Hóstia

De Dicionário de Poética e Pensamento

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"Quando o cristão recebe a hóstia, recebe em seu corpo mortal a divindade. A hóstia não representa o cristo. Ela é o cristo. Pode um corpo mortal acolher em si o corpo imortal de deus? Estas perguntas que procuram apenas circunscrever alguma lógica de representação não conseguem se articular com o fato de que ao acolher em si o corpo imortal do cristo que é a hóstia, o cristão é ele mesmo acolhido ao mesmo tempo no corpo de cristo que é a igreja, que é a cristandade. O acolhido acolhe. Contradição originária. Neste mútuo acolhimento, tornam-se um, o cristão e o cristo. Tornados um na corporeidade da ocasião sagrada, cristão e cristo não se igualam, contudo. O que os reúne, os separa. O cristo, acolhido no fiel com o qual se faz um único corpo, consuma a existência do cristão. Na medida em que o cristo acolhe o cristão em seu corpo, ele o liberta para ser plenamente o que é. O fiel, porquanto acolhe em si o cristo, também manifesta o cristo na plenitude do seu ser, pois o cristo se consuma no ser-acolhido libertador por cada cristão" (1).


Referência:
(1) BRAGA, Diego. A terceira margem do mito: hermenêutica da corporeidade. In: Revista Terceira margem. Revista do Programa de Pós-graduação em Ciência da Literatura da UFRJ. Ano XIV, 22, jan.-jun, 2010, p. 58.
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