Entre

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 00h56min de 13 de janeiro de 2009 por Profmanuel (Discussão | contribs)

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O entre, ao nos projetar nos interstícios da liminaridade, se desdobra em duas facetas. A primeira é a tensão. Esta indica a questão da harmonia como tensão de opostos, mas onde estes opostos de alguma maneira se manifestam, ora se dando um, ora se dando outro. Enquanto tensão de opostos na manifestação do "entre" como harmonia, é que podemos falar de complementaridade. Por exemplo, dia e noite, onda e partícula, mito e rito, masculino e feminino, apolínio e dionisíaco etc. A segunda faceta é a disputa. Esta já indica o "entre" na sua radicalidade, onde não há complementaridade, porque esta sempre se refere à ordem do manifestável. Na disputa há muito mais do que tensão. Nela comparece o próprio abismo. Seu exemplo fundamental é vida e morte. Não dá para saber o que é morte. Ninguém voltou para dizer a sua experienciação. Nela, não há complementaridade nenhuma, pois esta, em-si, se funda na negação. Já a disputa funda a tensão, mas não o contrário, porque tal fundar é abismal. É a morte. Outro exemplo é mundo e terra. Outro é nada e ente. Outro é silêncio e voz. Enfim é o vazio e a teia. Por mais que a teia se expande tanto mais o vazio a concerne, cerca, funda e se retrai. O pensamento oriental fala de dezoito modos do vazio. Há, portanto, aí uma disputa e não simplesmente uma tensão. Na disputa, o próprio "entre" se vê engolfado pelo nada. É o silêncio misterioso de Édipo no final da tragédia "Édipo em Colona". Para entender o engolfar o "entre", pelo nada, é necessário ter em mente que o "entre" é a própria presença do nada em seu mistério. No fragmento 123: physis kryptesthai philei, de Heráclito, a physis manifestada pode ser onda e/ou partícula, mas o kryptesthai, não. Este é abismal, o silêncio que funda e possibilita toda voz, toda presença, toda manifestação.

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"Somente no âmbito do esforço é que o homem se esforça por "méritos". Somente assim ele consegue tantos méritos. Mas justamente nesse esforço e por esse esforço concede-se ao homem levantar os olhos para os celestiais. Não obstante esse levantar os olhos percorra toda direção acima rumo ao céu, permanece no abaixo da terra. Esse levantar os olhos mede o entre céu e terra. Esse entre possui uma medida comedida e ajustada ao habitar do homem. Chamaremos de dimensão a medida comedida, aberta através do entre céu e terra" (1).
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "... poeticamente o homem habita...". In: Ensaios e conferências. Petrópolis, Vozes, 2002, p. 172.

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