Casa

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:Casa é uma [[imagem-questão]] da [[linguagem]] como o habitar do ser [[humano]] no [[Ser]], na [[realidade]], na ''[[physis]]'', diziam os gregos. É nesse [[horizonte]] de [[pensamento]] que o pensador Martin Heidegger diz na ''Carta sobre o humanismo'': "A linguagem é a casa do Ser. Em sua habitação mora o homem. Os pensadores e poetas lhe servem de vigias. Sua vigília consumar a [[manifestação]] do Ser, porquanto, por seu [[dizer]], a tornam linguagem e a conservam na linguagem" (1). A linguagem é o [[mistério]] do Ser. E não apenas uma formulação de um pensador alemão do século XX. É uma [[questão]] sem data, porém, sempre [[contemporânea]]. A mesma questão já se manifesta num [[poema]] chinês, proferida há alguns milênios anteriores a essa [[provocação]], quando diz: "...........................
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                        Casam-se paredes e se encaixm portas
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                        Mas é onde não há [[nada]]
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                        Que se está em casa.
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                        ..........................." (2)
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: (1) HEIDEGGER, Martin. ''Carta sobre o humanismo''. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p.24.
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: (2)''Tão-Te-King'', cap. 11. In: BUZZI, Arcângelo R. ''Itinerário''. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 14.
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:A família, entendida como ''genos'', sempre congregou toda a casa. É nesse sentido que a casa é morada, pois nela se fazem presentes todos os que constituem a família. Isso é o ''[[genos]]''. Justamente por isso, a casa, a morada, está ligada à [[linguagem]], porque, enfim, a morada não são as quatro paredes, mas o [[vazio]] que acolhe a todos, na delimitação das quatro paredes e de quantos cômodos compõem cada casa. É nesse sentido que nosso [[corpo]] é nossa casa, porque nela habita o que somos. O vazio, o [[nada]] das paredes, é a [[memória]], que não passa, mas acolhe a todos, isto é, lhes dá [[sentido]] porque o sentido é a linguagem vigorando. A linguagem é a casa do [[ser]], porque o ser é a [[memória]], o [[tempo]], a [[vida]], a [[morte]]: a impossibilidade de todas as possibilidades.
:A família, entendida como ''genos'', sempre congregou toda a casa. É nesse sentido que a casa é morada, pois nela se fazem presentes todos os que constituem a família. Isso é o ''[[genos]]''. Justamente por isso, a casa, a morada, está ligada à [[linguagem]], porque, enfim, a morada não são as quatro paredes, mas o [[vazio]] que acolhe a todos, na delimitação das quatro paredes e de quantos cômodos compõem cada casa. É nesse sentido que nosso [[corpo]] é nossa casa, porque nela habita o que somos. O vazio, o [[nada]] das paredes, é a [[memória]], que não passa, mas acolhe a todos, isto é, lhes dá [[sentido]] porque o sentido é a linguagem vigorando. A linguagem é a casa do [[ser]], porque o ser é a [[memória]], o [[tempo]], a [[vida]], a [[morte]]: a impossibilidade de todas as possibilidades.
:- [[Manuel Antônio de Castro]]
:- [[Manuel Antônio de Castro]]
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Edição de 06h52min de 1 de Abril de 2014

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Casa é uma imagem-questão da linguagem como o habitar do ser humano no Ser, na realidade, na physis, diziam os gregos. É nesse horizonte de pensamento que o pensador Martin Heidegger diz na Carta sobre o humanismo: "A linguagem é a casa do Ser. Em sua habitação mora o homem. Os pensadores e poetas lhe servem de vigias. Sua vigília consumar a manifestação do Ser, porquanto, por seu dizer, a tornam linguagem e a conservam na linguagem" (1). A linguagem é o mistério do Ser. E não apenas uma formulação de um pensador alemão do século XX. É uma questão sem data, porém, sempre contemporânea. A mesma questão já se manifesta num poema chinês, proferida há alguns milênios anteriores a essa provocação, quando diz: "...........................
                        Casam-se paredes e se encaixm portas
                        Mas é onde não há nada
                        Que se está em casa.
                        ..........................." (2)


- Manuel Antônio de Castro
(1) HEIDEGGER, Martin. Carta sobre o humanismo. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p.24.
(2)Tão-Te-King, cap. 11. In: BUZZI, Arcângelo R. Itinerário. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 14.



2

A família, entendida como genos, sempre congregou toda a casa. É nesse sentido que a casa é morada, pois nela se fazem presentes todos os que constituem a família. Isso é o genos. Justamente por isso, a casa, a morada, está ligada à linguagem, porque, enfim, a morada não são as quatro paredes, mas o vazio que acolhe a todos, na delimitação das quatro paredes e de quantos cômodos compõem cada casa. É nesse sentido que nosso corpo é nossa casa, porque nela habita o que somos. O vazio, o nada das paredes, é a memória, que não passa, mas acolhe a todos, isto é, lhes dá sentido porque o sentido é a linguagem vigorando. A linguagem é a casa do ser, porque o ser é a memória, o tempo, a vida, a morte: a impossibilidade de todas as possibilidades.


- Manuel Antônio de Castro

2

"Poderíamos ainda seguir as vias dos envios do corpo social que acolhe numa única corporeidade diversos corpos, que são um corpo, e muitos. A casa da família, vigorosa corporeidade! É o lugar de todos, a casa é de todos os seus moradores, ao mesmo tempo e que dá lugar a cada um. Cada um tem seu lugar na casa e ainda assim a casa é de todos" (1).


Referência:
(1) BRAGA, Diego. A terceira margem do mito: hermenêutica da corporeidade. In: Revista Terceira margem. Revista do Programa de Pós-graduação em Ciência da Literatura da UFRJ. Ano XIV, 22, jan.-jun, 2010, p. 63.
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