Sabedoria
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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:(1) BLOOM, Harold. ''Como e por que ler?''. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, p. 15. | :(1) BLOOM, Harold. ''Como e por que ler?''. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, p. 15. | ||
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:(1) ANAXIMANDRO et alii. ''Os pensadores originários''. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1981, p. 69. | :(1) ANAXIMANDRO et alii. ''Os pensadores originários''. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1981, p. 69. | ||
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+ | :A sabedoria é fundamentalmente [[abertura]], já que não se conjuga a partir de modelos paradigmáticos. Há muitos saberes dados pelas óticas que filtram nosso acometimento com algum [[saber]] específico, porém a sabedoria é uma constante inesgotável de percepção que se amplia conforme nos colocamos abertos. Podemos entender esta movimentação como tensão entre saber e não-saber, uma vez que não há o espaço do saber e o do não-saber ([[nada]]), mas uma captação mútua em que determinada dimensão se vela para que outra se manifeste simultaneamente. | ||
+ | :A [[percepção]] do que a visão nos proporciona recondiciona tanto a coisa vista quanto a nós mesmos, já que ao avistarmos algo nos percebemos neste avistamento. Então, a este contínuo trânsito entre não-saber e saber, chegamos à sabedoria enquanto caminhada: "Não posso saber o que é o Nada, mas posso saber que não sei. Se sei que não sei, não estou vencido. Ainda tenho o saber de meu não-saber. O auge da sabedoria não é o [[não-saber]] do saber, mas o saber do não-saber" (1). | ||
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+ | :(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Diana e Heráclito". In: ______. ''Aprendendo a pensar''. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 184. |
Edição de 00h28min de 6 de Novembro de 2009
1
- Sabedoria é uma postura essencial, mas não podemos confundi-la com um sistema de valores. Daí a profundidade de Heráclito quando diz sobre a sabedoria: "Pensar é a maior coragem, e a sabedoria, acolher a verdade e fazer com que se ausculte ao longo do vigor" (1).
- Referência:
- (1) HERÁCLITO. Os pensadores originários. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 89.
2
- "Você sabe que podemos voar com asas: ainda não aprendemos a voar sem elas. Já nos familiarizamos com a sabedoria dos que sabem, mas ainda não nos familiarizamos com a sabedoria dos que não sabem" (1).
- Referência:
- (1) MERTON, Thomas. A via de Chuang Tzu. Petrópolis: Vozes, 1996, p. 72.
3
- A sabedoria é um tema muito rico. Há nela uma relação muito grande entre a possibilidade de a virtude ser ensinada: a questão da liberdade e a essência da sabedoria. Ética, sabedoria, liberdade e natureza se interrelacionam profundamente, mas Heidegger vai levar isso tudo para o campo do ser, enquanto verdade e sentido. A essência da sabedoria e da liberdade estão sintetizadas na misteriosa afirmação de Santo Agostinho: "Ama e faze o que quiseres".
4
- A questão da sabedoria é inerente ao mito, à religião, à arte, à filosofia. Nessa última, toma uma forma especial: a ética, que não deve ser confundida com o ético. O ético é, originariamente, próprio do mito, do sagrado, da arte e do pensamento. Depois, toma o sentido geral de humanismo. Na filosofia pós-clássica tende a se tornar um saber. Porém, já na própria filosofia há a crítica em torno do saber, gerando a epistemologia e também os saberes setoriais como o da natureza e das paixões. Mas só no Renascimento se dá uma cisão maior, quando os saberes filosófico-científicos se separam dos ditos saberes metafísicos. Aqueles, além de racionais, asumem uma dimensão nitidamente físico-matemática, abarcando campos de conhecimento sem uma preocupação de sabedoria. Essa evolução tem enormes conseqüências para o mito que é negado, para a religião, que é negada (morte de Deus) e para a arte, em que a crítica assume uma faceta científica, destruindo na arte aquilo que lhe é próprio. Isso gerou uma indagação de Harold Bloom: "Nos dias de hoje, a informação é facilmente encontrada, mas onde está a sabedoria?" (1). Há na tecnociência uma incompatibilidade com a sabedoria, daí a dificuldade de lhe atribuir um sentido ético.
- Referência:
- (1) BLOOM, Harold. Como e por que ler?. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, p. 15.
8
- "Muito saber não ensina sabedoria, pois teria ensinado a Hesíodo e Pitágoras, a Xenófanes e Hecateu" (1).
- Referência:
- (1) ANAXIMANDRO et alii. Os pensadores originários. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1981, p. 69.
9
- A sabedoria é fundamentalmente abertura, já que não se conjuga a partir de modelos paradigmáticos. Há muitos saberes dados pelas óticas que filtram nosso acometimento com algum saber específico, porém a sabedoria é uma constante inesgotável de percepção que se amplia conforme nos colocamos abertos. Podemos entender esta movimentação como tensão entre saber e não-saber, uma vez que não há o espaço do saber e o do não-saber (nada), mas uma captação mútua em que determinada dimensão se vela para que outra se manifeste simultaneamente.
- A percepção do que a visão nos proporciona recondiciona tanto a coisa vista quanto a nós mesmos, já que ao avistarmos algo nos percebemos neste avistamento. Então, a este contínuo trânsito entre não-saber e saber, chegamos à sabedoria enquanto caminhada: "Não posso saber o que é o Nada, mas posso saber que não sei. Se sei que não sei, não estou vencido. Ainda tenho o saber de meu não-saber. O auge da sabedoria não é o não-saber do saber, mas o saber do não-saber" (1).
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Diana e Heráclito". In: ______. Aprendendo a pensar. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 184.