Clareira

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 03h01min de 6 de Novembro de 2009 por Fábio (Discussão | contribs)

1

"O destino se apropria como a clareira do ser, que é, enquanto clareira. É a clareira que outorga a proximidade do ser. Nessa proximidade, na clareira do Da lugar, mora o homem como ex-sistente, sem que ele já possa hoje experimentar e assumir esse morar" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Carta sobre o humanismo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 61.


Ver também:


2

Heidegger dedica uma atenção profunda e ampla à questão da verdade, pois é nela que se decide e constrói o projeto do pensamento metafísico ocidental. Porém, Heidegger se centraliza na palavra grega alétheia, traduzida normalmente como verdade. O pensador prefere traduzi-la por desvelamento. Desvelamento é, inicialmente, o ón vindo à sua presença. Porém, se ficasse só no desvelamento ainda estaria se limitando à predominância do pensamento metafísico, que se constrói em cima da presença e da luz, sintetizado na questão motriz para Platão: Eîdos, que originou a palavra portuguesa ideia. Não podemos esquecer que para os gregos a grande e permanente questão é o permanecer. Então, Heidegger vai refletir sobre a possibilidade do ón aparecer como o que aparecendo se faz presente. E assim surge a questão da clareira. Ela não foi pensada pela filosofia e, por isso, quando a filosofia chega ao fim e é substituída pela ciência, a questão da clareira passa a ser a questão da filosofia. Mas aí a filosofia se torna um questionar enquanto pensar. E a questão não é mais simplesmente o ón enquanto o que se faz presente, mas a clareira, ou seja, o livre aberto. Como possibilidade de aparecimento, a presença do ón, ou seja, da clareira, como o lugar tanto do desvelar como do velar. Diz Heidegger: "o claro, no sentido do livre aberto, não possui nada de comum, nem sob o ponto de vista linguístico, nem no atinente à coisa que é expressa com o adjetivo 'luminoso', que significa 'claro'" (1).


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "O fim da filosofia e a tarefa do pensamento". In: Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 79.


Ver também:


3

"Porque na clareira e só na clareira a luz da visão pode aparecer como luz e como visão. A luz não é a clareira. Pressupõe-na. Na clareira não há só luz, há também sombras. O raio que risca brilhando só o pode fazer porque brilha no aberto livre da clareira. Não vemos a partir da visão, vemos com a visão a partir do aberto livre da clareira" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poíesis, sujeito e metafísica". In: CASTRO, Manuel Antônio de (org.). A construção poética do real. Rio de Janeiro: 7Letras, 2004, p. 33.


4

"Um grilo vivia numa clareira da Floresta. A clareira é dada pela ausência da Floresta na forma de liberdade das árvores. Em ausência, a Floresta presenteia o grilo com sua presença de claridade. É que na claridade da clareira se concentra toda a Floresta. Quer ouvindo a sinfonia dos sons ou respirando os perfumes silvestres, quer pulando sobre as folhas ou cantando o ar da liberdade, quer olhando a variedade das cores ou movendo-se no espaço dos lugares, o grilo pulsa com as pulsações e vibra com as vibrações da Floresta. Assim é justamente a ausência da Floresta que proporciona ao grilo liberdade para todos os casos de sua vida.
[...]
Até mesmo a única coisa, que, com a sua mecânica, o grilo julga conhecer da Floresta – a saber, que a Floresta é a não-clareira, a meta-clareira – ainda é um conhecimento da clareira. A clareira é todo o seu mundo. Todas as coisas presentes e ausentes, todos os casos reais e irreais, todas as combinações possíveis imagináveis, todas as sentenças verdadeiras ou falsas, toda a realidade e toda a possibilidade, o ser e o não-ser pertencem à clareira. Daí também, a não-clareira, a meta-clareira, dizendo o não-tudo, nenhuma coisa existente ou imaginável, nenhuma realidade ou possibilidade, nada em seu mundo, não tem sentido na clareira por força da própria clareira. Clareira e meta-clareira são a mesma coisa, enquanto ambas se acham igualmente aprisionadas e na dependência da mecânica da clareira" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "A poesia e a linguagem". In: ______. Aprendendo a pensar. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 175; p. 177.