Metafísica

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:O país da Razão se transformou todo na paisagem dis-posta dos [[conceito|conceitos]], porque o país da Metafísica transformou tudo na paisagem da Razão. Uma teia de razões, conceitos e funções organizou a realidade, ocupou todos os espaços e recantos na instrumentalidade comunicativa da linguagem e cobriu todo o planeta e encobriu toda a Terra num aparente engravidamento de realizações. "Em seus Cahiers (cadernos) 1917-1952, George Braque nos traz à lembrança a exigência de toda criação: écrire n'est pas décrire. Peindre n'est pas dépeindre" (escrever não é descrever. Pintar não é representar). Por isso definir uma coisa também consiste, no fundo, no fundo, em substituí-la por vocábulos"(1).  
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:O país da Razão se transformou todo na paisagem dis-posta dos [[conceito|conceitos]], porque o país da Metafísica transformou tudo na paisagem da Razão. Uma [[teia]] de razões, conceitos e funções organizou a realidade, ocupou todos os espaços e recantos na instrumentalidade comunicativa da linguagem e cobriu todo o planeta e encobriu toda a Terra num aparente engravidamento de realizações. "Em seus ''Cahiers'' (cadernos) 1917-1952, George Braque nos traz à lembrança a exigência de toda criação: "écrire n'est pas décrire. Peindre n'est pas dépeindre" (escrever não é descrever. Pintar não é [[representar]]). Por isso, definir uma coisa também consiste, no fundo, no fundo, em substituí-la por vocábulos" (1).  
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:Em ''Heráclito'' (1), [[Heidegger]] faz a ligação da metafísica com a inércia da lógica.
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:Heidegger, Martin. Heráclito. Rio de Janeiro, Relume Dumará, 1998, p. 264 a 286. (Faz a ligação da metafísica com a inércia da lógica.)
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
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:HEIDEGGER, Martin. ''Heráclito''. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998, pp. 264-286.  
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:“Assim posto, em que consiste, portanto, a essência da metafísica? Ela é o modo de pensar que [...] pensa o ente enquanto ente [...] e, pelo fato de a metafísica interrogar o ente enquanto ente, permanece ela junto ao ente e não se volta para o ser enquanto ser.” Heidegger, Martin. Introdução à metafísica. Rio, Tempo Brasileiro, 1969, p. 61e 62.
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:"Assim posto, em que consiste, portanto, a [[essência]] da metafísica? Ela é o modo de pensar que [...] pensa o [[ente]] enquanto ente [...] e, pelo fato de a metafísica interrogar o ente enquanto ente, [[permanência|permanece]] ela junto ao ente e não se volta para o ser enquanto ser" (1). Uma outra obra que dialoga com esta questão é ''Do um como princípio ao dois como unidade'' (2).Pode-se dialogar a questão também 
:Referências:
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:Cf. ainda, Idem, p. 66 e 132;
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:Cf. Michelazzo, José Carlos. Do um como princípio ao dois como unidade. São Paulo, Annablume, 1999, p. 41.
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:(1) HEIDEGGER, Martin. ''Introdução à metafísica''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1969, pp. 61-2.  
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:(2) MICHELAZZO, José Carlos. ''Do um como princípio ao dois como unidade''. São Paulo: Annablume, 1999, p. 41.
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:Os grandes filósofos do ocidente nada mais fizeram do que sempre e de novo e como novo o elogio da metafísica. Qualquer tentativa de dizer o que a palavra metafísica oculta é uma decisão pelo fracasso. E, no entanto, a palavra é simples, muito simples. Compõe-se do prefixo grego meta-, que significa: entre, além, para, junto a; e da palavra physis. A meta-física diz respeito à subjetividade porque o ser-humano é o Entre-da-physis. Porém tal "Entre" é ambíguo e a physis, misteriosa e enigmática. Ela possibilita muitas leituras. Inclusive a metafísica. Nenhuma semântica, nenhuma lógica consegue abarcá-la e apreendê-la.
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:Os grandes filósofos do [[ocidente]] nada mais fizeram do que sempre e de novo e como novo o elogio da metafísica. Qualquer tentativa de dizer o que a palavra metafísica oculta é uma [[decisão]] pelo fracasso. E, no entanto, a palavra é simples, muito simples. Compõe-se do prefixo grego ''metá-'', que significa: entre, além, para, junto a; e da palavra ''phýsis''. A meta-física diz respeito à [[subjetividade]] porque o ser-humano é o Entre-da-''phýsis''. Porém, tal [[Entre]] é ambíguo e a ''phýsis'', misteriosa e enigmática. Ela possibilita muitas leituras. Inclusive a metafísica. Nenhuma [[semântica]], nenhuma lógica consegue abarcá-la e apreendê-la.
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
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:[[ - Manuel Antônio de Castro]]
 
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:"A palavra metafísica é ambígua. Por isso gerou as atitudes mais extremas e opostas. Na boca do materialista vulgar é tudo que está para além do que é imediato, palpável, força cega e irracional, isto é, material. Na boca do espiritualista vulgar é tudo que transcende a matéria, é o permanente, o eterno, o ideal. Diante destas atitudes dicotômicas e totalmente contraditórias, a sabedoria aconselha o desvelo pela physis, numa atitude espirituosa e equilibrada que deixe a tensão vigorar"(1).
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:"A palavra metafísica é [[ambiguidade|ambígua]]. Por isso gerou as atitudes mais extremas e opostas. Na boca do [[materialismo|materialista]] vulgar é tudo que está para além do que é imediato, palpável, força cega e irracional, isto é, material. Na boca do espiritualista vulgar é tudo que transcende a matéria, é o [[permanência|permanente]], o eterno, o ideal. Diante destas atitudes dicotômicas e totalmente contraditórias, a sabedoria aconselha o desvelo pela ''phýsis'', numa atitude espirituosa e equilibrada que deixe a tensão vigorar" (1).
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:Referência
 
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:(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Poiesis, sujeito e metafísica”. In: --- (org) . ''A construção poética do real''. Rio de Janeiro: 7letras, 2004, p. 14.   
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:(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poiesis, sujeito e metafísica". In: ______ (org). ''A construção poética do real''. Rio de Janeiro: 7letras, 2004, p. 14.   
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:"Por isso quando se fala em superação da metafísica não se trata de construir um sistema mais amplo e completo. Nada disso. Aí mora o perigo maior da chamada desconstrução da metafísica. Superar não significa, portanto, ressentir-se ou revoltar-se. Diz com simplicidade a tarefa de pensar o a-ser-pensado: o esquecimento e silenciamento do Ser nas diversas instâncias. Trata-se, portanto, de fazer a experiência da experienciação do Ser em seu sentido. Não rejeita a metafísica, mas parte dela para dar um passo atrás e à frente, e tentar, como pensamento, corresponder ao apelo das questões já desde sempre vigentes em nosso horizonte, em nossa condição. Intenta-se fazer da filosofia o cuidado pensante e não o pensamento calculante" (1).
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:"Por isso quando se fala em superação da metafísica não se trata de construir um [[sistema]] mais amplo e completo. Nada disso. Aí mora o perigo maior da chamada desconstrução da metafísica. Superar não significa, portanto, ressentir-se ou revoltar-se. Diz com [[simplicidade]] a tarefa de pensar o a-ser-pensado: o esquecimento e silenciamento do Ser nas diversas instâncias. Trata-se, portanto, de fazer a experiência da experienciação do Ser em seu sentido. Não rejeita a metafísica, mas parte dela para dar um passo atrás e à frente, e tentar, como pensamento, corresponder ao apelo das questões já desde sempre vigentes em nosso [[horizonte]], em nossa condição. Intenta-se fazer da [[filosofia]] o cuidado pensante e não o pensamento calculante" (1).
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:Referência
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:(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Poiesis, sujeito e metafísica”. In: --- (org). ''A construção poética do real''. Rio de Janeiro: 7letras, 2004, p. 27.   
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:(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poiesis, sujeito e metafísica". In: ______ (org). ''A construção poética do real''. Rio de Janeiro: 7letras, 2004, p. 27.   
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:“A visão da aparência pela qual se pode olhar o que é uma casa, e não esta ou aquela casa percebida sensivelmente, a visão da aparência do que constitui a casa é algo não sensível, é supra(meta)-sensível (physis): supra-sensível=metaphysis, metafísica. Pensar o ente a partir da idéia, do supra-sensível, é o que distingue  o pensamento que recebe o nome de “metafísica” " (1)
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:"A visão da [[aparência]] pela qual se pode olhar o que é uma casa, e não esta ou aquela casa percebida sensivelmente, a visão da aparência do que constitui a casa é algo não sensível, é supra(meta)-sensível (''phýsis''): supra-sensível = ''metaphysis'', metafísica. Pensar o ente a partir da ideia, do supra-sensível, é o que distingue  o [[pensamento]] que recebe o nome de 'metafísica'" (1).
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:Referência
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:Referência:
:HEIDEGGER, Martin. ''Heráclito''. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998, p. 265.
:HEIDEGGER, Martin. ''Heráclito''. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998, p. 265.
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== Ver também ==
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:'''Ver também:'''
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*[[Conceito|Conceitos]]
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*[[Ente]]
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:*[[Lógica]]
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*[[Lógica]]
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Edição de 18h57min de 22 de março de 2009

1

O país da Razão se transformou todo na paisagem dis-posta dos conceitos, porque o país da Metafísica transformou tudo na paisagem da Razão. Uma teia de razões, conceitos e funções organizou a realidade, ocupou todos os espaços e recantos na instrumentalidade comunicativa da linguagem e cobriu todo o planeta e encobriu toda a Terra num aparente engravidamento de realizações. "Em seus Cahiers (cadernos) 1917-1952, George Braque nos traz à lembrança a exigência de toda criação: "écrire n'est pas décrire. Peindre n'est pas dépeindre" (escrever não é descrever. Pintar não é representar). Por isso, definir uma coisa também consiste, no fundo, no fundo, em substituí-la por vocábulos" (1).


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 125.


2

Em Heráclito (1), Heidegger faz a ligação da metafísica com a inércia da lógica.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
HEIDEGGER, Martin. Heráclito. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998, pp. 264-286.


3

"Assim posto, em que consiste, portanto, a essência da metafísica? Ela é o modo de pensar que [...] pensa o ente enquanto ente [...] e, pelo fato de a metafísica interrogar o ente enquanto ente, permanece ela junto ao ente e não se volta para o ser enquanto ser" (1). Uma outra obra que dialoga com esta questão é Do um como princípio ao dois como unidade (2).Pode-se dialogar a questão também


Referências:
(1) HEIDEGGER, Martin. Introdução à metafísica. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1969, pp. 61-2.
(2) MICHELAZZO, José Carlos. Do um como princípio ao dois como unidade. São Paulo: Annablume, 1999, p. 41.


4

Os grandes filósofos do ocidente nada mais fizeram do que sempre e de novo e como novo o elogio da metafísica. Qualquer tentativa de dizer o que a palavra metafísica oculta é uma decisão pelo fracasso. E, no entanto, a palavra é simples, muito simples. Compõe-se do prefixo grego metá-, que significa: entre, além, para, junto a; e da palavra phýsis. A meta-física diz respeito à subjetividade porque o ser-humano é o Entre-da-phýsis. Porém, tal Entre é ambíguo e a phýsis, misteriosa e enigmática. Ela possibilita muitas leituras. Inclusive a metafísica. Nenhuma semântica, nenhuma lógica consegue abarcá-la e apreendê-la.


- Manuel Antônio de Castro


5

"A palavra metafísica é ambígua. Por isso gerou as atitudes mais extremas e opostas. Na boca do materialista vulgar é tudo que está para além do que é imediato, palpável, força cega e irracional, isto é, material. Na boca do espiritualista vulgar é tudo que transcende a matéria, é o permanente, o eterno, o ideal. Diante destas atitudes dicotômicas e totalmente contraditórias, a sabedoria aconselha o desvelo pela phýsis, numa atitude espirituosa e equilibrada que deixe a tensão vigorar" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poiesis, sujeito e metafísica". In: ______ (org). A construção poética do real. Rio de Janeiro: 7letras, 2004, p. 14.


6

"Por isso quando se fala em superação da metafísica não se trata de construir um sistema mais amplo e completo. Nada disso. Aí mora o perigo maior da chamada desconstrução da metafísica. Superar não significa, portanto, ressentir-se ou revoltar-se. Diz com simplicidade a tarefa de pensar o a-ser-pensado: o esquecimento e silenciamento do Ser nas diversas instâncias. Trata-se, portanto, de fazer a experiência da experienciação do Ser em seu sentido. Não rejeita a metafísica, mas parte dela para dar um passo atrás e à frente, e tentar, como pensamento, corresponder ao apelo das questões já desde sempre vigentes em nosso horizonte, em nossa condição. Intenta-se fazer da filosofia o cuidado pensante e não o pensamento calculante" (1).


Referência
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poiesis, sujeito e metafísica". In: ______ (org). A construção poética do real. Rio de Janeiro: 7letras, 2004, p. 27.


7

"A visão da aparência pela qual se pode olhar o que é uma casa, e não esta ou aquela casa percebida sensivelmente, a visão da aparência do que constitui a casa é algo não sensível, é supra(meta)-sensível (phýsis): supra-sensível = metaphysis, metafísica. Pensar o ente a partir da ideia, do supra-sensível, é o que distingue o pensamento que recebe o nome de 'metafísica'" (1).


Referência:
HEIDEGGER, Martin. Heráclito. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998, p. 265.


Ver também:
Ferramentas pessoais