Questão

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:Há cinco questões básicas: ''phýsis'', tempo, linguagem, memória, história. Não basta dizer que não sabemos o que são e que mantêm entre si uma referência fundamental. Não basta tomar o caminho do não-saber como possibilidade de todo saber. Não basta falar das experienciações. Tudo isso é válido. Diz Heidegger: "O que se disse acerca do caráter histórico da questão 'que é uma coisa?' é válido para qualquer questão de filosofia, que colocamos hoje ou no futuro, admitindo, certamente, que a filosofia é um questionar que se põe a si mesmo em questão e que, em conseqüência, se movimenta, sempre e em toda a parte em [[círculo]]" (1). Para fugir da linearidade causal da historiografia, do tempo, da memória é necessário ter presente, por exemplo, que quando se pergunta: O que é a história? Esta pergunta não se pode responder através de dados historiográficos. A historiografia já pressupõe que de antemão se defina o seu objeto e o seu método. A historiografia nunca pergunta pelo isto que ela é. Quando pergunta, deixa de ser historiografia e passa a ser "filosofia". Por isso, a experiência da História como conhecimento e como experienciação do que é [[História]] são diferentes. Na História (experienciação) há um acontecer. Na [[historiografia]] há uma experiência como conhecimento. Aí já se inclui a ''phýsis'' (''Res''/real) o tempo, a linguagem, a memória.  
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:Há cinco questões básicas: ''phýsis'', tempo, linguagem, memória, história. Não basta dizer que não sabemos o que são e que mantêm entre si uma referência fundamental. Não basta tomar o caminho do não-saber como possibilidade de todo saber. Não basta falar das experienciações. Tudo isso é válido. Diz Heidegger: "O que se disse acerca do caráter histórico da questão 'que é uma coisa?' é válido para qualquer questão de filosofia, que colocamos hoje ou no futuro, admitindo, certamente, que a filosofia é um questionar que se põe a si mesmo em questão e que, em conseqüência, se movimenta, sempre e em toda a parte em [[círculo]]" (1). Para fugir da linearidade causal da historiografia, do tempo, da memória é necessário ter presente, por exemplo, que quando se pergunta: o que é a história? Essa pergunta não se pode responder através de dados historiográficos. A historiografia já pressupõe que de antemão se defina o seu objeto e o seu método. A historiografia nunca pergunta pelo isto que ela é. Quando pergunta, deixa de ser historiografia e passa a ser "filosofia". Por isso, a experiência da história como conhecimento e como experienciação do que é [[História]] são diferentes. Na História (experienciação) há um acontecer. Na [[historiografia]] há uma experiência como conhecimento. Aí já se inclui a ''phýsis'' (''res''/real) o tempo, a linguagem, a memória.  
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:Não tenho certezas nem incertezas. Sou possuído pelas questões.  
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:"Como a palavra querer, também as palavras questão, questionar e questionamento vêm do latim: ''quaerere''. ''Quaerere'' significa: empenhar-se na busca e na [[procura]] do que não se tem, por já se ter e para se vir a ter" (1).
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
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:(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. ''Aprendendo a pensar I''. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 44.
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:"Como a palavra querer, também as palavras questão, questionar e questionamento vêm do latim: quaerere. Quaerere significa: empenhar-se na busca e na procura do que não se tem, por já se ter e para se vir a ter"(1).
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:Não questionamos porque agimos logicamente. Só podemos agir logicamente porque já somos desde sempre questão. Enquanto o isto da essência do homem, quer dizer, pelo simples fato de questionarmos, já estamos lançados e vigoramos no e a partir do ''logos''. Questionar é pensar. "O pensamento con-suma a referência do Ser à Essência do homem. Não a produz nem a efetua. O pensamento apenas a restitui ao Ser como algo que lhe foi entregue pelo próprio Ser. Essa restituição consiste em que no pensamento o ser se torna linguagem. A linguagem é a Casa do ser" (1). A ''linguagem'' é o ''lógos''. Como a questão, não somos nós que temos a linguagem, mas é a linguagem que nos tem. A linguagem fala, não o homem.  
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:(1)LEÃO, Emmanuel Carneiro. ''Aprendendo a pensar I''. Petrópolis, Vozes: 1977, p. 44.
 
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
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:Não questionamos porque agimos logicamente. Só podemos agir logicamente porque já somos desde sempre questão. E então esta, enquanto o isto da Essência do homem, quer dizer, pelo simples fato de questionarmos - perguntarmos, que já estamos lançados e vigoramos no e a partir do ''Logos''. Questionar é pensar. "O pensamento con-suma a referência do Ser à Essência do homem. Não a produz nem a efetua. O pensamento apenas a restitui ao Ser como algo que lhe foi entregue pelo próprio Ser. Essa restituição consiste em que no pensamento o Ser se torna linguagem. A linguagem é a Casa do ser"(1). A ''linguagem'' é o ''Lógos''. Como a questão não somos nós que temos a Linguagem. Mas é a Linguagem que nos tem. A linguagem fala, não o homem.
 
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:(1)HEIDEGGER, Martin.''Carta sobre o humanismo''. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio, Tempo Brasileiro, 1967, p. 24.
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:(1) HEIDEGGER, Martin. ''Cartas sobre o humanismo''. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1967, p. 24.
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:"Ao doar-se da physis, da realidade, no [[homem]] enquanto mito, poesia, pensamento, filosofia e o místico enquanto mistério, é o que denominamos questões. Não é o homem que tem as questões, são estas que têm e constituem o homem. Ao narrar mitos e ao escreverem-se [[obras poéticas]], nelas e por elas as questões se tornam obras-questões-mitos do [[real]] no homem" (1).  
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:"Ao doar-se da ''phýsis'', da realidade, no [[homem]] enquanto mito, poesia, pensamento, filosofia e o místico enquanto mistério, é o que denominamos questões. Não é o homem que tem as questões, são estas que têm e constituem o homem. Ao narrar mitos e ao escreverem-se [[obra|obras]] poéticas, nelas e por elas as questões se tornam obras-questões-mitos do [[real]] no homem" (1).  
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:Referência
 
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:(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Permanência e atualidade da Poética. In: Revista ''Tempo Brasileiro'', 171, out.-dez., 2007, p. 12.
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:Referência:
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:(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Permanência e atualidade da Poética". In: ''Revista Tempo Brasileiro''. Rio de Janeiro: número 171, out.-dez. 2007, p. 12.
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== Ver também ==
 
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*[[Círculo]]
 
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:'''Ver também:'''
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:Heidegger procura mostrar a relação entre questão e realidade de uma maneira constante. Os nossos olhos e ouvidos conduzidos pelo senso comum ou pelas certezas dos sistemas epistemológicos não se abrem para a questão das questões. E, para isso, se serve, no início do livro ''O que é uma coisa?'', da passagem do Teeteto de Platão quando fala da criada Trácia a propósito de Tales. Quem é a criada Trácia hoje? Por isso ele afirma: "Quando não suscitamos a questão e não reparamos nela, as conseqüências são as mesmas. Quando não vemos a placa de aviso num fio de alta tensão e nos encostamos nele, morremos. Quando não reparamos na questão "que é uma coisa?", "nada [[acontecer|acontece]]". (1) E ele continua: "Quando um professor interpreta um poema para seus alunos de um modo inadequado, nada acontece". (2) Mas talvez seja bom falarmos aqui cautelosamente: dá a impressão de que nada mais acontece quando não reparamos na questão a ser cada coisa e na [[interpretação]] insuficiente do poema. Um dia - talvez daqui a cinqüenta ou cem anos - acontecerá não obstante, qualquer coisa".
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*[[Círculo]]
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:Referências:
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:(1) HEIDEGGER, Martin. ''O que é uma coisa?'' Lisboa: Edições 70, 1992, p. 58.
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:(2) Idem, p. 58.
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:(3) Idem, p. 58.
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Edição de 02h55min de 26 de março de 2009

1

Há cinco questões básicas: phýsis, tempo, linguagem, memória, história. Não basta dizer que não sabemos o que são e que mantêm entre si uma referência fundamental. Não basta tomar o caminho do não-saber como possibilidade de todo saber. Não basta falar das experienciações. Tudo isso é válido. Diz Heidegger: "O que se disse acerca do caráter histórico da questão 'que é uma coisa?' é válido para qualquer questão de filosofia, que colocamos hoje ou no futuro, admitindo, certamente, que a filosofia é um questionar que se põe a si mesmo em questão e que, em conseqüência, se movimenta, sempre e em toda a parte em círculo" (1). Para fugir da linearidade causal da historiografia, do tempo, da memória é necessário ter presente, por exemplo, que quando se pergunta: o que é a história? Essa pergunta não se pode responder através de dados historiográficos. A historiografia já pressupõe que de antemão se defina o seu objeto e o seu método. A historiografia nunca pergunta pelo isto que ela é. Quando pergunta, deixa de ser historiografia e passa a ser "filosofia". Por isso, a experiência da história como conhecimento e como experienciação do que é História são diferentes. Na História (experienciação) há um acontecer. Na historiografia há uma experiência como conhecimento. Aí já se inclui a phýsis (res/real) o tempo, a linguagem, a memória.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. O que é uma coisa?. Lisboa: Edições 70, 1992, p. 54.


2

"Como a palavra querer, também as palavras questão, questionar e questionamento vêm do latim: quaerere. Quaerere significa: empenhar-se na busca e na procura do que não se tem, por já se ter e para se vir a ter" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar I. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 44.


3

Não questionamos porque agimos logicamente. Só podemos agir logicamente porque já somos desde sempre questão. Enquanto o isto da essência do homem, quer dizer, pelo simples fato de questionarmos, já estamos lançados e vigoramos no e a partir do logos. Questionar é pensar. "O pensamento con-suma a referência do Ser à Essência do homem. Não a produz nem a efetua. O pensamento apenas a restitui ao Ser como algo que lhe foi entregue pelo próprio Ser. Essa restituição consiste em que no pensamento o ser se torna linguagem. A linguagem é a Casa do ser" (1). A linguagem é o lógos. Como a questão, não somos nós que temos a linguagem, mas é a linguagem que nos tem. A linguagem fala, não o homem.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Cartas sobre o humanismo. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1967, p. 24.


5

"Ao doar-se da phýsis, da realidade, no homem enquanto mito, poesia, pensamento, filosofia e o místico enquanto mistério, é o que denominamos questões. Não é o homem que tem as questões, são estas que têm e constituem o homem. Ao narrar mitos e ao escreverem-se obras poéticas, nelas e por elas as questões se tornam obras-questões-mitos do real no homem" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Permanência e atualidade da Poética". In: Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro: número 171, out.-dez. 2007, p. 12.


Ver também: