Memória

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: Hoje começamos a saber que o ser humano co-participa com os demais seres de ecossistemas. Mas estes não dizem respeito apenas à cadeia vital. Tudo é mais complexo. Por isso o ser humano tem sido estudado em relação a três grandes sistemas: o orgânico-vital, o social, o psíquico. Contudo, algo mais fundamental articula estes três sistemas: a memória. Mas como ela perfaz e percorre os três, não se deixando esgotar, ela vai estar ligada ao ser. E por quê? Porque inclui o ético e o belo, que estão para além do conhecimento, princípio que estrutura os três sistemas. Por isso o código genético não pode ficar adstrito ao conhecimento, ou seja, o que é um sistema de signos para comunicar e manifestar conhecimentos. Ele tem um encontro marcado com a memória enquanto ser. É que o ser é mais radical enquanto memória, pois nesta se faz presente e dá unidade: o ético, o sentido de realização da vida. Como o conhecimento do ético não pode ser ensinado, só o conhecimento configurado numa moral, aquilo que dá sentido a todo agir é a memória enquanto sentido do ser. A moral é objeto de aprendizado. O ético é um processo de aprendizagem, fundado no sentido do ser. A memória do ser é o ético e o belo, ou seja, o poético.
: Hoje começamos a saber que o ser humano co-participa com os demais seres de ecossistemas. Mas estes não dizem respeito apenas à cadeia vital. Tudo é mais complexo. Por isso o ser humano tem sido estudado em relação a três grandes sistemas: o orgânico-vital, o social, o psíquico. Contudo, algo mais fundamental articula estes três sistemas: a memória. Mas como ela perfaz e percorre os três, não se deixando esgotar, ela vai estar ligada ao ser. E por quê? Porque inclui o ético e o belo, que estão para além do conhecimento, princípio que estrutura os três sistemas. Por isso o código genético não pode ficar adstrito ao conhecimento, ou seja, o que é um sistema de signos para comunicar e manifestar conhecimentos. Ele tem um encontro marcado com a memória enquanto ser. É que o ser é mais radical enquanto memória, pois nesta se faz presente e dá unidade: o ético, o sentido de realização da vida. Como o conhecimento do ético não pode ser ensinado, só o conhecimento configurado numa moral, aquilo que dá sentido a todo agir é a memória enquanto sentido do ser. A moral é objeto de aprendizado. O ético é um processo de aprendizagem, fundado no sentido do ser. A memória do ser é o ético e o belo, ou seja, o poético.

Edição de 03h49min de 29 de março de 2009

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Hoje começamos a saber que o ser humano co-participa com os demais seres de ecossistemas. Mas estes não dizem respeito apenas à cadeia vital. Tudo é mais complexo. Por isso o ser humano tem sido estudado em relação a três grandes sistemas: o orgânico-vital, o social, o psíquico. Contudo, algo mais fundamental articula estes três sistemas: a memória. Mas como ela perfaz e percorre os três, não se deixando esgotar, ela vai estar ligada ao ser. E por quê? Porque inclui o ético e o belo, que estão para além do conhecimento, princípio que estrutura os três sistemas. Por isso o código genético não pode ficar adstrito ao conhecimento, ou seja, o que é um sistema de signos para comunicar e manifestar conhecimentos. Ele tem um encontro marcado com a memória enquanto ser. É que o ser é mais radical enquanto memória, pois nesta se faz presente e dá unidade: o ético, o sentido de realização da vida. Como o conhecimento do ético não pode ser ensinado, só o conhecimento configurado numa moral, aquilo que dá sentido a todo agir é a memória enquanto sentido do ser. A moral é objeto de aprendizado. O ético é um processo de aprendizagem, fundado no sentido do ser. A memória do ser é o ético e o belo, ou seja, o poético.


- Manuel Antônio de Castro

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A memória é o ponto de ligação entre o singular que cada um é e o sentido histórico-social. Mais do que ponto de ligação é a fonte e a origem, pois a Memória é o que foi, é e será. Do ponto de vista atual, podemos dizer, para encaminhar a problemática do que somos, que existe uma memória natural e uma memória cultural. Mas entre as duas não há oposição. Hoje se lê a memória natural como código genético, o que é uma denominação imprópria, pois só pode haver memória natural porque já é linguagem. O conceito de código não dá conta do que é linguagem. Em vista disso a memória cultural é a memória natural manifestada como linguagem, não como linguagem cultural, mas como linguagem simplesmente, sem atributos, ou seja, a manifestação da [[phýsis]] como [[lógos]]. A melhor compreensão de memória natural e memória cultural, uma real distinção, mas uma falsa dicotomia, está na concepção mítica de génos. Génos, destino, linguagem, tempo e história estão intimamente ligados e o entendimento de uma dessas questões pressupõe o entendimento das outras. Mas quando se trata de questão ela já se move sempre no sentido do ser. Tendo em vista isso, falar da memória é falar da memória do ser.


- Manuel Antônio de Castro

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"Esta Deusa,cujo ser (=nascimento - natureza) explicita o Ser-fundamento da Terra-Mãe e do Céu luminoso e fecundador,não é uma Memória individual que deva conservar (e servir a)vicissitudes e singularidades factuais restritas à história de um indivíduo, - e, sim, uma Memória Cosmogônica, é uma divindade cujo ser é dado por esse mesmo mo(vi)mento que dá ordem ao Mundo (o momentum cosmogônico)" (1).


(1)Torrano, JAA. "Introdução". In: Hesíodo. Teogonia. São Paulo: Iluminuras, 1992, p. 81.

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Segundo o dicionário, memória é:

1o. Conservação de sensações; 2o. Reminiscência; 3o. Faculdade de conservar e lembrar estados de consciência passados, de reter ideias. O dicionário lexical-semântico se baseia na lógica dos conceitos e não deixa o vigor das palavras serem o que são: manifestação da realidade. Só manifestando, a palavra é verdade e não mera representação conceitual, significantes e significados não da realidade,mas sobre a realidade. Memória em seu vigor de palavra remonta à Mitologia. Nesta, Memória é a mãe de todas as artes. É pelo vigor da Memória (mãe) que podemos articular e manifestar o memorável. Memorável é o que permanece no fluxo das mudanças fugidias e passageiras. Por isso, memória e tempo unitário são um só, ou seja, o tempo tridimensional (passado, presente e futuro)é ontologicamente unitário como memória. Nessa unidade não há uniformidade conceitual, mas há identidade enquanto diferença, ou seja, permanência e mudança. Isto é a memória.

- Manuel Antônio de Castro

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