Clareira

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:"O [[destino]] se apropria como a clareira do ser, que é, enquanto clareira. É a clareira que outorga a [[proximidade]] do ser. Nessa proximidade, na clareira do 'Da' [[lugar]], mora o homem como ex-sistente, sem que ele já possa hoje experimentar e assumir esse morar" (1).  
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:"O [[destino]] se apropria como a clareira do ser, que é, enquanto clareira. É a clareira que outorga a [[proximidade]] do ser. Nessa proximidade, na clareira do ''Da'' [[lugar]], mora o homem como ex-sistente, sem que ele já possa hoje experimentar e assumir esse morar" (1).  
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:Heidegger dedica uma atenção profunda e ampla à questão da [[verdade]], pois é nela que se decide e constrói o projeto do pensamento metafísico ocidental. Porém, Heidegger se centraliza na palavra grega ''alétheia'', traduzida normalmente como verdade. O pensador prefere traduzi-la por [[desvelamento]]. Desvelamento é, inicialmente, o ''ón'' vindo à sua presença. Porém, se ficasse só no desvelamento ainda estaria se limitando à predominância do pensamento metafísico, que se constrói em cima da [[presença]] e da [[luz]], sintetizado na questão motriz para Platão: ''[[Eîdos]]'', que originou a palavra portuguesa ideia. Não podemos esquecer que para os gregos a grande e permanente questão é o [[permanência|permanecer]]. Então, Heidegger vai refletir sobre a possibilidade do ''ón'' aparecer como o que aparecendo se faz presente. E assim surge a questão da clareira. Ela não foi pensada pela filosofia e, por isso, quando a filosofia chega ao fim e é substituída pela ciência, a questão da clareira passa a ser a questão da filosofia. Mas aí a filosofia se torna um questionar enquanto pensar. E a questão não é mais simplesmente o ''ón'' enquanto o que se faz presente, mas a clareira, ou seja, o livre [[abertura|aberto]]. Como possibilidade de aparecimento, a presença do ''ón'', ou seja, da clareira, como o lugar tanto do desvelar como do velar. Diz Heidegger: "o claro, no sentido do livre aberto, não possui nada de comum, nem sob o ponto de vista linguístico, nem no atinente à coisa que é expressa com o adjetivo 'luminoso', que significa 'claro'" (1).  
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:Heidegger dedica uma atenção profunda e ampla à questão da [[verdade]], pois é nela que se decide e constrói o projeto do pensamento metafísico ocidental. Porém, Heidegger se centraliza na palavra grega ''[[alétheia]]'', traduzida normalmente como verdade. O pensador prefere traduzi-la por [[desvelamento]]. Desvelamento é, inicialmente, o ''[[ón]]'' vindo à sua presença. Porém, se ficasse só no desvelamento ainda estaria se limitando à predominância do pensamento metafísico, que se constrói em cima da [[presença]] e da [[luz]], sintetizado na questão motriz para Platão: ''[[Eîdos]]'', que originou a palavra portuguesa ideia. Não podemos esquecer que para os gregos a grande e permanente questão é o [[permanência|permanecer]]. Então, Heidegger vai refletir sobre a possibilidade do ''ón'' aparecer como o que aparecendo se faz presente. E assim surge a questão da clareira. Ela não foi pensada pela filosofia e, por isso, quando a filosofia chega ao fim e é substituída pela ciência, a questão da clareira passa a ser a questão da filosofia. Mas aí a filosofia se torna um questionar enquanto pensar. E a questão não é mais simplesmente o ''ón'' enquanto o que se faz presente, mas a clareira, ou seja, o livre [[abertura|aberto]]. Como possibilidade de aparecimento, a presença do ''ón'', ou seja, da clareira, como o lugar tanto do desvelar como do velar. Diz Heidegger: "o claro, no sentido do livre aberto, não possui nada de comum, nem sob o ponto de vista linguístico, nem no atinente à coisa que é expressa com o adjetivo 'luminoso', que significa 'claro'" (1).  
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:(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poíesis, sujeito e metafísica". In: CASTRO, Manuel Antônio de (org.). ''A construção poética do real''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2004, p. 33.
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:(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poíesis, sujeito e metafísica". In: CASTRO, Manuel Antônio de (Org.). ''A construção poética do real''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2004, p. 33.

Edição de 01h28min de 13 de Setembro de 2009

1

"O destino se apropria como a clareira do ser, que é, enquanto clareira. É a clareira que outorga a proximidade do ser. Nessa proximidade, na clareira do Da lugar, mora o homem como ex-sistente, sem que ele já possa hoje experimentar e assumir esse morar" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Carta sobre o humanismo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 61.


Ver também:


2

Heidegger dedica uma atenção profunda e ampla à questão da verdade, pois é nela que se decide e constrói o projeto do pensamento metafísico ocidental. Porém, Heidegger se centraliza na palavra grega alétheia, traduzida normalmente como verdade. O pensador prefere traduzi-la por desvelamento. Desvelamento é, inicialmente, o ón vindo à sua presença. Porém, se ficasse só no desvelamento ainda estaria se limitando à predominância do pensamento metafísico, que se constrói em cima da presença e da luz, sintetizado na questão motriz para Platão: Eîdos, que originou a palavra portuguesa ideia. Não podemos esquecer que para os gregos a grande e permanente questão é o permanecer. Então, Heidegger vai refletir sobre a possibilidade do ón aparecer como o que aparecendo se faz presente. E assim surge a questão da clareira. Ela não foi pensada pela filosofia e, por isso, quando a filosofia chega ao fim e é substituída pela ciência, a questão da clareira passa a ser a questão da filosofia. Mas aí a filosofia se torna um questionar enquanto pensar. E a questão não é mais simplesmente o ón enquanto o que se faz presente, mas a clareira, ou seja, o livre aberto. Como possibilidade de aparecimento, a presença do ón, ou seja, da clareira, como o lugar tanto do desvelar como do velar. Diz Heidegger: "o claro, no sentido do livre aberto, não possui nada de comum, nem sob o ponto de vista linguístico, nem no atinente à coisa que é expressa com o adjetivo 'luminoso', que significa 'claro'" (1).


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "O fim da filosofia e a tarefa do pensamento". In: Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 79.


Ver também:


3

"Porque na clareira e só na clareira a luz da visão pode aparecer como luz e como visão. A luz não é a clareira. Pressupõe-na. Na clareira não há só luz, há também sombras. O raio que risca brilhando só o pode fazer porque brilha no aberto livre da clareira. Não vemos a partir da visão, vemos com a visão a partir do aberto livre da clareira" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poíesis, sujeito e metafísica". In: CASTRO, Manuel Antônio de (Org.). A construção poética do real. Rio de Janeiro: 7Letras, 2004, p. 33.
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