Voz
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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:A voz não é compreendida como ''phoné'', mas como ''lógos'', ou seja, como voz que gera um [[sentido]] ético-poético. Mas é essencial compreender que os sons que os animais produzem são próprios, são deles e não uma criação do homem ao manifestá-los como sentido. É pelo vigorar da ''phýsis'' tanto nos animais como nos homens que há sons e voz. A ''phýsis''/ser se dimensiona como ''lógos'' no homem e só no homem é que ela mesma se dá e manifesta como som e voz ao mesmo tempo. A voz se faz sentido no homem. Qual é o sentido dos sons para quem os emite não nos é dado saber, mas os sons são. Porém, não se pode nem se deve dicotomizar som e voz. O sentido do som se vela para o homem na mesma dimensão em que o [[sendo]] se dissimula, esgueira e subtrai. É o [[mistério]] da ''phýsis''/ser. | :A voz não é compreendida como ''phoné'', mas como ''lógos'', ou seja, como voz que gera um [[sentido]] ético-poético. Mas é essencial compreender que os sons que os animais produzem são próprios, são deles e não uma criação do homem ao manifestá-los como sentido. É pelo vigorar da ''phýsis'' tanto nos animais como nos homens que há sons e voz. A ''phýsis''/ser se dimensiona como ''lógos'' no homem e só no homem é que ela mesma se dá e manifesta como som e voz ao mesmo tempo. A voz se faz sentido no homem. Qual é o sentido dos sons para quem os emite não nos é dado saber, mas os sons são. Porém, não se pode nem se deve dicotomizar som e voz. O sentido do som se vela para o homem na mesma dimensão em que o [[sendo]] se dissimula, esgueira e subtrai. É o [[mistério]] da ''phýsis''/ser. | ||
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+ | : (1) ERNOUT E MEILLET. ''Dictionnaire etymologique de la langue latine''. Paris: Éditions Klincksieck, 1979, p. 754. |
Edição de 21h05min de 15 de Julho de 2016
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- Diversos animais emitem sons, mas só o homem emite voz. A voz só é voz pela linguagem. Por isso também é a partir da voz que podemos falar do som dos animais, que podemos falar dos animais, que podemos, enfim, falar das coisas. Ora, é a partir da linguagem que o real se manifesta como mundo.
- A voz não é compreendida como phoné, mas como lógos, ou seja, como voz que gera um sentido ético-poético. Mas é essencial compreender que os sons que os animais produzem são próprios, são deles e não uma criação do homem ao manifestá-los como sentido. É pelo vigorar da phýsis tanto nos animais como nos homens que há sons e voz. A phýsis/ser se dimensiona como lógos no homem e só no homem é que ela mesma se dá e manifesta como som e voz ao mesmo tempo. A voz se faz sentido no homem. Qual é o sentido dos sons para quem os emite não nos é dado saber, mas os sons são. Porém, não se pode nem se deve dicotomizar som e voz. O sentido do som se vela para o homem na mesma dimensão em que o sendo se dissimula, esgueira e subtrai. É o mistério da phýsis/ser.
- Ver também:
2
- O que é isto – o dizer? O que é isto – a voz? A palavra latina voz liga-se à raiz indo-européia *wek.*, que indica a emissão de voz com todas as forças religiosas e jurídicas (no sentido do “jus” divino)(1) . Daí vem o sentido poético e originário do que é denso, consistente, que perdura, porque provém do sagrado. Sem esta voz não há fala humana, pois não há linguagem nem sentido, não há mundo, não há, enfim, o humano. A voz do poeta, do aedo, é a voz do sagrado. Claro que se entende aí por “forças” o que é portador de sentido, de verdade, de acontecer, de ético, de mundo. São a “dynamis e enérgeia” aristotélicas.
- Referência:
- (1) ERNOUT E MEILLET. Dictionnaire etymologique de la langue latine. Paris: Éditions Klincksieck, 1979, p. 754.