Clareira

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:"Descobrindo o [[sublime]] no trivial, o invisível sob o tangível - ela própria toda desarmada como se tivesse naquele momento sabido que sua capacidade de [[descobrimento|descobrir]] os segredos da vida natural ainda estivesse intacta. E desarmada também pela leve [[angústia]] que lhe veio ao sentir que podia descobrir outros segredos, talvez um mortal. Mas sabia que era ambiciosa: desprezaria o sucesso fácil e quereria, mesmo com medo, subir cada vez mais alto ou descer cada vez mais baixo" (1).  
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:"O [[destino]] se apropria como a clareira do ser, que é, enquanto clareira. É a clareira que outorga a [[proximidade]] do ser. Nessa proximidade, na clareira do 'Da' [[[lugar]]], mora o homem como ex-sistente, sem que ele já possa hoje experimentar e assumir esse morar" (1).  
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:(1) LISPECTOR, Clarice. ''Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres''. 4. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974, p. 73.
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:(1) HEIDEGGER, Martin. ''Carta sobre o humanismo''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 61.
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:"O destino se apropria como a clareira do ser, que é, enquanto clareira. É a clareira que outorga a proximidade do ser. Nessa proximidade, na clareira do "Da" (lugar), mora o homem como  ex-sistente, sem que ele já possa hoje experimentar e assumir esse morar".
 
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:*[[Dar-se]]
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:HEIDEGGER, Martin. ''Carta sobre o humanismo''. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1967, p. 61.
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:Heidegger dedica uma atenção profunda e ampla à questão da [[verdade]], pois é nela que se decide e constrói o projeto do pensamento metafísico ocidental. Porém, Heidegger se centraliza na palavra grega ''alétheia'', traduzida normalmente como verdade. O pensador prefere traduzi-la por [[desvelamento]]. Desvelamento é, inicialmente, o ''ón'' vindo à sua presença. Porém, se ficasse só no desvelamento ainda estaria se limitando à predominância do pensamento metafísico, que se constrói em cima da [[presença]] e da [[luz]], sintetizado na questão motriz para Platão: ''eídos'', que originou a palavra portuguesa ideia. Não podemos esquecer que para os gregos a grande e permanente questão é o [[permanência|permanecer]]. Então, Heidegger vai refletir sobre a possibilidade do ''ón'' aparecer como o que aparecendo se faz presente. E assim surge a questão da clareira. Ela não foi pensada pela filosofia e, por isso, quando a filosofia chega ao fim e é substituída pela ciência, a questão da clareira passa a ser a questão da filosofia. Mas a filosofia se torna um questionar enquanto pensar. E a questão não é mais simplesmente o ''ón'' enquanto o que se faz presente, mas a clareira, ou seja, o livre [[abertura|aberto]]. Como possibilidade de aparecimento, a presença do ''ón'', ou seja, da clareira, como o lugar tanto do desvelar como do velar. Diz Heidegger: "o claro, no sentido do livre aberto, não possui nada de comum, nem sob o ponto de vista linguístico, nem no atinente à coisa que é expressa com o adjetivo 'luminoso', que significa 'claro'" (1).  
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:Martin Heidegger trata da CLAREIRA, acentuando a dupla ocultação, a dupla reserva.
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:Referências:
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:HEIDEGGER, Martin. O fim da filosofia e a tarefa do pensamento. In: Os pensadores. Martin Heidegger. S. Paulo, Abril Cultural, 1979. 
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:__________. A origem da obra de arte. Tradução de Manuel Antônio de Castro e Idalina Azevedo da Silva. Acessível para consulta estritamente acadêmica em: www.travessiapoetica.blogspot.com, §§ 104-112.
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:__________. Os pensadores. Os pré-socráticos. A sentença de Anaximandro. São Paulo, Abril Cultural, 1978, p.32-33.
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:LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Saussure e Holderlin" in: Aprendendo a pensar I. Petrópolis, Vozes, 1977.
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:Heidegger dedica uma atenção profunda e ampla à questão da [[verdade]], pois é nela que se decide e constrói o projeto do pensamento metafísico ocidental. Porém, Heidegger se centraliza na palavra grega alétheia. Traduzida normalmente como verdade. O pensador prefere traduzi-la por [[desvelamento]]. Este é, inicialmente, o ''on'' vindo à sua presença. Porém, se ficasse só no desvelamento ainda estaria se limitando à predominância do pensamento metafísico, que se constrói em cima da presença e da luz, sintetizado na questão motriz para Platão: ''eidos'', que origonou a palavra portuguesa ideia. Não podemos esquecer que para os gregos a grande e permanente questão é o permanecer. Então Heidegger vai refletir sobre a possibilidade do ''on'' aparecer como o que aparecendo se faz presente. E é então que surge a questão da clareira. Esta não foi pensada pela filosofia e, por isso, quando a filosofia chega ao fim e é substituída pela ciência, a questão da clareira passa a ser a questão da filosofia. Mas então, enquanto a questão do pensamento que é, a filosofia se torna um questionar enquanto pensar. E a questão não é mais simplesmente o ''on'' enquanto o que se faz presente, mas a clareira, ou seja, o livre aberto. Como possibilidade de aparecimento, a presença do ''on'', ou seja, da clareira, como o lugar tanto do desvelar como do velar. Diz Heidegger: "o claro, no sentido do livre aberto, não possui nada de comum, nem sob o ponto de vista lingüístico, nem no atinente à coisa que é expressa com o adjetivo "luminoso", que significa "claro" ". (1) O núcleo central do ensaio é a questão da clareira.
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:(1) HEIDEGGER, Martin. "O fim da filosofia e a tarefa do pensamento". In: ''Os pensadores''. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 79.
:(1) HEIDEGGER, Martin. "O fim da filosofia e a tarefa do pensamento". In: ''Os pensadores''. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 79.
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:"Porque na clareira e só na clareira a luz da visão pode aparecer como luz e como visão. A luz não é a clareira. Pressupõe-na. Na clareira não há só luz, há também sombras. O raio que risca brilhando só o pode fazer porque brilha no aberto livre da clareira. Não vemos a partir da visão, vemos com a visão a partir do aberto livre da clareira" (1).
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:"Porque na clareira e só na clareira a [[luz]] da [[visão]] pode aparecer como luz e como visão. A luz não é a clareira. Pressupõe-na. Na clareira não há só luz, há também [[sombra|sombras]]. O raio que risca brilhando só o pode fazer porque brilha no aberto livre da clareira. Não vemos a partir da visão, vemos com a visão a partir do aberto [[liberdade|livre]] da clareira" (1).
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:Referência
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:(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Poiesis, sujeito e metafísica”. In: --- (org). ''A construção poética do real''. Rio de Janeiro: 7letras, 2004, p. 33.
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:(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poíesis, sujeito e metafísica". In: CASTRO, Manuel Antônio de (org.). ''A construção poética do real''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2004, p. 33.

Edição de 22h52min de 29 de março de 2009

1

"O destino se apropria como a clareira do ser, que é, enquanto clareira. É a clareira que outorga a proximidade do ser. Nessa proximidade, na clareira do 'Da' [[[lugar]]], mora o homem como ex-sistente, sem que ele já possa hoje experimentar e assumir esse morar" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Carta sobre o humanismo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 61.


Ver também:


2

Heidegger dedica uma atenção profunda e ampla à questão da verdade, pois é nela que se decide e constrói o projeto do pensamento metafísico ocidental. Porém, Heidegger se centraliza na palavra grega alétheia, traduzida normalmente como verdade. O pensador prefere traduzi-la por desvelamento. Desvelamento é, inicialmente, o ón vindo à sua presença. Porém, se ficasse só no desvelamento ainda estaria se limitando à predominância do pensamento metafísico, que se constrói em cima da presença e da luz, sintetizado na questão motriz para Platão: eídos, que originou a palavra portuguesa ideia. Não podemos esquecer que para os gregos a grande e permanente questão é o permanecer. Então, Heidegger vai refletir sobre a possibilidade do ón aparecer como o que aparecendo se faz presente. E assim surge a questão da clareira. Ela não foi pensada pela filosofia e, por isso, quando a filosofia chega ao fim e é substituída pela ciência, a questão da clareira passa a ser a questão da filosofia. Mas aí a filosofia se torna um questionar enquanto pensar. E a questão não é mais simplesmente o ón enquanto o que se faz presente, mas a clareira, ou seja, o livre aberto. Como possibilidade de aparecimento, a presença do ón, ou seja, da clareira, como o lugar tanto do desvelar como do velar. Diz Heidegger: "o claro, no sentido do livre aberto, não possui nada de comum, nem sob o ponto de vista linguístico, nem no atinente à coisa que é expressa com o adjetivo 'luminoso', que significa 'claro'" (1).


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "O fim da filosofia e a tarefa do pensamento". In: Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 79.


5

"Porque na clareira e só na clareira a luz da visão pode aparecer como luz e como visão. A luz não é a clareira. Pressupõe-na. Na clareira não há só luz, há também sombras. O raio que risca brilhando só o pode fazer porque brilha no aberto livre da clareira. Não vemos a partir da visão, vemos com a visão a partir do aberto livre da clareira" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poíesis, sujeito e metafísica". In: CASTRO, Manuel Antônio de (org.). A construção poética do real. Rio de Janeiro: 7Letras, 2004, p. 33.