria a lógica do discurso da poiesis, isto é, do vigor do poético. Na retórica ainda temos a presença da força e vigor do rhema (do verbo eiro, o dizer do sagrado) mas já não como poiésis/lógos/dzoé/phýsis. Limitou-se ao peitho, persuadir, ligado ao pascho/paixão da psyché como algo psíquico e sentimental. Na questão da gramática e suas variantes teóricas, o essencial é recuperar o vigor poético e a ambigüidade da phýsis, e ir também para além de uma visão simplesmente epistemológica.

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Na questão da pro-posição gramático-formal é necessário estudar profundamente:

a) como a gramática se relaciona com o tempo-verbo; b) como a gramática "pensa" (define) a relação entre sujeito e verbo; c) como os dois pontos anteriores se fazem presentes no conceito. Exatamente essas questões vistas não conceitualmente mas como sintaxe poética é que permitirão um diálogo produtivo com a questão: a) gramatical; b) da linguagem; c) do sujeito; d) da funcionalidade. Para estudo do conceito de coisa que origina a proposição, onde se funda a gramática, ver abaixo.


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte, primeira parte: o primeiro conceito de coisa. Tradução para consulta acadêmica, em tradução de Manuel Antonio de Castro e Idalina Azevedo da Silva, in: www.travessiapoetica.blogspot.com.

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Ao tratar da gramática é essencial a interpretação da coisa como juízo/oração constituído de sujeito/predicado, porque aí se dá a relação entre a teoria da linguagem e o agir, ou seja, por detrás da gramática temos uma teoria da essência do agir. Daí estar relacionada à lógica. Oração: enunciado/enunciação: agir - real ou verdade; physis/on: sujeito - predicado ou inteligível - senvível. A oração é a interpretação e explicação metafísica da essência do agir.

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"Libertar a linguagem da gramática, para um contexto essencial mais originário, está reservado ao pensar e poetizar" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Carta sobre o humanismo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 26.

Ver também

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"Essas três razões [a estética, a história, entendida como historiografia, e a análise] estabelecem as leis de desdobramento do real, em que não sobra lugar para a diferença, senão como exceção. Numa realidade dominada por leis e suas exceções, estas são vistas como instâncias sempre provisórias que tenderão a se enquadrar, a se comportar mediante a prescrição, até se converterem em novas leis" (1).
Referência:
(1) JARDIM, Antônio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p.30.
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