Mulher

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 21h29min de 24 de janeiro de 2009 por Andre (Discussão | contribs)

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"Aí estava o mar, a mais ininteligível das existências não-humanas. E ali estava a mulher, de pé, o mais ininteligível dos seres vivos. Como o ser humano fizera um dia uma pergunta sobre si mesmo, tornara-se o mais ininteligível dos seres onde circulava sangue."


Referências:
LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. 4. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974, p. 82.

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O conceito “mulher” aplicado a cada mulher individual e singular ainda não consegue dizer tudo, simplesmente porque a mulher-individual está continuamente sendo o não-ser, mudando. Mas ainda falta apreendê-la nesse vir-a-ser como unidade nessa mudança, senão será impossível falar tanto do conceito “mulher” como da mulher singular e concreta. O que falta? O originário, a memória, a linguagem, ou seja, só quando a mulher singular e concreta “vigora” como possibilidade de ser mulher, no horizonte de mudança e permanência, é que se pode apreender a mulher-singular-concreta, isto é, como o que ela é no seu concrescer, no seu vir-a-ser "esta" mulher e, ao mesmo tempo, ser simplesmente "mulher". Isto não significa uma essência abstrata, o conceito mulher, mas a tensão entre singularidade e identidade, daí que Memória como Unidade não é apenas a identidade, mas unidade significa sempre unidade de identidade e diferença (singularidade), ou seja, “entre” ser e não ser há um abismo para o qual a identidade da diferença e a diferença da identidade nos atrai irresistivelmente. O vigor e a possibilidade são Eros. Podemos ver o sentido profundo desse Eros quando, entre outras possibilidades concretas, se concretiza na mulher. E é nesse horizonte que se pode pensar Mulher e Feminismo poeticamente. O poético é o vigor poético pelo qual cada mulher é esta mulher e ao mesmo tempo ser feminina. E é daí que se pode pensar a Mulher enquanto “corpo” na sua feminilidade, ou seja, a reunião de terra e céu. Não podemos pensar aqui terra e céu como conceitos oriundos de uma visão cosmográfica, mas no que eles têm de misterioso e sagrado. Hoje a genética já trabalha com a idéia de terra como sendo Gaia, ou seja, simplesmente, VIDA. Por isso a mulher está profundamente ligada à Terra. Terra é gaia, é vida. Mas então não podemos pensar VIDA como algo biológico apenas, mas o próprio vigor e possibilidade vital que comparece em tudo e a toda vida possibilita. A mulher como mulher tem em si sintetizado todo esse vigor vital. Então VIDA é uma questão e não simplesmente um conceito, seja de que ciência for.

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